#ALFA/EROS - ÔMEGA/THÂNATOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Caríssimo Senhor Fesmone, sinceros e cordiais cumprimentos por sua obra FLOR NO LÁCIO DE PRONÚNCIA, alguns versitos tocaram-me serenos e ternos, "Seria que não fosse essa multiplicidade de versões
Que sacode os instantes dúbios, momentos ambíguos
Como numa peneira?
Pós de duas realidades aluem sobre os pés...",
Versões sobre a Vida e a Morte.
Assim, um diálogo interdito acontece entre mim e você,
Busco responder-lhe às suas idéias e ideais. Não há como não lhe seguir os passos para apreender e aprender a solidão, silêncio.
Abraços de seu ad-mirador,
Manoel Ferreira Neto.
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Quero versar o presente nas veias de minha solidão, no sangue de minhas esperanças, na poesia de meus sentimentos, emoções, sonhos, utopias. Exijo aroma de liberdade, perfume de devaneios, desvarios, imploro não mais reviver o pó de um vulto, grânulo de areia de uma sombra, suplico a quebra dessa almusa não possuída, e só.
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O silêncio na boca dos indivíduos faz rolar pedras surdas, depois muda de imediato: sorri como que para se desculpar e os lábios descobrem o esqueleto: esses dentes sem origens e nem raças, conhecemos apenas as influências em que o osso substitui o baton. Nós outros temos aversão pelas nuvens baixas, por esses seres de meia-palavra e de recitações, por esses seres mistos que não sabem nem compreender nem entender os fios de ouro em seus corações.
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Razão de sonhos, desejos, calçadas alheias...
Faço-me de barro no silêncio brutal da imensidão do céu, na solidão singela do panorama dos pampas.
Faço-me de silêncios no infinitivo das estrelas, vastos cometas na entre – sala dos mares.
Faço-me de solidões no subjuntivo da lua que emite brilhos na sala de visita dos abismos e vulcões.
Faço-me de quimeras, fantasias, ilusões na inspiração de volúveis visões do trans-cendente sob as sombras pálidas do crepúsculo.
Fazem explosão para dentro de mim e vivo-os eu a sós comigo. Sou homem - nos homens a histeria assume. O sexo e a morte - a porta da frente, a porta de trás do mundo. ... A sabedoria inestimável é ter sonhos bastante grandes para não se perderem de vista enquanto os persigo. ... Olhando de perto, um sonho não é uma coisa sem perigo. ... destarte não seja a semente de "Viver é muito perigoso", supunha que era à solidão que tentava escapar, e não a mim mesmo.
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O in-verso intenciona o verso e funila o verbo e o amor desejado. Novas emoções nos olhos fortemente castanhos, brilhando intensamente, são a síntese de que nada morreu, antítese de que tudo por vir está no in-fin-itivo nada, tese do verbo tecer, da razão apurar, do espírito do acorde simples da canção da in-finitude. Delito inconsciente, que me impulsiona e faz com que eu pense nos lírios de um amanhã, talvez morto, fuzilado. Razão imperfeita, débil, que não pára de pensar e sonhar, que vive tentando decifrar os muros mitológicos das pirâmides Alfa/eros – ômega/thânatos, curtidos pelo chão contínuo da espécie humana, socializada e auto-destrutiva.
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Faço da arte um verso que grita e ama, da razão um in-verso que sente e deseja, do intelecto um ad-verso de utopias e realidades da alma sedenta de paisagens do horizonte. A minha ausência não será por sempre ausência, a minha presença não será por sempre presença. Meus versos in-versos, minha razão ao revés do tempo a suprirão ao longo da eternidade. Minhas prosas re-versas de tempo e não-ser, apenas desejos e esperanças re-presentando-se, supri-las-ão de sublim-itudes.
Fica a impossibilidade temporal de querer ser terra,
ser águas, ser trégua,
ser espaço, ser vento,
ser o ser finito nas sombras do homem mortal que sou!,
ser o amor, ser o divino infinito nas luzes do tempo que sou.
Não me incomoda a penas e apenas ser melhor do que meus contemporâneos ou predecessores. Tento ser melhor do que a mim mesmo, o que é ad-verso à todas às sombras.
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Talvez não exista a metamorfose da fantasia dentro do sonho, do verso dentro da razão, do in-verso dentro do coração, do ad-verso no eidos do espírito, do re-verso no vazio do abismo. O que faço é criar, ser a fantasia que me habita, ser a fertilidade da imaginação, ser a utopia da con-templação da sede de conhecimento. Um ou outro talento, dom, uma ou outra virtude sugerem inexistentes em algumas eras, também em algumas pessoas; espero pelos netos e bisnetos, quando tenho todo o tempo do mundo para esperar - trazem à luz o que há no intimo de seus avós, aquela intimidade que seus avós não tinham a mínima noção de que existia.
