#ODE ÀS ÁGUAS BAIXAS DO SONO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Fesmone: ODE



O melhor da liberdade por vir e os bons tempos ainda não terminaram.
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Revolvo-me inquieto
e perspicaz,
como se intencionasse
uma posição para viver,
se propulsasse em mim
Um estilo de dormir,
Linguagem de dormitar,
Poesia de ressonar,
Versos de sonhar.
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Viagem iniciática,
Entrelaçando fim e começo,
Fazendo da inteligência que liga a inspiradora que revela a saída e permite fugir ao inexplicável. Os sonhos que povoam os sono advêm do circuito básico e mágico do mito. Valorizando o caráter cíclico das imagens, domino o tempo pela estrutura musical, pela coincidentia oppositorum, percorrendo o tempo tanto para trás como para frente. Obrigado a encarnar a adequação que me falta pelo jogo das redundâncias, recorrências.
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É preciso viver à deriva em plena consciência, devaneando as fantasias, imaginações, ilusões. É preciso ser consciente pervagando no tempo que se esplende infinitamente. Em direção à morte ou à vida? Avançar para a morte é viver ainda; a morte, supremo enigma, procurando reduzir a parte des-conhecida de meu destino, o in-audito do ser que me habita, mistérios, enigmas de minha condição humana.
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Antes dos Beatles e ontem,
Antes de Henri Fonda e anteontem,
Antes de Van Gogh e séculos atrás,
Antes de Gregório de Matos e o Anticristo.
Ontem de vinho, ontem de flores,
Envelhecendo no tempo,
Des-abrochando no vento,
Quando o homem não podia inda
Sussurrar palavras de sabedoria,
Ritmos e melodias da liberdade
E os bons tempos realmente acabaram?
Percorro as alamedas blues do tempo e do ser,
Dos verbos e ventos,
Asas de prata...
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Talvez possa des-lizar nas águas baixas do sono onde os fantasmas acabariam por afogarem-se. Imagino a performance desta cena, os gestos evidentemente atabalhoados, sem quaisquer estruturas com os gritos de socorro, ninguém, nada podendo algo fazer, são fantasmas. Detesto encontrar-me com essas estratificações do ser que são as lembranças, recordações. Desejaria esgotar toda a sensação no mesmo instante para que não tivesse a mínima oportunidade de voltarem a surgir.
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Tenho profundo amor e ad-miração pelo perfume e pela flor. A flor tem pétalas lindíssimas, um caule forte, dona da raiz. O cheiro, o melhor sentido, exala, sublime, o doce perfume da compaixão e da solidariedade entre os homens. Nasci num hospital cercado de rosas brancas e amarelas no jardim, córrego de águas brilhantes, a Irmã Superior convidou o pároco para saudar a minha chegada ao mundo, isto por haver ela sentido não ser anormal eu, não abraçaria a loucura, mas estaria entre a quimera e sandice. Pergunto a mim onde nascerão as flores, frutos e, sem resposta, dou um trago no cigarro, expelindo a fumaça levemente, onde se ouve o silêncio e o sibilo de vento, escrevo, faço sonhos na condição de semente, de germe, teço esperança na condição de raios do sol a numinarem os caminhos de trevas.
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Rumina a voz esganiçada
da falsidade,
da farsa.
Declama com voz afinada
A lírica da musiqueta
da simulação,
da mentira.
Entreabre-se a emoção mascarada
da superficialidade.
Ilumina a escuridão mais profunda
nos olhos do requinte.
Refestela o sentimento mentiroso
nas bordas das palavras
em gozo, em clímax.
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Adultera a verdade
no simples toque dos olhos.
Morre a esperança,
anula-se a felicidade;
rui a paz,
elimina-se a alegria;
resvala o consentimento,
angustia-se o bem-estar.
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O riso nunca dirá adeus, se o disser os sonhos hão de estrangular as volúpias inebriando a consciência, as utopias hão de esganar os êxtases seduzindo as vontades do eterno. Conjugar viver no infinito da primeira pessoa.
