*ARTE DA MISÉRIA, HIPOCRISIA, NADA* - Manoel Ferreira


Cinzas cristalizadas
Ideais niilizados, idéias fenecidas
Desejos nulificados, esperanças destruídas,
Fé esquecida,
Nada, nonsense, vazio
Na moldura do tempo que segue a sua trajetória...

Não, não é moldura
Suspensa nas paredes da vida humana.
Apenas parecem.
São alizares miseráveis das janelas,
Sempre fechadas, feito celas.



E dentro delas - o que se vê, o que se enxerga?
Não é pintura de artistas famosos,
Não são obras-primas de escritores, poetas consagrados.
É a obra homérica
Da sociedade hipócrita, falsa, medíocre e mesquinha,
Da sociedade gananciosa e egoísta,
Da sociedade dos bens materiais, dos interesses e ideologias escusos,
Incapaz de lançar o olhar
Além das próprias janelas;
De arejar a alma, além dos próprios quintais de jardins floridos,
Árvores frondosas de frutos deliciosos,
Desejando sempre, e, cada vez, mais,
De espairecer as idéias, além dos desejos e vontades dos projetos individuais.



Não, não é a pintura retratando, re-presentando a guerra.
É o retrato da própria terra,
Que se dizima em violência, injustiça, desumanidade,
No confronto de irmão contra irmão.
É um combate por "nada",
A deus-dará, à mercê do vazio do princípios morais e éticos,
Seja dia, seja noite,
Entardecer ou alvorada.



Não, não esculturas animadas,
Apesar da similaridade.
São mulheres, velhos e crianças
Que jazem sob as pontes, nas calçadas de avenidas e ruas,
Malroupidos, desigiênicos,
Esfomeados, sem horizontes.



Não se trata de pintura barroca.
É o morro, é a favela,
Onde a miséria está na boca, na barriga,
no sexo, na mente.



Perguntam: "Quê país é este?"
- Só num país existem a miséria, a mediocridade, hipocrisia? -



Quê mundo é este?



Manoel Ferreira Neto.
(31 de janeiro de 2016)


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