**IN-FIN-ITIVA GRAÇA DA UTOPIA E DEVANEIOS** - Manoel Ferreira


Grimpas à sombra de vernáculos da palavra,
Sons, imagens,
Música do silêncio,
Imagens do espaço sem fim,
Linguistificando os ditos da imperfeição,
Im-perfeição que perfecciona dialécticas e contradições,
A fala do des-presente dos ideais e utopias,
Escarafunchando as poeiras do nada,
Cobrindo os vazios do sem-nonada,
“Porfim” do inconcebível da in-leveza
Do insustentável ser,
Ser de abas largas que diminuem
Ao longo das vivências e experiências,
No per-curso da morte para a vida,
Não a morte luz da vida-para a perpetuidade,
Perenidade,
Não a escuridão da morte-para o aquém do gênesis.
In-fin-itudes de margens de estradas, de alamedas, de rios
In-fin-iríasis de perspectivas e possibilidades do belo, da beleza
In-fin-idades de sonhos verbalizando sentimentos e emoções.



A árvore do ser,
Por inter-médio das dialécticas das nonadas
Em direção às pontes partidas carnavalizam
Os abismos de ventos,
Ventos do redemoinho,
Ares do catavento,
Atrás das montanhas que não visualizam
O além da inconsciência da travessia
Das con-tingências de lágrimas,
Enclausuradas aos limites,
Obstáculos,
Impossibilidades do ser-para a vida
Fronteiras do in-audito, invisível para o In-fin-ito...
Vida é sentir não a sua profundidade,
Despertar espíritos para a realização
Do sublime amor ao eidos da espiritualidade,
Ser vida é templ-orar no tabernáculo do ser
O buraquinho da sensibilidade e espiritualidade.



Astros submersos,
Constelações escondidas,
Planetas invisíveis
- a maior loucura do mundo
Se explica por certo modo
De perder esta outra cena,
E o fantástico não é outra coisa
Senão a dissolução da fantasia,
Senão o olvidamento das quimeras, devaneios,
Devaneios do nada,
Devaneios do vazio,
Devaneios das sorrelfas.



Terra estéril, sobrevivente eu.
Clamo a morte do homem,
Rogo o fim da raça,
Imploro o apocalipse das estirpes,
Anuncio a sua vinda.
Choro meu de alegria,
Oh, anjos da nova pura!
Riso meu de tristeza,
Oh, querubins da nova inocência!
Cântico dos anjos da anunciação,
Dos anjos das trevas e do desastre,
Os sinos nos domus das igrejas,
Basílicas,
Catedrais,
Santuários
Bradam para o vazio do mundo,
Para o nada dos confins do infinito,
Para o indizível das arribas do universo.
Virgindade do meu sangue,
Um Deus Menino vai nascer.
Os deuses nascem sobre o sepulcro dos deuses.



E um silêncio longo,
Feito da neblina ao longe,
Encobrindo a montanha,
Da cidade sepultada em solidão,
Do cemitério circundado de palmeiras,
Do cerco à volta do espaço para além,
Abre-me de um abandono final
- o de quem está ao pé e já nem se olha,
Já nem se sente,
Já nem se vê,
Já nem se vislumbra.



O espaço esvazia-me até ao limiar da memória,
Onde alastra o meu cansaço,
O afago quente de um coro,
O aceno de sinais que se co-respondem
Como ecos de um labirinto.
Num bafo secreto
Afloro o que estremece sob os gestos alfim apaziguados.



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 17 de novembro de 2016)


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