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Sou eterno amante do verbo. Sou verbo amante do eterno ser. Sou ser amante do verbo eterno. Não me limito na liberdade dele. Percorro a cidade sem celebridade para outorgar o presente, mas tenho o infinito para alcançá-la. Não sou artista de Hollywood quem recebeu o Oscar por Meiguices Insolentes do Inferno, vou pisoteando a terra do mundo, tenho de debulhar os naipes do pensamento.
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Percorro os templos sem efígies para endossar o futuro, mas tenho o horizonte celeste para orar. Meu passado brinca nos campos silvestres, verdes ramos, vaga-lumes, cigarras, corujas. Que inocência! Que saudade! O rio silenciava-se ao cair da noite cinza, beijando o vale. A lagoa solitária ao amanhecer re-colhia e a-colhia os primeiros raios do sol.
Cores simbólicas na minha razão inversa,
na fonte originária de inspiração,
no verbo amar de meus sonhos,
na minha vertente espiritual
de ser o que sou perante a vida,
diante de minha imagem re-fletida no espelho,
a morte e a eternidade, o nada e a perpetuidade,
Alfa/eros - Ômega/thânatos.
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As palavras por si próprias não são poesia. A razão por si mesma versa e in-versa o desejo de ser verso. Moro na elasticidade e confronto delas. A poesia corre, a razão per-corre, a poesia brinca, a razão trabalha, tece idéias, a poesia pula e chora, a razão saltita e ri, contempla o sonho que não é definitivo. Há uma fábula e um chão que se multiplicam.
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O mistério é o próprio mistério de mim. Sou o que sou. Fui o que fui. Sou quem sou. Fui quem fui. Nada mais além, nada mais aquém. Nada de inanimar a poesia, invertendo no verbo a razão do verso, fazer dela o estático e o esquecido, o mito e o místico, o ritual e a lenda do tempo no tabernáculo do tempo. Meu corpo tem movimento, a perna direita é puxada, estando tenso, é menor que a esquerda. Meus pés trilham os caminhos do campo. Minhas mãos compõem versos avessos à razão. Meus versos-razão metaforizam as efemeridades da imanência. Minha razão-verso re-presenta o efêmero do eterno, o eterno projetado atrás da superfície lisa do espelho efêmero de perspectivas.
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Navego sem indiferença:
o sol e a lua, a dor e o gozo comprazem-se em mim.
Poesia, uma simplicidade cheia de segredos,
complexidade plena de volos do espírito.
Prosa, caos na metafísica
da ausência de res-postas e certezas.
A gota vivenciária do orvalho, vazio na folha em branco, expandindo-se no silêncio contemplativo da razão
de versos e in-versos,
da sensibilidade de sofrimentos e dores.
O universo descansa um segundo.
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Metapoema! Metaprosa! Metalínguística! A minha memória será lembrada em tempos anteriores a quaisquer outros, e esquecida nas imagens de outros outroras melancólicos e nostálgicos, relembrada no vão de um dia solitário ou tumultuado pelo sabor da orgia, libertinagem, viadagem, lesbianagens... Um túnel contempla minha imagem, entreposta na vida e com um sorriso. Gravo a sutileza do possível, enquanto tenho tempo fértil, a inspiração viva e presente. Sou o mesmo sibilo de vento de entre montanhas. Sou a mesma sombra, a mesma ânsia, a mesma busca do verbo no sonho de amar, de amar no sonho do verbo, do sonho no verbo amar. A mesma concepção, a mesma fraude, a mesma insônia, o mesmo antemão de outras gerações conturbadas pelos canhões, metralhadoras. Anticanções. Anti-poemas. Anti-silêncios de sons inauditos.
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Não tenho a pretensão nem o mistério de ser o que sou diante da estrela – invariavelmente fixa no céu negro. Retenho as poeiras da última viagem, de águas fazendo maestria com a hora fatal da enchente...
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Reflexo e esperança, retalhos de fantasia apenas! Miríades de quimeras, imagens de sorrelfas, canto de forte sinfonia, cântico de óperas presentes na alma, espírito, corpo, veias em que nelas per-correm o sangue, melodia de vasta alegria.
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A luz da razão in-versa criam imagens na minha memória e no meu ser; ao menor cochilo da noite e das metáforas, enquanto não vem o teor de sentir a realidade, flutuo dentro da solidão, e só.
Sou indecifrável, inaudito, ininteligível.
O destino - são meus os infortúnios.
Quero esquecer o passado.
