**IRMÃ DO TEMPO, AMIGA ÍNTIMA DO SER** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Vejo, sinto o porto visto das águas, é bom tomar distâncias, elas aumentam o olhar, a alma voa mais livremente.
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Posso viver, hoje, os caminhos, como se meu sorriso não fosse forçado. Posso falar com o coração sem o medo de silenciar a boca. Posso fazer gestos, como se meus braços fossem velas ao mar, prontas a envolver luas e estrelas, universos e horizontes. Posso soltar a voz e olhar de frente para o futuro, para o afluir-a-ser, como uma irmã do tempo, amiga íntima do ser. Ainda que calejada pelo remo, minhas mãos trazem a textura de pétalas finas das rosas, pois, se se deram aos motivos do coração, pode haver algo mais sensível, mais suave de se sentir íntimo, de afagar no peito?
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Posso olhar o futuro sem as costas amarradas a nada. Posso viver sem ter que provar nada a quem quer que seja, de explicar isto ou aquilo, o perdão que a vida me concedeu.
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Sem justificar meu silêncio ou meu canto quando alguém apontar seu dedo em direção ao meu olhar, dar-lhe-ei minhas mãos, pois sei que os infelizes, desgraçados, perdidos são os mais dignos de compaixão.
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Mas o que mais dói é ouvir daqui que a maioria fez da vida uma canção, cuja estrofe possui apenas uma palavra: hipocrisia!


#riodejaneiro, 18 de fevereiro de 2020@

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