*TREM DA GLÓRIA - BLUES II* - Manoel Ferreira


Chorei toda a noite
Alma de sombras e brumas
Crepúsculos de desejos e vontades
Envelados de tristezas, melancolias,
O trem da glória segue os seus trilhos,
Passando pelas pontes, águas correndo
Seguindo a trajetória dos caminhos,
Na alvorecer nublado,
A glória continua na linha férrea
Passeando vazia pelos dormentes,
Nas ruas ainda desertas, os boêmios
Levam a guitarra no ombro,
Dedilham nos sentimentos das nostalgias
Pre-cursoras das notas das utopias efêmeras
A melodia do andarilho sem amor, sem rumos,
Sem destino, sem projetos,
Gozando os prazeres da solidão, a alegria do silêncio
Da vida caminhando, olhando os horizontes além
Dos trovões da montanha, riscando o céu de raios estrídulos,
Desfrutando os êxtases da angústia
Da felicidade que não sentiu, do contentamento
Que deixou no vagão do trem para lugar algum,
Rindo do tempo que não marcou de horas
As lembranças e recordações de outroras dos sonhos impossíveis,
O "Bar das Ilusões" aberto para a chegada e partida dos boêmios da manhã
Café bem forte, o cigarro no canto da boca, olheiras, vozes roucas,
A glória continua saltitando pelos dormentes da linha férrea
- O trem continua sua viagem atravessando montanhas, prados -,
Quiça no crepúsculo do vazio e do nada
O condor pouse no domus da igreja da estrada,
Ritmos outros de solidões e silêncios sejam compostos
Na lírica de "Ao seu lado, esqueço-me de que fui sempre blues",
Sons outros de medos do ontem que embarca no vagão de amanhã
Para o Eldorado, Colorado dos enganos,
"Não estou assim tão enfurecido por cometer os enganos da vida",
Sejam compostos do hoje de nuvens escuras no céu
De todos os tempos de nada à busca do absoluto
Envolto no sudário de tristezas e nostalgias puras, solenes, sublimes...



O trem da glória
Continua seguindo a sua trajetória
Levando nos seus vagões os sonhadores do Amor,
Os idealizadores da paz,
Os mestres da guerra,
Solidão e silêncio caminhando lentamente pelos dormentes
Da linha férrea, acompanhando os vagões que dançam nas curvas de abismos...
Na manhã, os boêmios saem do "Bar das Ilusões",
Pós o café forte, cigarro no canto da boca, vozes roucas, olheira,
Levam no ombro a guitarra...



Manoel Ferreira Neto.
(31 de janeiro de 2016)


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