#AFORISMO 539/PEREGRINO E SENDEIRO DE VERBOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Bendita primavera, cerne da ec-sistência,
Inebriante perfume de flores por que não há recusa.
Êxtase, volúpias curtidas por antiga essência.
A roseira rosa
Florchameja
No espaço indecidível
Da palavra.
Sou de aqui
Boêmio de ideais da verdade e do ser,
Boêmio de esperanças do absoluto e sublime,
Boêmio de utopias da justiça e solidariedade
Boêmio de sonhos do amor e sinceridade.
Sou de agora
Sendeiro da luz eterna nas trilhas do que é dignidade e honra,
Peregrino do rio de águas límpidas sem pressa, sem margem
Sonhando a consciência, idealizando a ética,
Desejando a estesia das silvestres sendas da contingência,
Viajante nas veredas das imanências do ser e não-ser...
Nem mesmo a Babel dos deuses
Nem o brilho cadente das estrelas,
Nem a magia de todas as re-velações estacionais
E nem mesmo a liberdade de um pássaro vítima do cárcere...
São comparáveis
Àquele tempo de ideais, utopias,
Há quase quatro décadas,
Mas não era o tempo inda,
Águas e mais águas deveriam passar por debaixo da ponte,
Fui deixando inscrito nos tabernáculos do caminho em letras góticas:
"A esperança é a última que morre",
Fui deixando inscrito nos templos de beira de estrada em letras cursivas
"Quem ri por último, ri melhor",
Fui deixando inscrito nas tabacarias de esquinas de ruas passadas
Em letras escorreitas de sentimentos e emoções
"Um dia é da caça, outro, do caçador",
Tropecei em pedras, catei cavacos pelas alamedas, becos e avenidas,
Arrastei-me pelas sarjetas humanas, conheci de hipocrisia, farsa, falsidade, conheci de salauds,
Mas eis o dia! Eu o esperava e vi-o chegar
E do que vi, que o Sagrado seja a minha palavra!
Violeiro do eterno à busca do presente real e verdadeiro,
Violeiro da verdade às cavalitas das contradições e dialéticas,
Violeiro do amor à luz dos encontros e des-encontros,
Violeiro dos ventos à socapa do efêmero e eterno.
Angústia de esperanças perdidas, olvidadas
À mercê do tempo efemerizando as pectivas pres-entes
Da alegria perpassada de nostalgias, saudades,
Da felicidade tergi-versada em saudades, idílios
Do instante mais-que-perfeito de nonadas
Nas travessias do vazio ao ser-[do]-nada
Da volúpia de estesias do espírito a gerarem
No útero da plen-itude as diáleticas da contingência,
Do êxtase das metáforas po-entes, metafísicas nascentes, Alvorecer nunciado, crepúsculo patenteado;
Da fissura de in-finito que, na lareira do tempo,
Crepita as lenhas dos ideais do amor e entrega
Cinzas quentes à soleira da morte gélida;
Tristezas de sonhos perdidos, à luz do vir-a-ser
Ao deus-dará da sistência de ec-in-divin-itude
De medos, relutâncias, inseguranças imperfeitas
No subjuntivo de quimeras passadas, sorrelfas falecidas
Morte,
Inépcia,
Inércia...
Sou deste instante-limite
Cor-agem que enche o coração
É a resposta a um toque do ser
Que congrega o pensamento unindo-o ao jogo do mundo.
Sou deste instante-limite.
Fervor pensante da recordação,
Recordação retrocessiva até aos mananciais de que surge:
O céu e a terra, os mortais e os imortais,
Os homens e os deuses, nela trazidos à colação.
Sou deste instante-limite.
Sentimentos das nostalgias
Pre-cursoras das notas das utopias efêmeras
A melodia do andarilho sem amor, sem rumos,
Sem destino, sem projetos,
Gozando os prazeres da solidão, a alegria do silêncio
Da vida caminhando, olhando os horizontes além
Dos trovões da montanha, riscando o céu de raios estrídulos,
Desfrutando os êxtases da angústia
Da felicidade que não sentiu, do contentamento
Que deixou no vagão do trem para lugar algum,
Rindo do tempo que não marcou de horas
As lembranças e recordações de outroras dos sonhos impossíveis.
As fontes jorram
Os ventos preenchem o espaço
O pensamento bendito
Medita.
Os sibilos complementam o abismo
As idéias sagradas
Refletem.
Tempo de aqui-e-agora,
Pós colheita de alguns frutos, desgustar-lhes o sabor,
Saborear-lhes a essência,
Viajo em suas asas,
O além espera-me de braços abertos,
O que me transcende prepara-me o banquete,
Consciente das dialéticas da história, contradições da vida,
Nuanças do sim e não,
Tecendo com os versos dos ideais e utopias reais e concretos
O capote da honra e da dignidade, sinceridade, verdade,
Com o couro curtido fazendo a bota dos princípios éticos e morais,
Sinto-me neste tempo, sou neste tempo, estou neste tempo
Da ec-sistência à eternidade,
Eterno de verdades colhidas nas experiências,
Eterno de sonhos a-nunciados nas vivências de labutas
Eterno de esperanças re-veladas na visão da vida imanente,
Eterno de fé evangelizada no sentimento da ressurreição,
Eterno de amor questionado no desejo do "nós", história e homem.
Divagarei de desejo em desejo,
Em busca de um sonho ou verbo
Que aspire(m) o aroma da poesia,
A última harmonia que desejo
Sentir pulsar no coração,
Vivendo de luz mais viva,
De espírito mais cristalino,
De alma mas resplendente.
Da ec-sistência à eternidade...
Como não posso seguir esta alameda,
Se é paisagem, se é sonho,
Se seus caminhos vertentes são jardins,
São flores, são esperanças?
(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE JANEIRO DE 2018)


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