#RUA ACESSÍVEL# GRAÇA FONTIS: PINTURA Cairus Dantas: PROSA SATÍRICA



Rua acessível aos pensamentos. Irreal?
Possivelmente irreal? Há mistérios, sim, de por baixo das pedras e dos seres, e acima também, nas cafuas e picos, mistérios nas ad-jacências do in-finito, mistérios à soleira da eternidade, nas bordas do espaço e do buraco negro.
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Há vida e a possibilidade de tentar na estrada de quase tudo – certeira apenas a morte. As certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências. Sinto-me no mundo, no meio dos homens, escravo das ideologias e interesses espúrios da modernidade, cercado de coisas e objetos, e nenhuma despedida.
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Não antecipo... Nem desejo antecipar. Que resultados desejaria obter com a antecipação? Que benefícios teria vontade de adquirir com ela? De que adiantaria antecipar?
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Quando for o último minuto, será o último até seu fim...
Não rangem ossos, embora nem tudo seja fácil, tudo exige esforço, tudo exige esperança, tudo exige fé, tudo exige as mãos para construir, edificar..., enfim tudo exige o “espírito da vida”. Mas é belo, esplendoroso, magnífico. Também estou perplexo, olhando as montanhas ao longe, mas inteiro à lealdade e fidelidade que devo à floricultura na bifurcação de Afonso Pena e Bahia, e ao quintal que em mim dentro trago, nos interstícios de minha alma, nas pré-fundas de meu espírito.
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Não, não preciso do gênio maligno para acreditar que nem tudo seja sonho, utopia; crença(?) alguma, e não creio que falhei em tudo, não me entreguei a tudo, tive medos e hesitações, e não me dei mal nisto, se me dei bem, não o sei.
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Tenho propósitos, tenho pro-jetos, ainda que não fixos, manejáveis com o tempo. Levo a aprendizagem que me dera, o que aprendi ao longo das eks-periências, dos passos nos caminhos do campo, com sacudidelas buscando aprimorar as esperanças. Minha visão se tornará clara somente quando olhar para dentro do meu coração. QUEM OLHA PARA FORA, SONHA. Quem olha para dentro, desperta.
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Tenho procurado por mim, por quem fui, por quem sou e serei, sem nenhuma ousadia em fazer pré-visões. Gênio, nem pensar... Feliz demais para sê-lo. Nem é mister a História marque o registro de mim. Nem é mister alguém, amigo ou íntimo, guarde lembranças de mim em sua memória, estarei pré-enchendo lugar que poderia ser ocupado por coisas muito mais importantes. Deixem-me descansar dos desejos de Vida que sonhei.
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Descubro os verbos que conjugo em movimento e re-conheço a ação “pré-determinando” sentir (ainda que a distinção tenha se perdido) algo.
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Não costumo fazer arte já que assumo a dialética da imaginação e do real, a contradição do belo e da paixão, o re-verso do silêncio e do verbo, o in-verso da solidão e dos ventos, as re-vezes e antemãos do nada e da com-pletude.
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A forma se re-torce,
Con-torce, re-versa e in-versa na disputa entre espaço e conteúdo. Falta, pois, alguma liberdade.
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Também eu não posso dizer de mim mesmo, para não incorrer em pecado, justamente à “hora do galo”. Busco alguma coisa que não distingo bem das que só a-lumbro, des-lumbro, vis-lumbro, tornando ingrata a diferença entre o possível e o provável ou, ainda, entre o sonho e o pensamento. Afora os olhos fechados, ouço a música romântica que continua tocando ad-vinda de algum lugar distante, continuo sentindo bem profundo a vida, rondo e desejo muito. Re-velaria os segredos mais intrínsecos por uma rosa branca e uma xícara de chá da índia para esquentar-me a alma.
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Tenho espírito de fé que vai e volta... Rezo sem medo e, ás vezes, propósito algum... Puro hábito de homem. Sonhei hoje que estava cavoucando a terra e bati a enxada nalguma coisa, quando fui olhar de que se tratava era uma imagem de Charles Chaplin, estava muito suja, comecei de limpá-la, rindo de alegria e prazer, e Ele também ria, caíram umas correntinhas que trazia no pescoço, apanhei-as e coloquei-as no pescoço d´Ele. A única coisa de que me lembra no sonho. Mas, as visitas que faço aos Livros confundem, embaralham as vistas.
#riodejaneiro, 23 de fevereiro de 2020#

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