#AFORISMO 552/ECO SENTIDO DAS PASSADAS ILUSÕES# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Erudito e erudição sobem os degraus da alma que desde a eternidade sonha o Vale da Sabedoria.


Perpetualizando dimensões do nada:


Poeiras ecumenizando ventos, serenidades emudecidas, emudecendo no despovoado de meditações as constrições e inquietações, alumiando ao litoral de cogitações apetites e ficções do nentes-oco, ventre do concebimento, obra do aquém-além, do além-aquém de o ser não ser, do não-ser serem eleições quiméricas do vácuo-nentes, físico da existência, lance do jogo de pesquisas, in-vestig-ações, in-ventários, lugares amados do além-perpétuo, perpétuo-além, físico de bailado, bailado do físico, debate da alumiação, iluminação da dialéctica.


Dialéctica do princípio e da melancolia,
O para-sempre sempre acaba,
Dialéctica do genesis e das saudades futurais,
Nem de longe está-se perto de saber o porquê
O anoitecer recebe nos braços o pôr do sol,
O amanhecer afaga no peito o tempo efêmero da luz.
Dialéctica do Cosme e do Velho,
A lâmina do machado afiada ceifando o tronco de árvores secas,
Árvores secas ceifadas pela lâmina do machado afiada.
Areias evangelizando ampulhetas, em tempos verdadeiros de travessias de nonadas ao antes era o mistério, depois o desejo da luz, ao antes era o nada, depois a vontade de tudo ser, ao antes era o verbo, depois o verbo se tornou carne, pá-lavras, cata-ventos de metáforas, signos, símbolos na linguística das raízes imanentes e trans-cendentes do ser e do verbo, do verbo e verso. No presente — sempre escuro — vive a alma ambiciosa na ilusão voluptuosa do passado e do futuro, vive o desejo de amor sincero que o coração não gozou.


Expectativas, quimeras, sinopses do ido e hodierno.
Na extensa via do tempo, o ser divulgará as extensões do perpétuo, as causas do fugaz... as razões de o tempo errar, enganar, a vida continua. No tempo incessante das sendas, o não-ser expor-se-á incontínuo às luzências cristalinas, aos coriscos sagrados da aurora, às penumbras do lusco-fusco que sobrepujam o escurecer sem cintilas, sem lua, isolamento do sossego, sossego do isolamento, do sossego, o isolamento, do isolamento, o sossego. No mar das recordações, escuto um eco sentido das passadas ilusões.


Num olhar profundo e ardente, tal é na hora presente o horizonte do passado. No fugaz tempo dos começos, o vácuo antepunha as ópticas de ninharias do perene, começo do não-ser, semente do não-ser; no perpétuo tempo de origens, o não-ser antepunha os pontos de vista de passagens abaladas de cosmos, termo do supremo, baliza das origens, últimos perenes da crença no além, e ninguém creditava qualquer possibilidade de presenciar a última erudição, o último erudito, e a erudição e o erudito alçam voos por todos os alhures do mundo. Ao nosso espírito ardente, na avidez do bem sonhado, nunca o presente é passado, nunca o futuro é presente.


Do rebo o divo inegável, o divo indubitável, o divo in-obtuso, o divo in-oblíquo, credencia-se ou não em Divo, não há consenso, não há incontestes, porque não credenciar em Divo não habita, não reside, é postura de asno, é extravagância de pateta, de pernóstico, é despautério de Paulocinhos, é absurdo de parvo, mesmo que o divo seja o rebo no meio do trilho, no meio do trilho haver uma pedra, para que a expectativa de a pedra se deslocar, andar, no meio da via ou na sua orla se concretize. Pelo vasto arealum, vasto paquiderme. Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo vem a folha, que devagar e devagar se desdobra, depois a flor, depois o suspirado pomo. Pois essa criatura está em toda a obra: cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto, e é nesse destruir que as suas forças dobram. Ama de igual amor o poluto e o impoluto; começa e recomeça uma perpétua lida; e sorrindo obedece ao divino estatuto.


Noutras falas, não há qualquer erudição sem um divo, na Pedra lascada o divo era o fendido da pedra, à luminosidade de incertezas e suspeitas, na Pedra Polida era o polido da pedra o divo incontestável e verídico. Com certeza que o Deus pode ser aquilo em que nós acreditamos para sobreviver, saborear o sabor da vivência por intermédio de con-tingências, para uns povos é o porco, para outros o Alá e assim sucessivamente.


O tempo é composto, quimera e poemas que se arruínam e disseminam fora do meu tempo, raciocínio enviesado sem exclusiva justeza de ser... O meu sopor penetrante é mediador para outro Universo, ocasiona da existência decesso, do bem-querer a malévola dita, e do âmago, inspiração infrutífera. Persigo em dianteira, mas sem querença, persigo igualmente sem rota.


As folhas, leva-as o vento. Depois, nem mais resta o perfume nos ares da solidão…


(**RIO DE JANEIRO**, 23 DE JANEIRO DE 2018)


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