ANA JÚLIA MACHADO CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA ENSAIA FILOSÓFICA, MUSICAL E POETICAMENTE O AFORISMO 553 /**MÚSICA DE LINGUAGEM E ESTILO**/


No aforismo do escritor Manoel Ferreira Neto, que considero sublime a” MÚSICA DE LINGUAGEM E ESTILO”. Refiro igualmente que quem não gostar de artes, seja ela qual for, não consegue escrever, seja prosa, ou poesia.
Opto não, por falar em grandes compositores, embora, no decorrer da análise alguns sejam referidos, apoio-me preferencialmente na discussão que este tema pode provocar e tem provocado ao longo dos tempos.


As altercações sobre o Índice de medida que confere o grau que um ser e seu trabalho de natureza escrita, falada ou gesticulada tem de poesia, do poema e da letra de melodia são intermináveis. Como dizia Carlos Drummond de Andrade. “Lutar com palavras/ é a luta mais vã.”


Dose dessa altercação é inabalável. Kant dizia que, apesar de o Belo ostentar um intuito sem fecho, o discernimento de gosto ambiciona comunicar-lhe a universalidade, mas essa comunicação é incessantemente faccioso.


Em si mesmo, o Belo é um ecuménico, difundido sob diferentes representações. O “poético” é a autenticação de determinada intensidade de importância do Belo. Então nunca acercaremos a uma concordância. Kant dizia que o juízo estético é ilusório, porque temos que comunicar parte do Belo
o Belo verbaliza –nos muito sobre a disputa entre o poema e a letra de canção. Se a letra de canção é poética, poderíamos encarar poetas autores como Noel Rosa e Bob Dylan?


Neste caso, no campo literário o exclusivo consenso é a crise. Se por um lado, Ezra Pound granjeava a libertação da poesia enquanto literatura, por outro, para boa parte da censura hodierna, só há “literatura”, “poesia”, “arte” porque conversamos sobre ela. Trata-se de um kantismo conceitual. A floresta de símbolos converteu-se mais infecunda de que três despovoados.


Um poeta como Vinicius de Moraes, por exemplo, redigira tanto poesias, quanto letras de música. E os distintos elaboradores de sua obra conservaram a divisão entre ambas. Desta forma, quando nos inquirimos se a letra de música pode ser vista como um poema, devemos ter em pensamento aspectos mais ou menos distintos e análogos entre ambos na história da poética ocidental.


Costuma-se murmurar da liberdade do poema em paralelismo à letra de canção, que seria submetida à música. Por outro lado, igualmente se costuma verbalizar que há literaturas poéticas e poemas sem poesia alguma. Portanto, a poesia poderia ocupar ou não o poema. Os poemas e letras de canções seriam então como o invólucro seco de uma gaziza: desperdiçado o canto da alma, sobeja o mutismo.


Recorrendo a Kant, adoptando a falibilidade desta tarefa, careceríamos analisar o que é o termo “poético”. Dizemos que uma letra é poética como dizemos que um panorama é poético ou que as cantatas de J. S. Bach são poéticas. Mas quando algo nos aborrece, dizemos tão-somente que isto é desaprazível, de mau grado ou somente que é vergonhoso. Podemos falar igualmente que o poema é desengraçado, não impeditivo contenha outro atributo. Em exactidão, o poema pode ser mais ou menos comum. E a enfado do relativismo da censura hodierna e do conceito de poesia como espírito, as disparidades nas artes entre o verso e a prosa eternamente foram os componentes musicaIs e picturais mais centralizados no verso do que na prosa. O oposto do “poético” seria, portanto, o “prosaico. Poderíamos então dizer que determinado panorama ou que as cantatas de J. S. Bach são prosaicas?
No entanto, uma vez que o prosaico é uma característica da prosa, devemos saber então o que é propriamente poético e prosaico.


Sem deixar o valor de uma leitura linear, alguns poemas encaminham a indicação rítmica, cujo intuito sem fim, como diria Kant, arrisque a mimetizar, ou ainda dissimular, como diria Fernando Pessoa, os factos presentes no poema. Enquanto, através da divagação a linguagem metafórica mobiliza a idealidade, repetições, consonâncias e o funcionamento rítmico retratam a sonoplastia da acção e sensibilidades.


As letras de música igualmente exibem versos e podem, ainda que resignados a determinada linha melodiosa – a da canção, abarcar mais ou menos esses componentes poéticos. Mas enquanto efeitos retóricos e figuras de linguagem, como a metáfora, são indubitavelmente reconhecíveis nas letras de melodia, figuras formais, como a repetição e a consonância, são menos comuns, podendo casualmente deteriorar a melodia do canto. Já os elementos pictóricos, como a aclarar tudo longamente, expor em detalhe, por extensão de sentido, descrever., Por ex., desbaratariam o valor na música executada, salvo com a sua impressão em papel.


