Tudo isto borrifado de uma inveja, um despeitozinho acre.
Bem-aventurados os jegues que zurram da estirpe em grande estilo e depois dão coices na própria, porque no Reino de Deus receberão as graças da laia. 
Bem-aventurados aqueles que ostentam suas vaidades falsas, rebolam pelas ruas e avenidas da cidade, olham de esguelha para os de condutas idôneas, de baixo para cima para os pobres de espírito e miseráveis de alma, de frente para os cornos da elite, porque serão esquecidos por sempre, poderão curtir o além sem interferências dos comentários dos vivos.
Bem-aventurados os medíocres e mesquinhos, porque, no além, cairão na gargalhada altissonante de suas empáfias de dignos e sérios; verão com primor que foram objetos de chacota de todos, inclusive dos entes mais que queridos e amados, serviram de palhaços para as risadas e risos.
Bem-aventurados os limpos de algibeiras, porque, além de andarem mais leves no paraíso, não as sujou na terra com as merdas do poder, do orgulho, com as imundícies da fama e do sucesso.
Bem-aventurados os que nascem finos, prolongam-se finíssimos e morrem de uma finura sem precedentes, recebendo epitáfio na lápide de mármore mais do que digno dos amigos, inimigos, íntimos e conhecidos “Nasceu fino, prolongou-se finíssimo, morreu de finura sem precedentes, um exemplo de dignidade e honra”, porque gozarão no jardim do éden dos mais finos prazeres e felicidades.
Bem-aventurados os de finesse pura e inocente, porque além do bem e do mal irão derramar lágrimas pujantes por haverem engolido tanto sapo seco, beijando e abraçando a todos com agradecimentos os mais reais e verdadeiros, tirando o chapéu cinza, aba largar, re-vereciando com todas as volúpias da alma, presenteando-lhes em todas as ocasiões de sua vida, aniversário, conquistas, realizações, natal.
Bem-aventurados os que nascem grossos, porque morrerão finos, criança lhes carregarão o esquife na cabeça.
Bem-aventurados os canalhas que palitam os dentes sempre que comem o moral alheio com azeite e sal, porque no inferno vão conhecer outros pratos mais deliciosos. 
Bem-aventurados os vencedores, porque receberão dos contemporâneos e conterrâneos as digníssimas batatas com que se alimentarão por sempre, e ainda no paraíso celestial conhecerão outros cardápios com as mesmas. 
Bem-aventurados os vencidos, porque serão objetos de felicidades dos inimigos, pena e dó dos amigos e íntimos, orações dos homens pedindo a Deus graças para se libertarem, porque na terra despertou todos para os ensinamentos de Jesus.
Bem-aventurados os analfas de mãe e betos, porque no Juízo Final não saberão usar única palavra, e São Pedro irá abrir-lhe as portas, porque não foram maculados com o sentido e poder das palavras, nasceram puros, morreram puríssimos. 
Bem-aventurados os súcias que viveram de prazer e felicidades numa sociedade de dúvidas e angústias, porque na morte degustarão a angústia e desesperos por só o inferno lhes ser o destino inevitável. 
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque no céu serão conscientes da riqueza da alma. 
Bem-aventurados os imbecis de alma e espírito, porque nas algibeiras do além saberão os efeitos, resultados da imbecilidade sem precedentes em toda a história do mundo e da humanidade. 
Bem-aventurados os bêbados de cachaça e outras bebidas, porque na paz indevassável dos túmulos se sentirão sóbrios e lúcidos com o odor fétido do cadáver.
Bem-aventurados os mentirosos, porque de por baixo da árvore do conhecimento, no paraíso celestial, curtindo a sabedoria da verdade, a verdade da sabedoria, saberão que a verdade no mundo era só farsa e interesses escusos múltiplos. 
Bem-aventurados os políticos corruptos, os militares cafajestes, autoridades escusas, porque no Reino do Céu receberão o troco dos espíritos que foram lesados por eles. 
Bem-aventurados os juízes safados e caguinchos que condenaram e enjaularam os inocentes, libertaram os criminosos e culpados, porque receberá de Ferluci sursis por que os inocentes teriam de conhecer a animalidade da raça humana para serem merecedores do inferno. 
Bem-aventurados os fracassados, porque na outra vida conhecerão o sentido da vitória máxima do fracasso da vida na terra.
Bem-aventurados os “oportunistas da imortalidade”, porque a ausência de suas letras verdadeiras e dignas não corrompeu os leitores que tinham sede e fome de conhecimento e verdade, de quem lhes indicassem caminhos outros que não os que sempre trilharam na vida, e muito os deixaram perdidos, confusos, os desvirtuaram das esperanças de ressurreição, redenção, da fé na vida, no mundo, na existência, em Deus.
