ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO Manoel Ferreira Neto ANALISA O POEMA VERBOS NÃO MENCIONADOS" DE Ana Júlia Machado




Numa análise ao poema "COMPRAZER-ME EM VERSOS", referi-me que, para Ana Júlia Machado, são inúmeros os Verbos a serem tecidos para a Expressão das Contingências do Existir.
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Neste poema VERBOS NÃO MENCIONADOS, o primeiro verso é a chave de ouro para a busca de compreensão e entendimento da dramatização do Verbo: "Possuem erudição para onde vão os verbos não mencionados?" Se tomarmos em consideração o "Verbo" como palavra temporal por excelência, o que em alemão é "Zeitwort", encontramos aí a idéia de ação. Tempo e Verbo se informam mutuamente. A ação divide o espaço e cria o tempo. Compreender o Verbo é compreender a conquista do espaço e a fixação do Tempo. A ação traz no alforje carga dramática, como dizem-nos os versos seguintes "... o que não pronunciamos armazena-se no físico, atesta/O espírito de bramidos silenciosos./ O que não enunciámos/Converte-se em espertina, em sofrimento de faringe./O que não verbalizamos converte-se em melancolia/
Em instante desacertado em sumiço de idade./O que não pronunciamos converte-se em incumbência,/Em perplexidade, em débito, em subscrição suspensa./ - que pode ser esclarecida quando localizado o agente descritivo do mov-imento. Compreender o Verbo é tentar des-vendar os predicados dramáticos do sujeito. É estabelecer os roteiros de seus avanços, a imagem de sua inquietude. A inquietude neste poema, inclusive localizado no último verso é que o que não verbalizamos não fenece. Ceifa-nos" O Verbo não é apenas o movimento da coisa ou do sujeito, mas é, muita vez, o próprio sujeito, à medida que o nome se revele como um verbo transmudado, é uma questão de metamorfose, isto é, do não fenecer ao ceifar.
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Mister, conforme o pensamento da escritora, poetisa e crítica literária, Ana Júlia Machado, fazer-se movimento e multiplicar-se em vários planos descritivos da realidade. Neste sentido, quando perquire para onde vão os verbos não mencionados, traz à baila a dramatização do verbo que é o esforço do Ser por abranger todas as suas potencialidades existenciais. Ao mencionar na análise ao poema "COMPRAZER-ME EM VERSOS", dissera que, para mim, o Verbo habita o Ser, Verbo-Uno, enquanto que para Ana Júlia Machado são inúmeros os verbos a habitarem o Ser, sendo sine qua non des-cobri-los, des-envelá-los, isto porque é sonhado abranger as potencialidades existenciais. Sendo esta obra poética a verbalização a partir da não-verbalização dos verbos não mencionados, a verbalização do drama espaciotemporal, o trajeto do "físico" ao "espírito de bramidos silenciosos", há-de se destacar a "subscrição suspensa", a melancolia, a plangência, o malogro. A poetisa surge, apresenta-se como dramatis persona: é espectadora e autora: "Nós prezaríamos que os verbos não ditos/Permanecem no auscultado..." Faz-se presente, enlaçada pelo destino, do fundo do efêmero à luz do eterno, "... aonde vai aquilo que não se faculta experimentar", o sentido do Ser é o Tempo, mas o Tempo não é uma cornucópia de dádivas, mas o Verbo é o esforço por abranger as potencialidades existenciais. A porta disponível para este abrangimento se torna uma porta simplesmente existente. Só com a transformação do disponível em presente, as coisas se tornam objetos no sentido estrito, verbalizar e não proferir.
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Beijos nossos, Aninha Júlia, a você e à nossa amada netinha Aninha Ricardo
Manoel Ferreira Neto
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VERBOS NÃO MENCIONADOS
Possuem erudição para onde vão os verbos não mencionados?
Aonde caminha o que pretendemos causar e não concebemos?
Aonde vai aquilo que pretendemos verbalizar e não proferimos?
Aonde vai aquilo que você não faculta-se experimentar?
Nós prezaríamos que os verbos não ditos
permanecessem no auscultado,
Mas o que não pronunciamos armazena-se no físico, atesta
O espírito de bramidos silenciosos. O que não enunciámos
Converte-se em espertina, em sofrimento de faringe.
O que não verbalizamos converte-se em melancolia
Em instante desacertado em sumiço de idade.
O que não pronunciamos converte-se em incumbência,
Em perplexidade, em débito, em subscrição suspensa.
Os verbos que não verbalizamos
convertem-se em descontentamento,
Em plangência, em malogro.
O que não verbalizamos não fenece. Ceifa-nos
Ana Júlia Machado
#riodejaneiro, 10 de fevereiro de 2020#

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