E enquanto a melopeia da canção pode sustentar uma vogal por muito tempo, a durabilidade das vogais no verso é delimitada. E se no caso da poética clássica tanto a língua grega quanto a latina anunciavam valor de qualidade (duração) vocálica como diferencial métrico, nas línguas genuínas, como o Português, a tonicidade, a marcação melódica através das rimas, etc. passaram a exercer um papel funcional e estético. Mas ao contrário do que acontece com a letra de canção, se diminuímos os elementos poéticos do verso apoiando o estilo, ele apenas se torna mais prosaico.


E termino com uma ideia do escritor, que diz tudo acerca deste tema: “O universo ouve, o horizonte escuta, o infinito sente-se-lhes nos recônditos mais íntimos..."


Ana Júlia Machado


Verdade inconteste, caríssima crítica literária e poetisa, Ana Júlia Machado, quem não gostar de artes, seja em que nível for, não consegue escrever, poesia ou prosa. Há-de se considerar que há prosas, poesias que carecem de conhecimento filosófico, literário, poético, de estético, não sendo possível qualquer palavra. Todos estes autores da literatura, da poesia, da música a quem você se referiu conheço-lhes, não apenas por ler suas obras, mas por estudar, investigar, avaliar. Um texto como este não teria jamais sido possível sem o conhecimento que tenho da literatura, da música, da poesia, ademais o sonho que exponho nele requer sensibilidade. Lembrou-me ensaio de Heidegger a respeito da Arte Poética de Immanuel Kant, assim podendo produzir este texto. Na filosofia o mais importante não é concordar ou discordar de um pensamento, sim perscrutar, con-templar, questionar. Inspirei-me no ensaio de Heidegger, na teoria da arte poética de Kant para criar, buscando, com evidência, superar ao pensamento de ambos, re-velar a visão-da-poesia, da música, da filosofia que venho desenvolvendo desde os idos dos anos 80 do século passado, só agora adquirindo CORPO, devendo dizer que verbalizar esta visão só me fora possível depois do encontro com a minha esposa e companheira das Artes, Graça Fontis.
O seu ensaio, caríssima crítica literária e poetisa, Ana Júlia Machado penetra, mergulha, adentra com excelsitude a obra nos seus mínimos detalhes. Concordo plenamente com o ensaio.
Gracias muchas por seu ensaio, reconhecimento.


Manoel Ferreira Neto


#AFORISMO 553/MÚSICA DE LINGUAGEM E ESTILO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Quê sonho!...


Não compôr música com todos os recursos da criatividade, o espírito se trans-literalizando em notas, ritmos, melodia, acorde. Compor um texto, cujas palavras são ritmos, cujas letras são notas, ritmo, melodia, acorde compostos de metáforas, semânticas, linguísticas. Música é poesia e poesia é música. Mas esta música executada pelo piano dos desejos, esperanças, volos, pela cítara das quimeras, sorrelfas, fantasias, pela harpa das dores e sofrimentos da alma, pelo violino das dimensões sensíveis, uma música executada no in-finito do espírito, ouvido contingente sendo impossível ouvi-la, só o ouvido inaudito do silêncio do som. Música de letras, música de metáforas, música de linguagem e estilo prosaico.


Quiçá sonhos significam inauditos que o In-fin-itivo dos verbos trazem em si dentro, e no sentir-lhes o ser, floram-se na floração da espiritualidade! Quiçá o sejam, não sendo-sendo quiméricas sorrelfas da inspiração que tudo trans-cende, trans-literaliza, trans-eleva aos auspicios do In-finito.


Sonho, além dos sonhos dentro de outros que são luzes que nos circundam ao longo das sendas, trazemos no mais re-côndito esperando o instante de ser a-nunciado, revelado em toda a sua ampl-itude.


Este sonho trago em mim, sempre latente de sua vida percorrendo in-finitos, universos, horizontes, esplendendo suas luzes, numinando os campos.


Fechar os olhos, deixar o espírito fluir leve, livre, no seu recôndito compondo uma música de espiritualidade, pres-ent-ificados dons e talentos, sensibilidade na confecção de lírica, versos e estrofes representando o que o inaudito traz de genesis para a re-novação e evangelização das esperanças, embora as dificuldades que se apresentam neste instante de composição e criação, alfim música e lírica nascendo em uníssono é arte das mais complexas, mas os querubins da magia se pres-entificam, música e lírica são compostas com excelência de magias e perfeições, resta executá-la no piano, acompanhada da cítara, da harpa, do violino para a extasia do ouvinte, sentir o espírito florar-se na floração de seus sentimentos e emoções.


Por vezes, quando me sinto sensibilizado, leio alguns excertos de texto, sentindo-lhe intimo a presença da música, ouço-lhe, mas me sinto inda carente da música de palavras, de letras. Digo-me circunspecto: "É um sonho que pode ser transliteralizado em inúmeras dimensões, deixando-lhe florar-se na sua floração de espiritualidade. O universo ouve, o horizonte escuta, o infinito sente-se-lhes nos recônditos mais íntimos..."


(**RIO DE JANEIRO**, 23 DE JANEIRO DE 2018)




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