**O QUE HÁ-DE SER?** - Manoel Ferreira


Baldios terrenos de vazios sítios
Onde o nada habita solene e imperioso
Onde a náusea sobrevive de perscrutar o inaudito do não-ser
Perspectivas de imagens defectivando regências verbais
Do solipsismo des-ovado de id-ent-idade
Ângulos de paisagens re-flectindo cacófatos de ipseidades
Idades ipsis de pretéritos litteris e subjuntivos ensombrecendo
Ensimesmando utopias da continuidade do tempo,
Tragédia metalinguística da terra des-prometida
De res-plendor e maravilhas,
De esplendor e belezas,
Sina da metafísica do mundo entipigaitado de infortúnios,
Saga semântica de sofrimentos e dores das dúvidas
Cogito ergo non sum...

Dispersão significante des-provida de re-presentações
O nada, em seu instante-limite de solidão e silêncio,
O que há-de ser?
O nada há-de ser o que justifica e explica
O vento re-colher e a-colher a bastardia
Das circunstâncias e situações da ec-sistência
Plena de á-gonias e desesperos, considerações intempestivas,
Dos medos e tremores de questionar a liberdade,
Tremor e Tremor,
Tremor de Terra,
Das in-segurança e des-amparos da vida e morte
Sem horizontes, sem universos, perdido no verão
Sem pensamentos, sem idéias,
Andando à revelia nas noctívavas inspirações e intuições,
Por mais paradoxais e contro-versas sejam,
Do silêncio que a-nuncia ser a luz que alumia, numina
Os entes que nascem sem razão, prolongam-se por fraqueza,
Morrem por encontro imprevisto
Com a morte na alma, os dados estão jogados,
As cartas sarapalhadas no solo íngreme, rachado de raios de sol,
Portas de casebres semi-abertas
Janelas de mansardas trancafiadas a sete chaves
Vapt-vupt!
Trans-cend-ência,
Além,
Sobrevoar picos, colinas, serras
As ondas de luz banham o frontispício do abismo,
Os sons de in-auditos confins algazarram os limites do infinito.

O que há-de ser?
Ser de tempos preterizados de falsas esperanças?
Ser de tempos subjetivados de obtusos sonhos do eterno?
Ser de tempos participiados de mauvaise-fois do ec-sistir?
Quiça nada há-de ser, plenamente bastardo da verdade
Em absoluto proscrito do bem e do mal
A corrupção alimenta as in-competências e impotências da ganância
Os corruptos empaturram-se das vacuidades da sede
De celebridade, vomitam as in-congruências do nonsense
Despautério.
Vis-à-vis.
Vice-versa.
Vai-e-vem.
Andando no mundo, trilhando as estradas
Nada de mim.
Vazio de "eu", de quem sou, represento?
Coruja sem canto diante do céu sem estrelas, lua.

O que há-de ser?
Domingo - prato com resto de comida.
Doido, esquizofrênico, esquizóide, neurastênico, neurótico,
Varrido, psicótico
A comunicação com as coisas é impossível
Poque não tem subjetividade,
A comunicação com as pessoas é impossível
Porque tem subjetividade
Falando sozinho
Con-versando com os botões.

Manoel Ferreira Neto

(*RIO DE JANEIRO*, 29 de novembro de 2016)

Comentários