GRAÇA FONTIS PINTORA ESCULTORA E POETISA COMENTA O AFORISMO 544 /**NO FUNDAMENTO DO SER, AS HORAS FULGURAM**/


Sim... É preciso ler mais que uma vez, assim absorve - se com eficácia a beleza e essência deste estupendo e maravilhoso texto... o olhar ora em rebeldia, ora dormitando... livre, foge rumo ao Nada, indomável ou carente à cata do possível ou impossível, dominável dentro da própria fértil imaginação, rompendo seu imensurável domínio, circulando labirinticamente, vagueando sob inauditos sons a guiarem - no como um pássaro rumo migração permanente à liberdade de pensar, sentir e atuar com perspicácia contemplativa os meandros abismáticos e enigmáticos através da infinitude dos Tempos - tempo!... Então querido Escritor, assim senti... sem parcialidade rsrs .. PARABÉNS! Beijinhos...


Graça Fontis


Aqui não há quaisquer parcialidades. Leitura percuciente. O olhar livre foge rumo ao Nada, mas consciente de sua liberdade, de sua fuga, visualiza a alma, perscruta-lhe, e assim ouve os sons da alma. Do silêncio, dizem dos sons, dos ritmos, das melodias, dos acordes, da musicalidade. Sons da Alma? Sim, a alma emite os seus sons, ritmos, melodias, de suas contingências, ela cria a música onde revela os seus recônditos desejos, vontades, esperança e sonho. Há, inclusive, uma passagem neste texto que diz o poeta haver enlouquecido: não significa que os sons da alma denigram os sons do silêncio, as musas lhe enviam rimas sem sentido, os sons da alma penetram, mergulham nos sons do silêncio, e nesta síntese, emerge a Metafísica da In-fin-itude Poética, da Etern-itude do Espírito. Há segredos do escritor que ele não deve revelar, patentear, fica a critério da História des-vendá-los, des-velá-los. Sob dimensões diferentes, você, Graça Fontis, e Ana Júlia Machado mergulharam neles e perscrutaram-lhes, os segredos dos Sons da Alma. Vocês levantaram a "lebre". Os segredos desta arte metafísica e poética não vou revelar. Recebam ambas os meus sinceros e verdadeiros cumprimentos por esta descoberta sine qua non de minha Literatura-Filosófica-Poética.


Manoel Ferreira Neto


#AFORISMO 544/NO FUNDAMENTO DO SER, AS HORAS FULGURAM#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Som son-ante(i) do previamente sentido, do postumamente re-sentido ou ruídos escutados de um planger, re-tratados de futuros, vires-a-ser, hão-de ser ou auroras mal adormecidas, insones, nas dobras do travesseiro de plumas que vers-ejam atravessados avessos invés, exibindo o pretérito, o ele-ir-passando, ou claros estoques de manhãs que con-templam, sabem, conhecem a flora que aí se delineia, que cada um traz no sangue, no vento, nos abismos do tempo.


Nos mares mais exíguos, enigma que distrai ou concentra, dispersa ou con-verge princípios, re-{n}-ova ou matiza, prolongando-lhes no tecer do tempo, os princípios do con-sentimento da síntese "eu" e outro", o "nós". O espelho de-volvendo di-versa imagem, sempre evocativa, rogativa, in-vocativa, ruminativa, re-clamativa, do primeiro retrato, avant-premier da imagem que com-põe e artificia de si mesma almas pre-destinadas à síntese do viver a vida e a arte no quotidiano das con-tingências e da relação íntima. Tipo de vocação cotidiana.


Cantos travessados de opostos, invés, "des-similares", "aliásis" de re-versos, in-versos alteiam na sensação de in-auditos, in-terditos, a cantiga do ressuscitar, balada do redimir, canção do eternescer, re-trans-cender elegante melodia, suave ritmo, pulsando no ente, desprende-se na insensibilidade, isenta-se na extensão.


Aqui se esvaece a brisa noctívaga, e de re-cord-ar não há re-cord-ação, de lembrar não há lembrança, de devanear não há devaneios, de desvairar não há desvarios, de idealizar melancolias não há res-plandecer de sentimentos, emoções olvidadas, de artificiar utopias nostálgicas não há o esvaecimento das buscas e desejâncias, de vislumbrar as sombras na parede não há mais sombras, over and over again. O espectro, submarino, à luz da ampulheta do ser, vai apontando, e já noctívagos, rotos, des-ossados, os abraços doem para além da matéria esparsa em senos, tangentes, co-senos e co-tangentes, em números.


