*REDE QUE BALANÇA NAS “GERAIS UTOPIAS CRISTÃS” - Manoel Ferreira


No crepúsculo das imagens grávidas de outros amanhãs,
Desejar, na musicalidade do espírito o itinerário do ser,
Na melodia da alma a jornada das buscas da verdade,do pleno,
Ser o outro no ritmo de sofrimentos e dores,
Desesperanças e ausência de fé,
No enredo de situações e circunstâncias,
Construir a história de entregas e vontades,
Trilhar paisagens mineiras de imagens do pleno e sublime.



Em cima dos muros de Minas, veredas de enredos e ritmos,
Numinando nos sonhos de plen-itude a “imagem da emoção”,
Que brota na certeza de re-nascer caminhos de veros versos,
De re-novar veredas de efígies, sonetos absolutos do eterno,
Estrofes múltiplas de rimas interiores, veredas de musicalidade,
Cântico de pássaro trinado nas grimpas do flamboyant,
Canto de coruja esplendido por todos os sítios,
Ruas e estradas de contingências outras, esperanças de luzes
Brilhando numa prosa-canção que se inspira
Nas gerais nascentes, “água pura”.
Germinam nos interstícios da alma uni-versos e sementes,
Nas fontes de águas límpidas e transparentes,
Perspectivas do belo e da beleza re-nascem esperanças de luzes,
Minas de gerais ímpetos de liberdade.



Na manhã de luzes e pré-núncios,
Saudar o místico momento da fresta
No horizonte imortal e divino da lua na noite calada,
Infinito do uni-verso numinado de “harmonia de cores”,
Sin-cronia de traços a pincelarem imagens germinadas,
Sin-fonia de imagens a resplandecerem de beleza as sendas perdidas,
Harmonia de ângulos da visão,con-templados à luz do vir-a-ser,
Signos de esplendor e eterno nos liames do espírito,
Desde o sentir do sono, do êxtase desde o sonho ao sono,
Instante de sedução, brilho das estrelas e da lua,
“pedras sagradas”, cristais, diamantes e ouro
Que rimam palavras sutis com o éden de luzes e lilases,
Inspiradas na rede que balança nas gerais “utopias cristãs”.



“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano,
O elo de todas as coisas, flores são espetáculos da natureza,
Liberdades são cenas eivadas de ternura e carinho,
“instante de sedução”,
Querer brincar com estrelas, correr campos, velejar,
Beber a sede das ruas, queimar a luz do luar,
Lavrar o corpo no grito.



Signo de metáforas nascidas de vigília e palavras
A pincelarem imagens do imortal e divino
A preencherem os vazios da falta de ser,
“manque-d´être”,
Da ausência de alegria e prazeres,
Pedras sagradas, diamantes profanos
Que rimam palavras sutis, que ritmam dores
São sentimentos de luz inspirados
No brilho das estrelas e da lua mineiras.



Minas, a pá-lavra os prazeres de liberdade,
Os infinitos buscam magia de lendas, mitos, “causos”,
Mágicas verdades na trans-cendência da sensibilidade
A mineir-ice busca versos eternos de poetas,
Mergulha profundo nas nostalgias e melancolias do espírito,
O Grande Ser: Minas vislumbra e con-templa
As mágicas verdades e místicas divin-idades
De lenços brancos cheirando recordações
De ideais e utopias de Verdades,
Na pronúncia rouca da palavra
Que transcende os sentidos da simples contingência,
Da poeira mesquinha da realidade,
Da metafísica pomposa e solene das sedes de conhecimento,
Da ventania ontológica e antropológica do real apalhaçado de verdade
Da vida, do tempo e das maquiagens di-versas do instante
De medos, dúvidas, des-confianças.



