**POÉTICA DA CHUVA** - Título: Graça Fontis/Poema: Manoel Ferreira


A chuvinha serena, suave
Caindo leve
Desperta sentimentos, emoções, sensações,
Regando desejos, vontades, inspirações,
São sementes, húmus, pedras angulares
Do vir-a-ser in-trans-itivo
Regido e regenciado pelo silêncio in-fin-itivo,
A alma, de seus re-cônditos in-terditos,
Esplende miríades de segredos que,
Abrindo-se ao céu de nuvem cinzenta,
Mostra as dimensões sensíveis do verbo
A serem regadas de utopias, sonhos, esperanças
Da Vida, do Ser, do Eterno.



A chuvinha serena, suave
Caindo leve
Acaricia, acaricia
Alicia as asas do espírito
Que alça voo
Pelos vales, florestas, colinas
Irreverente, insolente, rebelde
O in-finito uni-verso é a sua meta
Fora os ilimites de confins, arribas
Que são as aspirações,
Onde se alimentará e eivar-se-á
Da liberdade do eterno além,
De onde prosseguirá a jornada
Desvastando espaços, fronteiras,
Voo sem fim.



A chuvinha serena, suave
Caindo leve...
A alma templa os abismos,
Grutas, cavernas,
De luzes místicas, míticas,
O que lhes residem no interior
Resplandece, fosforesce,
Espectáculo perfeito de beleza,
Sente-se tranquila, leve,
Perfecta para outros devaneios,
Ilusões, fantasias,
Para outras evasões de sentires
Do sublime, pleno, perene;
Choupana no recôndito da floresta
Onde os raios solares tocando-lhe o teto
Multiplica-se e ilumina a natureza verdejante
Bodega
Onde homens solitários tomam seus tragos
Contam "causos", aventuras,
Ou jogam as cartas,
Ou olham introspectivos e circunspectos
Para a escuridão além da porta.



A chuvinha serena, suave
Caindo leve...
O coração pulsa comedido,
Pulsações leves,
São alegrias, prazeres, gozos
Do instante-limite,
Pensamentos, idéias, ideais
Fluem livres,
Lembranças, re-cordações
Afloram-se sensíveis do tempo e das nostalgias,
Melancolias, saudades
Amores passados, amores correspondidos,
Amores impossíveis, amores ilusórios
Trans-elevam-se sonhos,
Trans-elevam-se esperanças,
Trans-elevam-se utopias
O uni-verso in-fin-itiva-se de horizontes
O horizonte in-fin-itiva-se de in-fin-itos
O in-fin-ito in-fin-itiva-se de aléns
O verbo do "Ser" des-abrocha.



A chuvinha serena, suave
Caindo leve...



(**RIO DE JANEIRO**, 15 de novembro de 2016)


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