**PRÉVIO** - Manoel Ferreira


Quisera com esta única palavra, adjetivo, em verdade, esclarecer o sangue que perpassa as veias, as esperanças que roçam de leve os desejos íntimos de plenitude, as mãos que se erguem aos céus, pró-clamando a espiritualidade existente nas folhas de árvores, nas flores dispersas e de diversas qualidades, re-clamando o pão nosso de cada desejo, emoções, intenções, e tudo isso nada significando senão sonhos, senão fantasias!
Estas palavras são lugares-comuns, estilo retrógrado, imbecil, démodé!
Pudesse torná-las plena de vida, de mensagens, de algo a despertar nas mentes grávidas sonhos e utopias!... Ah, não posso!... Perderam a essência, e, dizendo assim, nada mais significo senão as verdades que as constituem nada mais dizem respeito ao homem, este tem outras preocupações, necessidades, outras bem-aventuração a cuidar para as verborréias insanas do poder e vaidade...
Quem sabe alguém imagine ou pense a partir do momento em que se decide a garatujar palavras, na folha branca, sonhos tenham sido, antes, intuídos, objetivos, de modo prévio, hajam sido especificados, coevas esperanças hajam sido esclarecidas, tudo o que resta se resume a sentar-me e pôr-me a delinear os símbolos, sentir-me alegre, exultante, com esperanças nunca dantes haja imaginado ser possível registrá-las, o que os homens, na eternidade, estarão buscando traduzir, para assim tornar-lhes vida, sincronicidade com as ilusões e consciências, embora estas palavras tenham sido escapadelas e fugas de coisas que estão mui distantes de compreensão...
Busco com único olhar, bem próximo às palavras, quase não as reconhecendo, quase não as lendo, fossem apenas pequenas sombras, espaços brancos e vazios, diante das retinas, aspiro a reconhecer assim para quê me fui despertado, saber a quê fui vocacionado...
Tantos anos e circunstâncias, isto no que se refere aos sonhos e utopias, a consciência de que estive a fugir dos valores a que fui destinado desde toda a eternidade; tantas idéias e situações, acumuladas no íntimo, queridas e deixadas ao léu; e eu aqui a dizer tudo isso, com dores e felicidades, desejando algo, não sabendo, de antemão e revezes, o por quê de serem assim, hoje, de haverem sido, outrora...
Ah pudessem os coevos amigos compreender vez por todas o que nestas palavras intuo ser a origem de sentimentos, intróito de esperanças de saciar a sede nas fontes de águas límpidas, nos sonhos do verbo amar!... Mas, antes, buscar, no percurso deste rio sem margens, sem pressa, o que dentro em mim intui alcançar o sonho. Deveria dizer deste modo, se as águas não têm razão nem objetivos a serem alcançados, realizados, ou de outro a despertar nos íntimos o silêncio que outra coisa não é senão o eco de desejos e vontades que não foram realizados?
Tantos minutos e situações, isto no referente ao trabalho de compor as circunstâncias, as angústias que se revelaram no comenos de algumas idéias dispersas entre as esperanças de as palavras serem verbos, espelhos em que palavras e atitudes não sejam apenas reflexos, imagens, e sim... Sim, o quê? Isto que devo por tempos buscar, sem saber que irei realizar.
Ah, tudo isso algo mais não significa senão estar à busca de dizer palavras no silêncio, preencher-lhe de algo, algo este não me deixe ficar olhando, distante, para única direção, imaginando a atitude transcenda os limites todos me fui acumulando no íntimo, justificando-me dos erros e enganos em que estive envolvido, sendo eles a única verdade, e outra coisa não me restando senão... Não ouso terminar a idéia antes revelada no espírito por me haver perdido em senões, e estes nada mais dizem do que uma impossibilidade de estabelecer... Fugiram-me as idéias.
Quem sabe outrora não me tenha sido possível expressar os sentimentos que insistem em se apresentar, ora esteja tentando resgatar o momento da anunciação, buscando a partir de experiências outras revelar, mesmo com dificuldades que não saberia avaliar em tempos vindouros, o que me perpassara o espírito, deixando-me sedento de águas que me saciem a sede!... Quem sabe?!...
Diante de tantas idéias, emoções, sonhos, não esteja só buscando palavras que se tornem poemas, preencham os vazios, digam das ausências que me habitam, das carências que residem em mim, e não sei como as hei de superar, dar-lhes outros horizontes... Não o sei. Não sei mesmo. Se soubesse, seria momento de refletir sobre as coisas que posso ver, as coisas que surgem ao espírito e não as sei traduzir de modo que me indiquem caminhos a serem seguidos...
Ah posso eu, em estilos e esperanças, despertar-me para os mistérios que habitam a alma, e nada dizer senão que estas palavras são de homem quem sonha as montanhas e serras vistas à luz de esperanças, a busca de raiz que seja a essência da vida, das alegrias...
Disseram-me, oh, que me sentiria realmente bestificado diante destas palavras, sendo eu as dizer, sentir-me-ia alegre por as pronunciar, no íntimo de mim a alegria de quem disse e fora entendido vez por todas, e por isto mesmo esquecido desde todos os tempos.
Prévio é o amor que se me revela distante, longínquo, e que a sabedoria e inteligência identificam a carência em mim existente, e por estilos e estratégias busco tergiversar aos tempos e às idéias. Prévio é o silencio que antecede ao eco que projetara desde toda a eternidade, mesmo que frente a todos os pensamentos que se mostraram diante do espírito sedento de luzes, mostre o porquê de estar, antes de tudo...
Sinto-me alguém quem esteja solitário - desejasse as chamas do fogo, que se me revelam nítidos e nulos; no futuro, revelassem, manifestassem, des-ocultassem sonhos antes imaginei quimera, fantasia, e por isto haver sentido que me elevo à condição de quem transcende aos sonhos todos, e todos os homens desejam no íntimo compreender, saber a que prévio sentimento esteja a referir-me, a que prévio sonho esteja a aludir-me, se ao de completude ou se à utopia de quem busca e só se realiza a partir das intuições a se apresentarem ao espírito nítidas de vida e esplendor.
Quem pode isto saber? Saber o sonho ser prévio às circunstâncias, dificuldades ao longo da vida? Quem pode saber isto? Creio que alguns irão relacionar seus sonhos às necessidades de sobrevivência, às utopias de realizações que justifiquem as dores da efemeridade das paixões...
Pudesse eu, ao invés de, em tábuas longínquas, in-versos, revelar os invernos todos a tocarem-me a pele, adentrarem-me todo, manifestarem-me as carências que pré-sinto ao longo dos pensamentos e idéias, realizar a vida que se mostra plena e absoluta, lançando-me a outros estilos e modos de dizer que prévio é o instante em que sonho a vida, a sublimidade, a pureza, a inocência.
Prévio é o amor... Tentativa de encontro e prazer. Desejo de felicidade e paz.

Manoel Ferreira Neto.
(27 de janeiro de 2016)


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