**PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DE /**BO-TEKO DE POESIAS**, 24 de novembro de 2016 - VAMOS RIR A BANDEIRAS SOLTAS** - Manoel Ferreira


**COM A AVÓ ATRÁS DO TOCO**



O que estaria fazendo com a avó atrás do toco? Logo atrás do toco! Não poderia ser noutro lugar? Atrás da amurada, atrás da árvore, atrás do mato (mato tem atrás... para quem não sabia).
Atrás sempre acontecem coisas do arco da velha - até a velha se espanta, surpreeende-se com as coisas do arco dela -, especialmente atrás das moitas. O atrás da moita ficou famoso, e com a avó. Quanatos foram concebidos lá! Há mulheres que amam de paixão fazer amor atrás da moite, dizem ser uma delícia. Há quem tenha ódio de só imaginar que foi concebido atrás da moita.
Tenho um sonho: fazer amor à beira de um rio. Espero um dia realizá-lo à critério e com distinção. Atrás da moita de forma alguma: tenho medo descabelado de cobra.
Muito comum alguém ter aquela vontade desenfreada de ir ao banho e não encontra lugar, procura o mato, algum terreno baldio, realizando a sua vontade.
Já me aconteceu. Na pracinha da Faculdade de Direito, Belo Horizonte, esquina de avenida João Pinheiro e avenida Augusto de Lima, os bares não me deixaram usar o WC. Desci a calça no meio da praça em pleno domingo, meio dia, com transeuntes passando. Não faria nas calças - pegar ônibus todo fedido? Taxi ou moto-táxi não aceitariam a corrido. Andar nas ruas de pernas abertas - de jeito nenhum.
Havia, ainda há, um beco sem saída perto da residência de minha famólia, onde morei por quarenta e quatro anos. Neste beco, residencial, havia um homem, andarilho, quem todas as manhãs fazia sua necessidade fisiológica num cantinho, ficava de costas para uma janela. O proprietário já estava chamando elefante de papagaio, muitíssimo irritado. Tomou a sua providência. Encheu uma espingarda com tempero quente, muita pimenta malagueta, sal e limão. Esperou o andarilho com a espingarda na janela. Quando o adnarilho abaixou s calças, de costas, mostrando o que não devia para o proprietário da residência, este mirou e atirou. O andarilho saiu gritando, enrolou nas pernas da calça, arrancou-a e seguiu rua a fora gritando, chorando de tanta dor.
Atrás... Atrás do toco...
Não conheço nada de atrás do toco. Sei que não amarro meus jegues no mesmo toco de algumas pessoas. Meus princípios não se coadunam com os delas.
A música Roda-Viva, Chico Buarque de Holanda, diz: "Tem dias que a gente se sente/como quem partiu ou morreu..." Tem dia que nos levantamos putos da vida, raiva, ódio, tudo o mais no mesmo gênero, qualquer olhar ou palavra do outro é motivo de descascar os pepinos com a lâmina afiadíssima dos palavrões. Há-de se sair de baixo. A coisa fica deveras preta, muito preta.
Quando, no café da manhã, ficava de cabeça baixa, olhos metidos na xícara de café, no início de meu casamento com Ádria, paulista da gema, dizia ela: "Xiiiiiiiiii Acordo com o rabo azedo." Não dava atenção, confiança para tais palavras, Meu rabinho sempre me foi preciso: só abana quando me encontro com os homens de altíssimos pedigrees Chamo de pedigrees os senões da dignidade e honra. Abano meu precioso rabinho fazendo um círculo no sentido anti-horário.
Paulista diz: "Acordou com o rabo azedo"
Mineiro diz: "Acordou com a vovó atrás do toco."
Todas as vezes que Ádria, minha de excelência mulher, amante, esposa, companheira se referia ao meu estado emocional negativo ao acordar: "Xiiiiiiiiiii Acordo com o rabo azedo..." pensava e sorria às furtivas: "Já pensou minha avó atrás do toco com o rabo azedo? Lembrava-me do andarilho. Até Deus deixaria de ser omnipresente.
Mas esta pergunta tinha um fundamento em relação à minha digníssima avó paterna - a materna era trapezista de circo, a patera era vulgar, vendedora de dobradinha pelas ruas, ignorante e baixa. Esta minha vó viu a "Desgraça" nua num pé de abacate no quintal da casa dela, frente à rede em que estava sempre deitada, mascando fumo e cuspindo no chão. O capeta fez uma viagem longa, demorada pelas terras de Cordisburo e ela estava matando pulgas a beliscões de tanto tesão. A Desgraça, para quem não sabe, é a messalinha de Mefistófeles. O marido de minha avó paterna só gostava de fazer amor atrás. E quando ele estava com o diabo no couro, sentia dores além de toda a sensibilidade, Por vezes ficava ferida.
Para mim, não existe o atrás, existe o "frente". Faço tudo frente a frente. Não temo qualquer cobra.



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 24 de novembro de 2016)


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