Bem-aventurados os cínicos, porque não serão vítimas de contos-do-vigário da verdade absoluta e perene; ela será objeto de mofa e quem nela crê impiamente será considerado por eles bobos da corte.
Bem-aventurados os irônicos, porque duvidarão das boas intenções de que o inferno está cheio, das más intenções de que o céu está entupigaitado, e quem acredita na redenção será por eles olhados através do pincenez e com a ajuda de lupa.
Bem-aventurados os sarcásticos, porque rirão a bandeiras soltas de todas as morais sociais, científicas e religiosas, de salão e relações íntimas; de todos os princípios que edificam, glorificam o ser humano.
Bem-aventurados os sátiros, porque em suas penas não passarão batidas as hipocrisias das crenças e esperanças na conversão das mazelas e pitis dos homens e gerações desde agora até a consumação dos tempos.
Bem-aventurados os hipócritas, porque descansarão em leitos de flores no regaço suave e terno dos túmulos de mármore branco com direito a um epitáfio retirado do Evangelho de Judas.
Bem-aventurados o povo que erguer em praça pública bustos de bronze de todos os que desonraram seus princípios e dignidades, pois que em breve, brevissimamente, conhecerá os prazeres que viveram os homens de Sodoma e Gomorra.
Bem-aventurados os secretários de cultura que mostrarem às comunidades o caminho irreversível para a insanidade ou para a perda do senso de vida e relação entre os homens é assimilá-la a critério, e também que a cultura é prejudicial aos interesses de uma comunidade digna de reconhecimento.
Bem-aventurados os escritores que defendem a unhas e dentes as ideologias dos poderosos, e condenam as esperanças de conhecimento e verdade, porque suas letras serão húmus da mesmidade ideológica em todos os tempos.
Bem-aventurados os tablóides sensacionalistas, porque eles não deixam as merdas da sociedade sejam esquecidas, os leitores precisam saber das sensacionalidades para cantarem no puleiro de conhecedores da história de seu tempo.
Bem-aventurados os traficantes de drogas, porque contribuem para a concretização do Apocalipse. 
Bem-aventurados sois todos estes, quando vos injuriarem e disserem todo o mal que re-presentam no mundo, são na vida e existência, por meu respeito, por minha consideração e reconhecimento.
Folgai e exultai todos vós identificados nestas páginas de sabor clássico (?) com amor e carinho sem limites e precedências, não por ser humano e compreensivo, entendo e bem a natureza e condição dos homens de todos os séculos e milênios, desde os primórdios até a presente data, não sei o dia de amanhã, peço a Deus que não mo re-vele, compreendo os instintos, mas porque sei a vida mesma, em sua plenitude terrena e contingente, é deles, é o bom senso da modernidade; além disso, porque o vosso galardão é engenhoso e copioso na terra; não haverá único homem que conteste, duvide, desconfie, fique em cima do muro sem saber se desça ou permaneça nele, todos em uníssono e em vozes altissonantes irão endossar com caligrafia nunca dantes vista ou imaginada. 
Não julgueis que venho acabar com raça da ralé da humanidade, mostrar-lhe o que lhe espera no além, no inferno ou no céu, venho para lhe glorificar, enfiar-lhe na cabeça a tiara de que são merecedores, enfim “a posteridade é a vingança dos que sofrem os desdéns do seu tempo”, porque o que seria do mundo sem eles, enfim precisamos todos de diversão e entretenimento, precisamos de matéria viva para as fofocas e censuras, para nos justificar de nossas condutas espúrias, sentirmo-nos os supra-sumos das criaturas de Deus. 
Não acrediteis em comunidades depravadas. Em verdades vos digo que todas têm condições de remendo, e se não for com remendo com o mesmo tecido, será com outro que se lhe assemelhe. 
Jesus pediu a todos os homens que amassem uns aos outros como Deus os ama a todos. Pois eu vos digo com empáfia: Comei-vos uns aos outros; mais interessante e esplendoroso é comer do que ser comido; o fígado alheio é muito mais apetitoso que o próprio; o rabo alheio é muito delicioso que o rabo mesmo; o bofe alheio é mais nutritivo que o próprio bofe. 
Também foi dito aos homens: Não matareis a vosso irmão, nem a vosso maior inimigo, capital ou congênito, para que não sejais castigados nem sejais encontrados mortos nalgum terreno baldio da periferia da cidade pelo seu maior amigo ou ente mais que querido. Digo-vos que não é preciso matar a vosso irmão para ganhardes o reino da terra; basta tirar-lhe o último tostão que lhe permitiria um “prato feito” num botequim copo-sujo. 
