**SEMANA //Blog **BO-TEKO DE POESIAS** - 18-24 DE NOVEMBRO DE 2016** - Manoel Ferreira


**PROSA DE POESIA A QUALQUER TOQUE**



Dias de verão.
Lugar em tédio deixado.
De tudo, sentimento vivido.
De nada, re-versa emoção de lácias dialécticas.
De vazio, in-versa sensação de egrégias contradições.
A renúncia encontrada em nós desta liberdade.



Olhar de frente as coisas lineares
Renascidas nas veias oblíquas.
Olhar de baixo para cima as coisas obtusas
Re-feitas de brilho e resplendor.
Olhar de esguelha as coisas visíveis
Recriadas de sonhos, utopias.



Vem a imagem de que necessito
Retornar à sombra de uma árvore,
A cabeça sobre sua raiz,
E olhei para cima,
Um vazio sem limites,
Mas esta lembrança permaneceu
Em mim desde sempre,
Embora não tenha sentido ou intuído antes.



Fazenda.
Era tarde,
O sol queimava o corpo a qualquer toque,
Um calor infernal,
Fui lá eu sentar-me por baixo de uma árvore,
Para descansar à sua sombra,
Fora quando senti um vazio enorme,
E quando desejei ter ao meu lado todos os homens,
De qualquer credo ou raça.
A terra sugere levantar-se, o céu descer.
As estrelas deslizarem no espaço até caírem.
A lua re-colher seu brilho, esconder-se.
O verão vai chocar guinchos cerimoniosos nas vertigens.
Transcorre-se ambíguo.
Absurdo plúmbeo e clorificado.
Oscila entre sombras, tédio, obscurecimento.
O duplo transcorre-se.
Oscila entre o pessimismo, nostalgia, paz.
Somos miséria, desgraça.
A liberdade, luz estrídula: presente e futuro.
Presente mesquinho,
Medíocre, vivido insuportavelmente.
Não vislumbro nele senão estranho e inexplicável
Mostruário de paixões e desejos reprimidos,
De tradições e idéias maquinais,
Tudo mal misturado e ao acaso
No rosto débil e lustroso de um homem
Que orça pelos trinta e oito anos,
Tão irresoluto e indeciso agora como o fora na mocidade.



Com certeza, houve modificações, mas metamorfose alguma.
Nada além que irresolução e indecisão.
Que inventário maravilhoso!
O conhecimento da beleza incumbe-se em ir construindo-se.
A afeição transbordante de calor.
Passo pelo tempo, conhecendo.
Não fora Sócrates quem disse,
“Homem, conhece-te a ti mesmo...”?
A imortalidade viva e perspicaz de ternura.



Se aqui, “ad absurdum”, o conhecimento da beleza
Torna-se ainda mais doloroso,
Empresa de longo fôlego.
Se lá, “ad infinitum”, o conhecimento da beleza
Será apenas idéias de mim.



Só eu sei o que isto significa.
Estar à procura de uma realização,
Não sabendo onde se encontra:
A ausência de compreensão e entendimento.
É muito mais profundo.
Resta-me agora a tarefa mais difícil,
Mas também a mais necessária:
Falar-vos brevemente a meu respeito
Sem pudor nem vergonha,
A fim de dar consistência ao pouco que exponho
Aos senhores até agora.



Porque vos poderia Ter sido exposto por qualquer outra pessoa, mas, para adquirir um mínimo de valor, deve estar, por assim dizer, encarnado em uma experiência concreta vivida. Melhor dizendo, é preciso mostrar que foi “pago”, porque não foi gratuito, nem, muito menos substituível ou suplantável, ou seja, anônimo e anódino.



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 19 de novembro de 2016)


Comentários