Talvez o nada podendo ser tudo e o tudo jamais será nada,
Jamais serei o senhor que espairece as idéias,
Refestela-se na rede da varanda,
Observando os miquinhos nos fios de alta tensão
Nas árvores do Bosque das Estrelas.
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Seria um nunca acabar o dobrar do destino às avessas, o tergiversar das situações, eventos preliminares e apocalípticos. As Parcas são mito simplificador. Atalham até onde? Será possível, vivendo, não o sentirmos correr através de nós, não nos sentirmos suspensos nele. Alguns tentam-no. Procedem “como se o mundo tivesse principiado com eles, segregado por eles como a teia pela aranha”. Sem razão de censura esta atitude aos jovens. É a oportunidade que têm para avançar. Aos mais lúcidos pouco importa que saibam que a teia que tecem é frágil. Aos mais sábios nada importa que a teia seja apenas fruto da imaginação fértil ou desejo de sublimar o incompreensível. Continuam a estendê-la.
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Obtenha eu a cor-agem e a pers-picácia de des-crever o que me perpassa a alma, o que me traspassa os verbos do não-ser, a vida quem sou, o sou que a vida é-me, deixando-me, às vezes, ensimesmado e taciturno, em mim mesmado e sorumbático, circunspecto e sorriso esboçado no semblante, buscando algo em que possa apoiar-me, em que possa sentir-me seguro para o que há-de ser, desejando alguém com quem trilhar os passos, com quem entre-laçar a mão, sentindo haver mútuo sentimento de amor, mútua entrega de corpo, alma e espírito, sem que sucumba a mim, enfie-me por um buraco sem fim, e imediatamente deixo de ter necessidade desta cor-agem, deixo de ter necessidade do outro, amo a solidão, silêncio, a vida quem sou, o sou que a vida é-me.
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Que me importaria ter de andar aos encontrões pelos passeios, ou atravessar as ruas, patinando na lama, para me acautelar dos carros? Alegrar-me-ia a consciência de quem sou e represento alguém no mundo, sou cidadão do mundo. Sabendo que me seria possível construir os caminhos do campo, esburgaria voluptuosamente um osso de presunto.
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Entre um amadurecimento da forma de esclarecer
um sentido e um tornar sensível uma sensação,
o desequilíbrio,
a convivência,
a dor; amor.
Sente as formas transarem o estilo...
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Amor,
estou com sono!
Na nesga da cortina fechada,
Raios do sol, brilhando...
Tarde quente... Ventilador ligado...
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Reconheço o tempo, não como justificativa, explicação, mas tão somente porque intenciono ser conhecido de mim, de conhecer-me nos outros, a quem dedico amor, e mesmo pelo ideal de humanismo e humanidade, de transformação e metamorfose.
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É para poder mirar-me no seio
Que a alma protege nela a pureza.
Em situações passadas, vislumbro as presentes, busco síntese. Ã espera de um escrever altivo, sigo-me no mundo, única circunstância faz-me desligar de tudo.
Empreendo verdadeira Ode à Alma,
Conhecendo os labirintos.
No fundo, amo-a, sem a saber. Há muita verdade nisto.
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Estivera silencioso, nada há que me faça negligenciar a perfídia, esquecer a infâmia, menosprezar o apelo. Alimento-me, inda, de valores encontrados no céu límpido e nítido. Que me importa o que dizem a respeito de não sei que montanhas e serras que se seguem no meio do mar?
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Gélido des-lumbramento da explicação omissa. Não é de mim que as línguas são imperfeitas, para que o silêncio ek-sista, para que a semente dê luz ao fruto delicioso ou proibido. Não é por mim que as regências verbais iluminam as volúpias da metafísica. A morte em Veneza deu ao belo a con-templação da luz. Se os homens não entenderem palavras como serão as melodias do despertar?
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Tolero o silêncio que anseia a luz do sol. Tudo são ondas (e ondes), que levam e trazem o mar, na graça de quem é feliz. Tudo são ventos que espalham e levam para bem distantes os grãos de areia do deserto.
