*FONTE LUMINOSA DO TEMPLO DE FESMIONE* - Manoel Ferreira


I



Sete agulhas teceram o sudário que cobre o corpo do tempo à luz do efêmero e eterno, bailando nas bordas do vento longínquo a caminho do além.
Sete notas dedilhadas no violão deram origem ao cântico dos cânticos, esplendendo de ritmos as versatilidades da verdade re-vestida de verbos a conjugarem os temas do belo, projetando de enredos e melodias do absoluto re-nascido nos interstícios do abismo habitado de vazios e solidões.
Sete faíscas riscaram o crepúsculo de nuvens escuras, iluminando a genesis do ad-vir de estrelas e lua suspensas nos sonos de prata.
Sete vidas que são lapsos, que são riscos, que são risos, que são cortes trazem o vento, trazem folhas caídas, roladas, tormento, silêncios presos nos lábios desertos.
Sete sombras na calçada da rua solitária e deserta delineiam a imagem líquida e etérea do ocaso refletido no entardecer numinoso do Dia de Finados.
Sete vultos pairam, veementes, e por mais que se clame - é noite, com seus inúmeros silêncios.
Sete línguas recitam em palavras a verdade dos vazios e nadas, entre-laçados nos abismos do logos e do cosmos, concebendo no tempo de sonhos e verbos o subjuntivo do amor-templo-do-paráclito.



II



Sete mãos re-colheram no espaço celeste nuvens brancas e com elas esculturaram a fonte luminosa do Templo de Fesmione, e com as cores vivas do arco-íris imaginaram as águas jorrando luzes ao longo dos horizontes e universos.
Sete lâminas de machados entre-cortaram em sete árvores da floresta silvestre as sete imagens da plen-itude, as sete luzes que nestas imagens incidiam re-velaram os sonhos do ser perspectivados de miríades numinosas do in-finito.
Sete estrofes musicalizadas de desejos ritmados de esperanças, utopias melodiadas do ser-para-o-pleno, compuseram a memória do silêncio onde toda é vida diversifica a natureza.
Sete imagens lavradas no espelho da face, sete poemas lavrados na imagem da pedra, sete pedras lavradas no sofrer da face, sete tempos na questão da morte.
Sete degraus antes da soleira do infinito, sete passos neles antes de vislumbrar no longínquo do espaço as cintilâncias da alegria e felicidade que velarão as alamedas e ruas desertas por onde os boêmios passarão recitando poemas da solidão.
Sete genesis, filtrando raios de uma lembrança dispersa, acendem candeeiros nos subterrâneos por onde as tristezas e angústias passam em busca da planície cujos caminhos trilharão passos à busca dos verbos de tempo que compõem a felicidade.
Sete princípios adormecidos escutam a cantata onírica de meus desenganos, velam por mim e murmuram a cantiga do orvalho sobre as pétalas de girassóis fenecidos.



III



Sete raios de sol iluminam a manhã, o infinito aberto para todas as emoções, Quem sabe o amor sentido possa tocar-lhe com os dedos ternamente?
Sete canções de mim próprio, dizendo de minha vida ao léu do mundo, sobrevivendo de ilusões, fantasias, sonhos, esperanças, fé, silenciam o balir de mil cordeiros.
Sete vezes evoco o abstrato, invoco o transcendente, faço das perspectivas a minha raiz, faço dos ângulos o meu ser, das linhas a alma, das entre-linhas o espírito, e a lembranças têm arestas brancas.
Sete águas re-fletindo imagens sob raios numinosos do sol, lírios brancos à mercê de vento suave, belga pousado no arame farpado da cerca, trinando seu canto, nuvens brancas deslizando no azul celeste, pétala perdida de rosa vermelha sendo
levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.
Sete volúpias da alma transcendem as elegias do instante de sonho, em mim sentindo íntimo, a alegria conjuga versos, a felicidade recita de rimas as fantasias
do amor correspondido, do amor sentido profundo, do amor saboreado.
Sete letras acompanhadas entre-laçam sílabas em versos de carinho, vôos profundos por espaços de entregas plenas, aléns adiante são frutos de conquista de ternura, viagens por campos de lírios, mãos dadas em nome de sonhos futuros,
lembranças e re-cord-ações dóceis de glórias dos sentimentos e emoções vividos e vivenciados, verdades do coração e da alma.
Sete almas re-fletidas no re-verso espelho do ser pro-jetado ao longínquo infinito por onde nonadas eid-ificam travessias, por onde vazios eid-eter-izam imaginárias perspectivas ab-solutas de molduras em imagens lúdicas do jamais que presentifica a lucidez do há-de vir.



Manoel Ferreira Neto.
(30 de janeiro de 2016)


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