ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO Manoel Ferreira Neto ENSAIA O POEMA #COMPRAZER-ME EM VERSOS" DE Ana Júlia Machado




Num poema, sob quaisquer dimensões, há um verso que reverbera o EIDOS, por onde o poeta cursa, de-cursa as suas sendas dos sentimentos, emoções, ideais, utopias, res-ponde por todas as intenções ditas e interditas, desejos e vontades do Ser; por onde o poeta tece o íntimo de sua alma, mostrando o que lhe habita, dores e sofrimentos, angústias e náuseas, alegrias e prazeres. Neste poema da excelentíssima poetisa/escritora, Ana Júlia Machado, o EIDOS que encontro, que com maestria mostra o UNIVERSO de seu eu/poético, sonho poético do Ser: "Nos meus versos anseio ser enunciação/
No noctívago e na claridade que o astro-rei expede..." Versos que, à primeira vista, a sensibilidade, intuição, percepção florando livre para o tecimento das sendas da alma que pervaga pelo mundo dos ideais e esperanças, sugere ser imenso simples, custa apenas o registro da expressão. Ilusão de óptica - fora realizada leitura superficial. Esta expressão no mais inconscciente, o "noctívago", o que está envelado, escondido, guardado a sete chaves nos cofres subconscientes, a claridade, o conhecimento, o saber, a consciência da contingência em todas as suas dimensões reais, irreais, dores, sofrimentos - aí se apresentado a metáfora do "astro-rei", isto é, o quotidiano das coisas do mundo por inter-médio das situações e circunstâncias, seivadas de esperanças de superação e suprassunção, ansiar pela exposição do que vai além da condição humana.
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Então, diante desta mostragem das intenções da poetisa/escritora, por que a "expressão" não é tão simples, requer in-vestigação profunda? Se relemos o poema com a presença do Espírito da Existência, volos do Ser, vamos encontrar outro verso que dá o sinal da percuciência: a poetisa quer mesmo "Comprazer-me em verbos". Sendo assim, ser enunciação significa a expressão do "Verbo de Existir", há-de considerar que para Ana Júlia Machado, a Existência prescinde do Verbo, e é compromisso e responsabilidade do Homem tecer o Verbo de sua Existência, conjugar-lhe no tempo de suas perquirições, indagações do Ser, "Hospedar-se" ".... numa embarcação que mareia/No escrito de incalculáveis escritas/Que desnudas trajam-se de mim..." Aqui sendo imprescindível lembrar Sócrates, "Conheça-te a ti mesmo...", ter a cor-agem da expressão do que reside no fundo da Alma, no mais inconsciente dela, trazer à superfície o saber, a sabedoria. Creio sim, a poetisa há-de endossar, que se inspirou na minha obra, o homem prescinde do Verbo para Exprimir o Ser. Para mim, o Verbo habita no Ser, o Verbo do Existir, Verbo-Uno, mas para Ana Júlia Machado são inúmeros os Verbos a serem tecidos para a Expressão das Contingências do Existir, as "... incalculáveis escritas..." trajar-se-ão do ser" - a poesia se faz continuamente na evolução dos ideais e esperanças, o Ser é Utopia que se patenteia no "exceder a realidade", o que não significa ir além do quotidiano, mas ampliar as dimensões das Coisas e Palavras, do estar-no-mundo, do ser-no-mundo, "embeber-se em caracteres" do real e irreal, da verdade e in-verdade, palmilhar o mundo nas suas contradições, dialécticas, nonsenses, assumir-lhe com cor-agem, "... ser o paraíso negro que tapa as escuridões/sem o brilho da lua". Esta metáfora pode sugerir, e sugere se a leitura dela não percuciar o in-terdito do poema, uma dimensão negativa, mas em verdade declara por escrito, poematizado, poemado que o "paraíso negro" é o conhecimento de si que a todo custo o homem quer esconder, viver de suas mentiras, farsas, falsidades, hipocrisias, ele tapa as escuridões, sem a cintilância dos romantismos, eufemismos.
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O poeta, o artífice das palavras, deve comprazer-se em Verbos, tornar-lhes EXPRESSÃO da conjugação, regência dos Ideais da Existência, do Ser, do Espírito. Ana Júlia Machado é a MESTRA desta Luz que ilumina os Caminhos de Trevas.
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E vamos nós, de mãos entrelaçadas, querida, amada, inestimável Amiga e Companheira das Letras, seguindo a nossa trajectória à busca de nos comprazermos com os Verbos.
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Beijos nossos a você e à nossa amada netinha Aninha Ricardo.
Manoel Ferreira Neto
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COMPRAZER-ME EM VERBOS(Ana Júlia Machado)
O que desejo?
Desejo embeber-me em caracteres
Sustentar-me dos lavrados
Comprazer-me em verbos
Alimentar-me com sustento do quotidiano...
No que excede a realidade dos meus versos
Nos meus versos anseio ser enunciação
No noctívago e na claridade que o astro-rei expede...
Num refúgio da minha alma
Hospedar-me
Numa embarcação que mareia
No escrito de incalculáveis escritas
Que desnudas trajam-se de mim...
Já não me chega este corpóreo de carnação
E já penalizam-me reminiscências desta existência
Eu projecto ser a obscuridade, em total fulgor
Planeio ser o paraíso negro que tapa as escuridões
sem o brilho da lua


Ana Júlia Machado.


#IGUABA GRANDE(RJ), 07 de fevereiro de 2020#

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