**SEMANA //Blog **BO-TEKO DE POESIAS** - 18-24 DE NOVEMBRO DE 2016** - Manoel Ferreira


**À MERCÊ DE ALÉNS-EM-AQUENS - CURVELO DE NADAS E VAZIOS**



Etern-itudes pectivas con-templadas à luz de aquéns-em-aléns, vejo e ad-miro o mundo, quanta beleza!, muito distante está o horizonte, verdes e floridos campos, nuvens brancas passeando num céu azul, pássaros cantando entre as árvores; à mercê de aléns-em-aquens, sinto o presente verbo de mim, nasci no sertão, cai a triste noite, estou no meio do sertão, não brinquei, li livros, não namorei, não amei, as mulheres deste rincão onde nasci nunca me despertaram qualquer atração, talvez porque pense não cabe às mulheres a pequenez da mentalidade, sensibilidade, isto é para os homens, aqui nesta plaga do sertão os homens andam de calças curtas, por coisinha medíocre correm para de por baixo do vestido da "mamã", e por todos os recantos por onde andei, encontrei mulheres sensíveis; cultas, mentalidade aguçada, namorei-as, senti-me muito feliz, fizeram-me crescer, amadurecer; cai a notívaga madrugada, algo está escrito nas estrelas, letras garrafais, não consigo ler, vejo a lua cheia, sem emoção, ouço o barulho dos grilos nas trevas - olhando a lua no céu, nasce a inspiração, não viverei de brancas nuvens caso a esperança habite-me o coração; a vida se faz de passos que deixam traços e marcas -, graduei-me, mochila nas costas, hora de o sonho realizar, a estrada não teria fim, cada passo um passo, de passos em passos passos. Resido no início de uma rua onde a cidade começou, Santo Antônio da Estrada, o sertão começa aqui , depois do sertão vem o Norte, depois do Norte vem a Bahia - pudesse, conheceria o Brasil inteiro, menos a Bahia, não me fascina em nada.
Sentado na amurada do quintal, acima de mim galhos e folhas de ipê amarelo.
Etern-itudes pectivas vislumbradas sob a continuidade dos sentimentos, desaparece a insistente melancolia e leva consigo a nostalgia, como também o estado de anomalia, acabando meu instante-limite de tristeza, vazio apenas, o alvorecer será de chuva, a enxurrada levará todos os detritos para o córrego Santo Antônio, que no passado era de águas cristalinas, hoje tão simplesmente esgoto a céu aberto, ao lado o hospital de mesmo nome, onde a mim fora dada a luz da vida, só abrindo os olhos três dias depois. Quiçá passe o dia inteiro deitado na cama, olhando as coisas, os objetos, desejando e buscando a vida de plenos sentidos e não os sentidos plenos da vida. A madrugada segue a sua trajetória rumo ao amanhecer, três horas, resta pouco para o galo começar a cantar, distantes alguns, outro numa casa vizinha, a cigarra canta, quando a cigarra canta é prenúncio de chuva, assim dizemos aqui no início do sertão. A chuva será uma dádiva divina, o calor está intenso.
Rolava na cama, rolava na cama, o sono não chegava. Abri a porta. Sentei-me nesta amurada. Quem sabe agora consiga dormir, contando carneirinhos, um foge do rebanho, vou lá atrás dele. Aqui os carneirinhos são pensamentos curtos, sem caudas, sem orelhas. Quem dera eu sorrisse agora de orelha a orelha com um pensamento longo.
A madrugada custa a passar.



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 22 de novembro de 2016)


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