#FLOR NO LÁCIO DE PRONÚNCIA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA


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Homenagem Póstuma:
Ao querido, amado, inestimável, saudoso Amigo, Antônio Nilzo Duarte(Izabel Cristina Souza Duarte Duarte), a saudade de quando me sentava num barzinho da Afonso Pena, frente à Papelaria Duarte, após entregar-lhe em mão mais uma edição de meu RAZÃO-INVERSA - SUPLEMENTO-CADERNO LITERÁRIO-FILOSÓFICO", lembrando de nosso encontro, tomando uma cerveja.
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Epígrafe:
"... Na língua vem,
De longe, sozinho, experiente...
O sabor das palavras... erosão do tempo em silêncio,
Irrealidade do real..."
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Tabacaria de pensamentos solitários que id-ent-ificam
Desejos e vontades saciarem a sede de poesia
Por que tabacaria lembra a apoteose do nada sou, nada ser
Brilhando a arte de encantar, apesar das contingências,
Embora as náuseas do presente,
Havendo esperanças de prismas outros,
Ângulos inusitados de senti-la plena?
Tabacaria do Juvenal...
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Passaram-se as gerações de elucubrar os sóis a brilharem
Nos recantos re-cônditos das ilusões, fantasias,
Sombras nas calçadas a levarem ruas a fora
Dúvidas, incertezas, questionamentos do sentido de existir,
Nos becos de esquinas, na escuridão do lugar,
Alcoólatras cambaleiam, retornando à casa,
"Hasta à la vista, companheiros."
Passaram-se as épocas de delinear
As querenças da consciência
Em proclamar as condutas e posturas da virtude,
Valores éticos escafederam-se,
Imagens que a a-nunciavam
Perderam-se no infinito das águas,
As ondas diminuíram-se,
Leves esparramam-se na praia.
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Só ao longo da orla marítima é-se possível
A eternidade dos instantes-limites.
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Solenes indícios de pormenores,
Inda que esparsos, ad-versos
De sentimentos
Cujos silêncios re-fletem a alma livre,
Serenas alegrias, suaves felicidades,
Ou, diria melhor,
Re-velam outras dimensões de olhar as coisas do mundo
Sem indagar-lhes, perquirir-lhes, mister saber-lhes,
O que inspiram a deixar-me à vontade, simplesmente
Vendo paisagem,
Perscrutando panoramas, horizontes,
Sobretudo ao anoitecer à beira-mar,
Clima ameno, pós chuva
Vespertina, nada mais confortável, sensações fluem,
Idéias frescas jorram soltas,
Quase nem havendo tempo de verbalizá-las,
O que desperta
Dispersão, alheamento, pés nas nuvens brancas,
Copo de Gilbey´s sobre a mesa na calçada,
Ao lado da Papelaria Duarte,
Outrora era uma loja de aviamentos para costura,
O proprietário, Tomazinho Duarte, como era chamado,
Era alfaiate,
Observando a rua, transeuntes,
Sobretudo estudantes retornando ao lar,
Quantos passos na calçada que palmilham,
Quantas coisas no tempo acumuladas,
Noite inteira anuncia-se à frente,
Tabacaria do Juvenal.
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"A noite não proíbe nossos
Olhos de enxergarem o mundo
Enlutado pela escuridão,
De vermos a lua e as estrelas no céu,
Seja de qualquer lugar onde nos encontramos",
"Apesar de ser noite,
O céu está com uma tonalidade de um
Azul celeste sobrenatural,
Possibilitando-nos destacá-la
Como o belo satélite natural da terra..."
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Contudo... Amaria voluptuosamente curtir este instante,
Inda me não é dado fazê-lo, quiçá por "curtir" ser termo vulgar
Frente ao sentido que a pós-modernidade atribui-lhe
Vem-me a necessidade manifesta de re-fletir o que me traz
À solidão para a vida, alfim esta abre-lhe os braços,
Símbolo, signo de acolhimento, é-lhe sêmen para as utopias,
Momento de transformações
Sinto, inda que distante, a presença não de alegrias breves
Que se esvaecem de imediato, mas se alongam infinitivamente
Re-novando-se, inovando-se, a liberdade íntima aflora-se
Na floração dos desejos, sonhos da verdade,
Isto queria com volúpias, mister esperar
Sem exigências e tensões acontecer,
Agora é vivenciá-la na quotidianidade das coisas,
Situações e circunstâncias, devorá-la com êxtase, saboreá-la.