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Quero... a ciranda do abraço quente, do beijo, das mãos, dos olhos... (Ah! dos olhos) da palavra sensata na sua insensatez, do sentimento digno na sua indignidade, da emoção verdadeira em todas as suas in-verdades. Quero o perdão de mim próprio por estar em silêncio com desejos de compor ópera, por estar calado com desejos os mais voluptuosos de gritar palavras, sabidas ou mesmo criadas, conhecidas ou mesmo re-criadas, servindo de almofadas quando curtindo o olhar. Na imensidão do uni-verso trans-formo em verso o limite do poema que festeja no ritmo da vontade a sensação do Ser.
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Achas de in-fin-itivas quimeras
Crepitando-se na fogueira de gerúndios
do nada
de particípios do ser, da náusea
intrincado Pôquer em que as cartas são palavras
estilisticamente dimensionalizadas nos tempos,
abarcando infinitivos horizontes
onde os sentimentos emergem
das profundas e afloram o jogo abissal
e enigmático de sedução
entre o Ser conflitante
e a explicitação coerente
na verbalização do indizível Eu.
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A alma intros-pectiva sonda as bordas de suas experiências - lembranças e re-cordações de instantes de prazer,
ideais e utopias olvidados
por outras necessidades e urgências prioritárias,
sonhos e esperanças frustrados, fracassados,
fora esquecida a disponibilidade do tempo,
num átimo de segundo
impensado
tudo perdido, tudo deposto,
as bases da vida não foram cuidadas com percuciência,
a continuidade dos passos faz-se por inter-médio de dificuldades; faltas, dores e sofrimentos são consequências in-evitáveis...
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O que deveria acrescentar no concernente às descrições de acontecimentos da vida, às imagens e símbolos que empreendo ao longo de pensares, sentires, de reflexões que muito estão a surpreender-me, e até agora não sou capaz ainda de des-cobrir o que seja, não sei o que me impede de perceber?
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Creio que não sou homem tenso, como em algumas cositas minhas, busquei de estilo e modo identificar. Também não vou dizer que seja homem calmo, tranqüilo, o que não seria verdade.
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Quando o mundo decide virar vulgar e hipócrita, deixa-se dilacerar e engole o que há de fútil e faminto, saciar as fomes e sedes seculares e milenares. Prolongar-me deste modo é a escolha. Sinto o silêncio da noite, olhando a claridade da luz das estrelas, da lua.
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Indico as íntimas possibilidades. Não devolvo as coisas, não as modifico, se as quero não sei: de as esquecer seria o caso. Se busco des-vendar os acontecimentos, surge-me verificar a dúvida, de conhecer o sentido das atitudes, com o fundo do pensamento deparar-me. É no cérebro do homem que todo o esparso assume número. O que o indivíduo re-clama deixo impresso. Sinto algo dizendo: “Você irá conseguir saber a sua estranheza!...” O estranho é de outra ordem. Os frêmitos das ondas - iévski de docas e dosto de soleiras da montanha tocadas pelas águas, com as águas na alma, nada são senão quando recuperadas e enquanto os significados disso não fizerem harmonia. Outras coisas vão nascendo, surgindo no mundo. O enorme sentimento de carinho e afeição levam-me às alamedas tombadas no litoral, às veredas cobertas de neve em Londres, Lisboa, Paris, Moscou e mesmo em Pasárgada, Pitibiriba.
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É sobre este sensível espelho que a criação in-fletida se cobre e se comove. E, no silêncio, a esplêndida manhã afigura-se alargar em redor, mais suave e mais calma. O longínquo horizonte resplandece, finalmente recordado na luz, com dourados de sol, brilho de rio cristal, fundindo-se na névoa luminosa, onde as vertentes, em tons esverdeados, têm quase transparência, como feitas de substância nobre, como criadas de inspiração sublime.
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As imagens re-tornam a en-cenar frente aos olhos. Assisto ao processo através da intuição e percepção. Estou em outro lugar in-conectado desta missão, desta dimensão, que ora engole as ondas. Olhar mais simples são as emoções mais livres. Vislumbrar mais humilde é a fisionomia mais lúcida e transparente. A respiração menos densa e forte é o corpo mais desenvolto?
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Andar mesmo de adolescente na fase de suas grandes conquistas sentimentais e amorosas.
#riodejaneiro, 23 de fevereiro de 2020#

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