Atravessados avessos de opostos po-emas, po-esias, conquistam ensejos de in-felizes gemidos e tempestades asquerosas, esfarrapadas e esculpidas nos repositórios do intelecto, nos depósitos da razão e dos sensos.
Recíprocos de oblíquos cantos res-avessados emporcalham a fólio despojada e cã com pigmentações da ânima, des-cortinam a semblante retirada, propalando em labaredas vivas gotas pequenas análogas às freichas sumidas. De exílio, imaginação atada aos corvos da própria ceva. Das línguas in-finitas que falava, o caprichoso som une formas vivas, entre ramagens de sentidos e signos, entre folhagens de verdades e símbolos. O meu destino, agora meu delírio, hei-de seguir como um predestinado; mártir submisso, ingênuo condenado, inocente proscrito cujo fervor atiça o martírio. Entre cantares de amantes, de amados, pairam na renda fina e singela da entrega inda mais aconchegante, para além dos instantes-limites, aquis-e-agoras, a rosa aberta da liberdade de criar e re-criar o sentimento in-transitivo do verbo de amar, orquídea em broto de vivenciar o prazer das regências metafísicas.


O poeta enlouqueceu. A musa somente lhe envia rimas sem sentido… desconexas... Maldição. De poemas avessos, recíprocos re-vessos arruínam a erma de pesquisas, in-vestigações, debuxam caminho alvo, límpido, cristalino, senda diáfana, e sem desculpas redigem proposições pronunciando, de querença, tocatas de lua, serenatas de estrelas, rasteiro de fadários e balalaikas, quimeras áureas que a agitação, restituída aos delírios, pressagia vultos amados (proscênio de um aposento: o picadeiro ficou vazio para caber a forma ondulante que progride, esmagando palavras, criando e re-criando risos, gargalhadas soltas e livres, desenhando e pintando no espelho do tempo imagens de olhos vislumbrando o in-finito, horizontes e universos). Quero dormir o tempo que me sobre! Num sono que ao da morte se confunde. Que o meu carinho sem remorso inunde.


Não é longo mentar orquídeas lilases de metáforas e in-versões, de metafísicas invenções, e permitido deambular por cima do estreito rio presente, construir de pálido crepúsculo o arco-íris. Que presságios circulam pelo éter, que signos de paixão e volúpias, que suspirália hesita em con-sumar-se, suprassumir-se, como flúor, COMO SÃO LÍRICOS OS CLAROS GESTOS DE ENTREGA! E como são prosaicos e eruditos os desejos, desejâncias, querenças nas vias da travessia para a criação, re-criação na imagem e nas con-tingências de um verbo in-transitivo de amar a liberdade do Verso-Uno.


Os prazeres criaram raiz, e o que é ensimesmado no olhar encontra explicação, explicitação.
Música breve, noite longa.
Da colina do silêncio às avenidas
da solidão,
às alamedas
do silêncio,
da desolação,
a presença omnipotente e omnisciente
da con-templação do espaço.
O que deveria fazer
se a lua sofre
a paz
de meu coração?
É um anúncio, um chamado, uma esperança embora frágil, pranto de criança no berço, janela aberta, ventozinho suave refrescando o quarto, cigarras cantando em uníssono. Peço ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo aquilo que foge, a tudo aquilo que geme, a tudo aquilo que gira, a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala, as horas que são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, me respondem: “É a hora de se embriagar, de se drogar!"
No fundamento do ser, as horas fulguram, desejo de ainda não desejar, sonho de ainda não sonhar, cada sentimento tem o seu cintilar, cada emoção tem o seu brilho e cada brilho o seu pro-jeto para além das con-tingências, presença de relógio insinuada nas palavras que como carros percorrem as ruas. Ponho-me a correr na praia, venham as ondas a encobrirem-me, venha o mar, fluxos de sensações, fluxos de sublimes vontades, abro-os todos, mas de todos eu salto, verbo in-transitivo de amar a liberdade do Uno-Verso.


Oh, mitos que cultuamos, sentidos re-versos do lúdico e do erótico, falsos, flores incolores, anjos desleais, infiéis... arquejos poéticos eruditos, querubins... Suspirar suave, comedido, no silêncio da noite, na passagem solitária por entre as paisagens do in-finito e alhures, palavras e imagens se invadem, aproximam-se, amantes se entregam plenamente, ouvindo distante tocar Jealous Guy, compreendem-se, entendem-se, perdem-se em si mesmos, dormindo profundamente na noite.


(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE JANEIRO DE 2018)


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