Nunca jureis a verdade plena e absoluta, porque esta verdade, além de imoral e indecente, é carne de pescoço ou músculo, duras de mastigar e serem digeridas com facilidade; jurai sempre e a propósito de todas as coisas, porque os homens foram criados para crer antes nos que juram falso, do que nos que nada juram. 
Políticos, se vós estiverdes fazendo as contas do que conseguistes tirar dos vossos leitores em toda a vossa gestão, e vos lembrardes que o povo anda meio desconfiado de vossas altas finanças, interrompei vossas contas, saís de casa, ides ao encontro de vossos eleitores na rua, restituis-lhes a confiança, e tirai-lhes o que eles ainda levarem consigo para construirdes a vossa mansãozinha na Soares do Santos, de preferência bem próximo do Hospital Imaculada Conceição.
Não roubeis na cara da comunidade porque ela pode ir contar à polícia, e aí as conseqüências serão funestas, além de não mais poderdes candidatar em outras eleições, sereis sempre lembrados como ladrão cara-de-pau. Se tiverdes de roubar para ostentar a tradição dos políticos, roubai às escondidas, e muito, para que não passeis para a história como ladrãozinho barato. 
Quando quiserdes tapar um buraco, entendei-vos com um sujeito engenhoso, um verdadeiro artista, que faça dez de três e quatro. 
Não quereis jamais guardar vossos bens materiais na terra, onde a ferrugem e as traças, baratas, ratos os consomem, e donde os ladrões os tiram e levam. Levai-os dentro do caixão, enfim ninguém nunca os levou para a sepultura, só o caixão os levou para lá. 
Jamais fieis em ninguém. Em verdade vos digo, que cada um de vós é capaz de comer o seu vizinho num prato de louça bem chic, de garfo e faca de prata, com todas as etiquetas, e boa cara não quer dizer necessariamente bom negócio. 
Vendei sempre gatos por lebres, as lebres estão em extinção, os gatos soltos pelas ruas, e ações ordinárias por excelentes, a fim que a terra se não despovoe das lebres, nem as péssimas ações pereçam nas vossas mãos. 
Não julgais para não serdes julgados; não examineis as finanças dos outros para que as vossas não sejais examinadas com maior perspicácia e acuidade, e não resulte os dois irem ver o sol nascer quadrado, quando é melhor ninguém o ver assim, o esplendoroso é que ele seja bem redondinho e emita os seus raios com transparência e nitidez. 
Podeis excepcionalmente amar a um homem que vos tirastes da sarjeta e vos destes uma cadeira giratória nalguma repartição pública, uma mesa cheia de deveres, responsabilidades, compromissos os mais diversos; não até o ponto de o não deixar com as cartas na mão, se jogardes juntos o pôquer dos poderosos. 
Todos aqueles que ouvem e lêem estas minhas palavras, nestas páginas de sabor clássico (?), e as observam com perspicácia, vêem-lhes as entrelinhas com transparência e inteligência jamais imaginadas em todos os livros da humanidade, serão comparados e reconhecidos, considerados e respeitados como homens sábios, que edificaram sobre a rocha e resistiu aos ventos e tempestades, tsunamis; ao avesso do homem sem consideração, que edificou sobre a areia, e fica a ver navios por toda a eternidade até a consumação dos tempos...

Aqui acaba a minha mensagem que inventei especialmente para declamar, discursar em eventos públicos, recitar nalguma tribuna, antes de dormir o meu sono de homem justo, de quem sempre se preocupou com o destino da ralé da humanidade. Apesar de tudo, irmãos e irmãs em Cristo, não res-pondo pelo papel, nem pelas doutrinas e teses que nas entre-linhas estão re-presentadas, nem pelos equívocos de linguagem e estilo que porventura haja cometido, enfim nada pensei e senti enquanto estive a elaborar esta mensagem para a salvação e ressurreição da ralé da humanidade, não significando o meu desejo seja de se converterem, mas que tenham certeza e convicção de que merecem consideração e respeito dos homens idôneos de caráter e personalidade, em primeira instância manuscrito numa mesa de botequim, depois em caráter oficial os dedos de ambas as mãos deslizaram rápidos nas teclas do computador. Só agora é que vou ler, ver e sentir o que está registrado nestas quase duas páginas de sabor clássico (?).

Manoel Ferreira.
(29 de janeiro de 2016)


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