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Templos de verbos defectivos a regenciarem conjugações
Que fluem intuições e percepções,
“A reflexão é o drama do ser que
Não pode ser objeto para si mesmo",
De sensibilizar as emoções que criam, inventam
Sonhos que despertam conhecimentos outros,
De loucuras de uma paixão por gerenciar
Passos e trilhas para a metafísica do efêmero,
Exegese do Perpétuo,
Aventura do tempo
A reverberar medos e indefinições,
Da fronteira que se abre ao finito...
A vida é arte.
Arte que reflecte muito sobre a própria arte.
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Nada resta senão vislumbrar os vazios da alma,
Silêncios que emanam sons a repercutirem ritmos, melodias,
"O enlace permeado de ternura, paixão,
Amor, sorrisos, compreensão,
Diálogo, alegria, saudades,
Recordações e inspirações inimagináveis",
A Esperança do Reencontro,
A busca de quem somos - resgatar da memória a espiritualidade do Nós
Na distância do nós - vida de realismo
Amar a ausência deixa refletivo, introspectivo,
Circunspecto o coração,
Tornando real os sonhos o "eu" e o "tu" delinearam,
Ventos fortes passando rumo aos
Corcovados perdidos alhures,
Alhures dos panoramas carentes
De silhuetas do eterno...
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Passaram-se as fissuras, ansiedades, desesperos
De a eternidade ser a presença lídima e incólume
Dos tristes trópicos, das palavras e coisas,
Dos milagres e heresias,
De preencher as esperanças deixadas, largadas ao léu
De pretéritas e subjuntivas insolências, rebeldias...
Olhos são profundos,
Na língua vem,
De longe, sozinho, experiente...
O sabor das palavras... erosão do tempo em silêncio,
Irrealidade do real...
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Sinto muito, tempo de re-considerar as visões
Com os linces dos instintos enamorados
Das carícias intelectuais, gnósticas,
Quiça re-vertendo as in-versões do logus e gnoses,
Risível, cômico, beirando as raias da loucura, alucinação,
Poetas, escritores e filósofos vangloriam-se por rezarem
Na cartilha do senso e saúde mental,
Re-colhem-se as dimensões sensíveis,
Resta o nada vazio de sonhos,
Resta a travessia sem ponte das utopias,
Talvez ad-versando as versões múltiplas da vida e morte,
Seria que não fosse essa multiplicidade de versões
Que sacode os instantes dúbios, momentos ambíguos
Como numa peneira?
Pós de duas realidades aluem sobre as pés...
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... A solidão se agiganta dentro de mim, o meu interior
Sente a ausência do presente indicativo dos verbos
Que descrevem,
Inscrevem a sede de cascatas
De águas geladas,
- quem imaginaria isto do Verbo, esta perspicácia?
Negligenciam o Verbo, difamam a conjugação poética
A regência estética!... -,
Metáforas assessorando as palavras
Com significados perenes,
Até parece que as linguísticas, semânticas exilaram-se
Das poesias que encantavam falências, lapsos de sentimentos
Eivados de amor, entrega doação,
Agora só gerenciando manque-d´êtres e forclusions,
A vida-nada existe, nada existe a vida,
Além do bem e do mal,
Aquém das considerações intempestivas,
Metafísicas vazias da luz e contra-luz
Linguagens e estilos alucinando imagens com fluxos
Inconscientes das divinas comédias da História
E das Dialécticas, e nada mais resta senão
A língua inerte, nenhuma flor no seu lácio de pronúncia...
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Ah, solenes indícios de pormenores
Deste momento de lazer,
Sentado de por baixo de uma palmeira,
Popeyanos banhando-se nas águas do mar, deitados na areia,
Pondo os assuntos em dia,
Vento suave, sol de tostar o corpo, legando-lhe um bronzeado,
Buscando reter o que se me anuncia
N´alma que possa ser compreensão e entendimento
De ausência que ilumina sonhos de sóis
Que aquecem
O vazio-nada das perquirições perenes do tempo...
Tecendo de recordações felizes,
Cáritas da Existência, Volos da Espiritualidade,
Observo a avenida ao longe, através do calçadão da praia
Pulsa o coração...
Saudades imensas!... Os caminhos são longos...
Cumpre realizá-los!...
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A saudade também acende as achas da lareira!
#riodejaneiro, 24 de fevereiro de 2020#

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