Nas paredes de Minas, nostalgias e melancolias do espírito,
No corpo e espírito mineiros, ideais de liberdade, solidariedade,
A alma vislumbra e con-templa o uni-verso em movimento,
O tempo metamorfoseado em lenços brancos
Expira cheirando recordações, re-nasce exalando desejos
De magia, mitos, misticismos, causos,
Todo uni-verso, na pronúncia rouca da palavra,
Trilha paisagens mineiras.
“Existe uma tristeza imensa,
Nas ruas caladas de Minas...”
Gerais pensamentos trabalham no silêncio da grande noite,
Caminhos levam ao mesmo ponto e todo olhar mira
Com o mesmo encanto cada montanha,
Cada chapadão, cada pradaria, cada estrada de só poeira e buracos,
Em ec-sistir real mineiro em tal potência,
Em fábula, em conto-do-vigário, em mito, em misticismo,
Se transforma ao tentar em palavras esperanças e tesouros
Da história e da vida.
“Perto dos olhos,
Entre as montanhas...”
Emerjo entre os astros, doce e belo,
Irmanado ao absoluto dos instantes-limites,
Na dimensão trans-lúcida do halo divino de outros nós,
Com uma estrela branca-transparente aos pés e,
Ao lado, meia-lua acinzentada, a “esquina”
Entre as montanhas “do coração,
Trans-cendente na consonância e ressonância
À mercê e re-velia do tempo,
Originar perspectivas e estrofes de imagens e poesia,
Versos de sensações e sentimentos.



“O regato acorda cedo
As folhas descendo a ladeira”
Minas mina sonhos Gerais,
Nos tristes sorrisos de barrocas grades,
Galos e sinos misturados no ar.
Minas tem cheiro de melancolia e nostalgia,
Em Minas brotam as raízes da infinitude
Nas finitudes da liberdade e do tempo.



Esperanças trans-cendem algemas e correntes,
Pré-conceitos de raça e fé,
No silvestre das florestas,
Nas sendas perdidas das grotas, imensos abismos,
Chapadões, pastos,
Nas águas dos rios que se unem ao céu,
O destino é o infinito.



Minas metamorfoseada,
Aurora perdida nas montanhas niveladas,
Memórias cinzeladas em nuvens,
Minas, essa procura eterna, esse desejo imortal,
Essa terra perdida entre montes indizíveis.
Travessia real e cristalina...
A tarde tergi-versa-se pelas irregularidades
Das montanhas e colinas,
Extravia-se pelo céu sem nuvens no horizonte.
Espreito o frio do campo com a cara toda,
O sibilo vago de longe na tarde
Serena e suave.



Sinto a angústia das Minas nas vozes dos povos oprimidos, no apito lúgubre das fábricas, nos vídeos das tevês, nas telas dos cinemas, na literatura de protesto, no teatro de arena, nas canções dos festivais, na implosão de todos os valores e virtudes, na inoperância das leis, nas homilias dos párocos, nas lições dos professores, na tristeza dos velhinhos sentados no banco da pracinha, no eterno “causo” de suas vidas e sonhos.
Quem sois vós, homens dentro de si? Quem sou? Fascinado, aqui fico longo tempo, ouvindo, deliciando-me com “as pedras sagradas” que “sustentam o pecado/da velha cidade”. Letras surgem e desaparecem na ansiedade da vigília, de poder estar a sós comigo mesmo, buscando, claro, numa esperança descrever esta jornada adentro ritmo, musicalidade, adentro versos e sons, adentro luzes que se acendem no íntimo, inspiradas na lírica mineira de um coração cheio de amor, ansioso pela entrega. Os olhos se movem em todas as direções, neste ambiente de uma espécie de cantina, a mente examina as pedrinhas redondas espalhadas em todas as direções da areia branca. Tudo é branco, as casas, a areia, o vinho; até o ar, que se agita, é de uma substância clara e luminosa. Rostos maquiados lançam olhares solenes, enviados com antecedência, para a evidênciade “fascínio e sedução”, para o amor que dilacera o coração, e “eu não sei porque tanta/Tristeza e paixão”.



Manoel Ferreira Neto.
(30 de janeiro de 2016)


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