ARABESCOS EM RABISCOS GRECOTINS - CRÍTICA AO POEMA EMBLEMA, DE Sonia Gonçalves - Manoel Ferreira Neto


Se con-templarmos a sinuosidade da estética dos primeiros versos do Poema Emblema, da minha amiga Sonia Gonçalves, Tenho n’alma um emblema/Um marco e um poema/No coração um barco/E uma tripulação maruja/Eu mesma e uma coruja
Navegadora...", o emblema sendo a metafísica da beleza artística do versar o marco, signo, símbolo, metáfora, das "coisas" da contingência, o barco, a linguística, semântica dos sonhos, esperanças, utopias, e isto é a poesia, a tripulação maruja são os amigos, os companheiros de estrada, os íntimos, os homens, a humanidade, e a autora sendo a "coruja", não apenas as idéias, os ideais da beleza, mas a estética da consciência de que este "emblema" é a chave da liberdade para a criação, re-criação, tempo de amar, tempo de entrega. A coruja se encanta, entrega-se à "natureza de curumim", "arabescos em rabiscos grecotins", "preto branco e carmesin", sentimos os ornamentos, arrebiques, re-velando os vais-e-vens, velando os aquis-e-agoras, o quão a sua imaginação criatura constrói a imagem poética, as sinuosidades dos rabiscos para a arte da linguagem e estilo estéticos. E nestas sinuosidades, a autora descobre outras dimensões da sensibilidade e do sensível, a metafísica do desejo da solidariedade, compassividade com a humanidade, que ela conceitua com toda a sua visão-de-mundo e das coisas, mostrando agradecimento por lhe despertar outras perspectivas do horizonte de Ser, são as "insígnias do tempo", a sua nobreza, no sentido do que ele traz em si dentro para doar, são os "garranchos ao vento", a única coisa que o vento não levará destes garranchos é a sua humanidade, a metáfora da Poetisa Sonia Gonçalves são os garranchos, a poesia, as palavras, a que se entrega inteira, sua liberdade está em questão. A vida é uma colcha de retalhos, "lendas e sendas", "mantras que ativam as glândulas". Há de se rebelar à escassez, rebelar à escassez da vida, da liberdade, do amor, da esperança, do sonho, da utopia, criá-las, re-criá-las, inventá-las, patenteá-las, "aflorar para alforriar" a "nudez" da alma, do inconsciente, do espírito, das sombras, a "alma maruja", a navegante...
Perscrutar inda mais este poema em sua sinuosidade, buscando as sendas do caminho para os "rabiscos gregotins", linguística da estética, temos que percorrer a verbalização que só vai acontecer ao final do poema, desde "Tenho n´alma um emblema" até "Lendas e sendas outras tantas", mitos, causos, a crônica existencial de carências e buscas, não há sequer uma presença de verbo, só no verso após este é que surge "ativar", os verbos ativam a caminhada, são eles o eidos do Emblema, e estes verbos são a esperança, a fé, o sonho, a utopia, o poetizar a vida, com esta consciência rebelar à escassez, alforriar a verdade do ser e da liberdade, queimar a garganta de poesia, a palavra de desejos. Sim, é o verbo que abre as persianas da janela da beleza, da estética do Ser. São verbos que revelam perspicácia, garra, força, determinação, decisão, são verbos que patenteiam a existência. Sinceros cumprimentos, Sonia Gonçalves, por sua cor-agem de investir na Liberdade do Ser Poetisa, a eterna criadora rebelde, insolente, sua jornada há-de ser patenteada.


(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE JANEIRO DE 2018)



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