Vejo a obscuridade que reina sobre a terra, sombras densas das algazarras no mundo, quando o sol, "centro do sistema planetário, penetra no centro circular do horizonte" Deparo-me, neste instante-já, com o tédio, solidão, sensação de isolamento. Em momentos específicos, considero-me martirizado pela "inexistência dos prazeres da vida que atua em mim, conduzindo-me a desconfortável frio, a uma cruel obscuridade" Dissera alguém íntimo que exploro, tanto quanto possível, as emoções de um mundo que me pertencera, pertencera-nos e que, por anos a fio, transformou o nosso destino, ausências despertam outras visões, sentires, pensares...
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Soltem dessa prisão cruel e incapaz. Eu sei, eu conheço, eu sinto, eu vivencio, eu vivo, só o faço e posso falar! De desejar-me assistido pelo horizonte, pelo uni-verso da razão, pela razão in-versa do horizonte, sem o elo do rio, do rio sem margens e pressa, no solo réptil, nem a sombra do belo que reina na distância dos meus sonhos: amar pura e simplesmente.
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Quem sou eu no caminho perdido,
no meio do destino,
no ninho de um pássaro,
no húmus do jardim,
no fragmento de mim,
nas flores do existencialismo,
nas orquídeas do simbolismo,
nos cactus da metafísica
na perpétua que não cheira
a falta de odor?
Na boca onde a ardência da língua pronuncia a cintilância de verão recente, no peito é que o pólen do fogo se entrelaça à nascente, alastra na sombra?
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Quem sou eu no felino mistério, nas estradas onduladas, nas curvas sinuosas do tempo e dos instantes, do olhar de antes e pós desejos de con-templar o divino, imortal, eterno, até mesmo do etéreo que o diamante risca na razão in-versa do desejo de sonhos dentro de outros sonhos?
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Quem sou eu nas fibras ásperas do mundo-girando-mundo, do filtro e sede da redenção, do tempero e fome do turbilhão rotativo de seres? É na insinuação de sentir que me angustio,
desespero, entristeço, sinto estar fora de mim, as saudades,
nem sabendo de quê, a cuja sensação se me mareiam os olhos, é por criação, invenção, imaginação e outridade que as penso e sinto.
Vou bailando as canções,
Dançando as baladas,
Em meio a reis, valetes e rainhas,
Cumprimentando a penas as flores de cactus
No jardim do bispo e do rei.
Onde o escárnio?
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Eu sou, quem? Poeta!
Quem sou eu no paraíso, no fruto proibido,
no castigo, no perdão de Deus,
na prisão e massacre aos judeus?
Eu sou, quem? Escritor!
Quem sou eu nas ondas do mar,
no porto onde as gaivotas sobrevoam raso,
na heresia, na rebeldia, na revolta,
no espetáculo de decapitação de várias pessoas
por serem cristãs, católicas?
Eu sou, quem? Escritor poeta!
Na vertente de estalactites das contingências da razão e da sensibilidade alumbro as a-nunciações do pensar e do existir, elenco as re-velações dos limites, instantes-limites. Poeta escritor! Na imagem dos templos de prata dos desejos, sensibilidade, subjetividade, sentimentos da trans-cendência, sensações do além, metaforizo o espelho do uni-verso onde o numinoso do espírito se re-fletirá.
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Às águas e às areias do Mar, Rio
Às flores e aos Favônios do prado
Meus danos descrevo, minhas mágoas fio,
Dou queixas contra Ismene, Amor e o Fado...
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A paz do coração, leveza do ser postas em desvio
O gosto em equivocos estrangulado, em desenganos sufocado,
Lágrimas com lembranças desafio,
E pela tarda Morte às vezes brado, silencioso e calado.
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Tão maviosos são meus gemidos e ais mesquinhos,
Tanto pode a paixão que em mim suspira,
Que se esquecem das mães ovelhinhas e cordeirinhos.
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O vento não se mexe, nem respira;
Deixam de namorar-se os passarinhos,
Para me ouvir chorar ao som da lira.
Quem sou eu para beber a água que já foi cristalina, para comer a fruta que já foi pura, para caminhar o chão que já foi ilha santa, para consolar a multidão que já teve uma padroeira, para sonhar as gregorianas poesias que já foram heresias?
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A indagação ameaça espatifar-se. O in-verso da razão multiplica-se. A razão do in-verso abre-se.
O vento de entre montanhas sibila o carrossel dos sentimentos e emoções.
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Preciso dormir.
Sonhar com o verbo amar.
Croquizar as métricas
Do soneto inaudito da plen-itude.
#riodejaneiro, 25 de fevereiro de 2020@

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