ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO Manoel Ferreira Neto ANALISA O POEMA "FÊMEA DAS TREVAS", DA ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA Ana Júlia Machado




Com esta Consciência das coisas da vida e do mundo considerar-se, reconhecer-se "Fêmea das Trevas"? Mas é justamente esta Consciência que mostra a nu as situações e circunstâncias da contingência, sem devaneios, sem desvarios, sem medo, justificativas. É o olho que olha as trevas. Após toda a mostragem das imanências, condições e condutas humanas, este olhar vislumbra a querença, e este olhar vê-se alucinado por realizar as esperanças, sonhos, utopias. Reconheço neste poema, amiga, ilustre poetisa e escritora, a presença de André Maulraux, isto é, a revolta contra o destino, mas é na cultura, no intelecto que o homem se satisfaz. O olho enxerga as trevas, as coisas do destino, as angústias e tristezas, a cultura realiza a visão da razão de viver. Diante de outras obras de Ana Júlia Machado, esta FÊMEA DAS TREVAS atinge, alcança o mais profundo do abismo, arrancando de lá o Homem em todas as dimensões da existência, e percebe-se inda mais a presença de Maulraux, ser mister toda uma vida de dores e sofrimentos para "fazer o homem", para Maulraux são necessários 60 anos para fazer o homem e não nove meses. Não nos esqueçamos de que a pena de Ana Júlia Machado regista A Vida, ela como o Ser ama, adora, aprecia brincar de abismo, e é nesta brincadeira que a escritora vai tecendo com primor, engenhosidade, sabedoria o que é isto - o homem, cursando todos os caminhos, assim ela se torna não a "copista" do que está aí, do mundo e de suas conjecturas, as banalidades literárias e poéticas que assolaram As Artes da Palavra, torna-se ela rival, rival que nada perdoa, justifica, rival que enfia a faca sem piedade. Leitores des-avisados, cegos, alienados podem ler na obra desta ilustre artífice das letras um arsenal, um acervo de dores e sofrimentos, mas é a luz da esperança, dos sonhos, das utopias, e é assim que ela desperta, acorda, capacita os homens a criarem seus destinos próprios. É uma escritora para todos e para ninguém.
Beijos nossos daqui de Iguaba Grande - onde estamos para umas fériazinhas - a você e à nossa amada netinha Aninha Ricardo.
Manoel Ferreira Neto
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FÊMEA DAS TREVAS
Sou fêmea das trevas
Por isso, você não me enxerga
Escasso interessa se resido a amargar
Ou se essa constrição encaminha-me intenção de fenecer
Sou a fêmea das trevas que você não contempla
Na comba das trevas, enfraquecida,
Angustiada e achincalhada, eu curso
Com meus desacertos, com meus libertinos encarniçamentos
E, como majestade dos insensatos, meu diadema de acúleos
Perfilho pungindo e flagelada
Com uma criatura esconjurada
Entrementes, eu sou o desengano, e amargo em infrutífero
Enfim, para os distintos sou as trevas
Padeço, infeliz e em aflição
Se descobre minha alma
Sou arremessada ao ducto coarcto entre serranias
No interior da substância já não embuto-me
E o fenecimento recusa – me seu ósculo
Sou a acinzentada recordação de um anseio
Olvidada pelos omnipotentes e pelos belzebus
Rastejo-me por esse chão inconsolável
Meus devaneios imolados, decepados
em meu espírito destruído
Sou a fêmea das trevas e você não contempla
Que resido amargando
As sílicas da idade pelas minhas garras encontram-se gotejando
Aos parcos encontro-me perecendo
Mas, como sou a fêmea das trevas,
você não encontra-se enxergando
Nesse caso, simples casualidade, porque porfiar
Em sofrer essa perniciosa mágoa
Seria a expectativa idealizada e danosa
Como a alucinação de ainda ser redimida pela querença…
Ana Júlia Machado
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#IGUABA GRANDE(RJ), 05 de fevereiro de 2020#

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