**PAI-NOSSO QUE ESTAIS NAS ÁGUAS** - Manoel Ferreira


Esperava servir-me de Vosso êxito para Vos demonstrar – seguindo os imensos parques que acompanham o percurso do rio, tudo isso nos deve elevar o pensamento ao céu, de modo a termos mais forças e ânimo para preencher a vida, para ornamentar as carências com con-templar as sabedorias com o eidos da alma - a vocação que se dirige a todos os que estamos em Comunhão com a fé, esperança, proteção e harmonia, volos, segurança e sin-cronia. É glorioso para o amor ver cair as folhas à medida que amarelecem. A rocha, nivelada pela erosão, coberta de espesso leito, forma vastas pradarias inundadas, sobre as quais se estendem, quase sempre, reduzidas ondulações.
Tenho tempo. É verdade não saber quanto. O fato de existirem horas, dias e até mesmo anos esperando nascerem para nos encontrarmos com eles, coloca-me na posição de possibilidade, na atitude de expectativa. Algo pode ser feito, construído, o rumo da vida pode ser alterado, trans-mudado. Posso superar o destino, e sou-Vos grato. O que faço do tempo que me resta definirá minha existência! A estes instantes, não tão efêmeros quanto possam ser, que seguram os olhos a estas palavras, chamo-los de encontro, uma das expressões da possibilidade. Unindo o que penso, posso ver a vida como o tempo e lugar do encontro. Grande ou pequeno, fugaz ou não, será sempre o resultado do que houver feito ou deixado fizessem de mim.
A sagrada face é a do outro. É a passagem da solidão para a comunhão, a companhia... Não é suficiente jardim para fazer o homem feliz. Ele precisa de alguém para dividir o olhar, sentimento, afeição, alegrias e preocupações. Como é importante a presença do outro na vida! Não menos importante é perdoar as presenças que não nos fizeram bem, que desarrumaram nosso lar, abrindo feridas em nossas emoções... E por certo, Senhor, convém lembrar, com esmerado carinho, das pessoas que há tempos estão do nosso lado, preenchendo vazios, ajudando-nos a superar solidões e carências. São pessoas que merecem muito mais que só cobranças, merecem misericórdia e compaixão.
Nos locais em que os vales são mais estreitos e elevados - muito embora, às vezes, o clima da tarde não esteja sereno aos olhos que clamam por com-preensão e entendimento, creio que nunca, por mais dispersos, ou sofredores, ou reduzidos à face da terra que estejam, foram menos belos do que hoje, aos Vossos olhos. Nos locais em que os vales são mais profundos e nobres, abrigam-se casas de arquitetura simples, choupanas, casebres, por vezes sombreadas por coqueiros, belos carvalhos verdes, pé de flamboyant. Justo sois Vós e pleno de compaixão, misericordioso sois Vós. Da morte, libertou-me a vida, protegeu os olhos contra o brilho desesperançado. Faça-me entender dores e dúvidas são gestos de amor pelos quais a firmeza da fé e a constância de nossa esperança, vivência e experiência de nossa proteção e harmonia, proclamam a verdade.
Situado na parte alta do sul da cidade, num ponto arborizado, bonito, de onde se avista a distância suficiente para parecer pitoresca. Fico pensando num mundo resplendoroso, cheio de graça. Sonho com ele, não como um visionário, como quem nele mesmo acredita. Como quem sabe e dá a acontecer que diante de Jesus, Vosso Filho e Nosso Senhor, não há quem possa viver indiferente. Pois sois Vós quem colocais em ordem nosso lar e espiritualidade, natureza. Tendes o poder de tirar nossas doenças, de erradicar toda a forma de mal, estabelecendo feliz harmonia em nossas vidas.
Esse amor é travessia serena – quem pode ofertar estrelas ou fazer de si mesmo oferenda?!... Sem ele, abominaria o verbo que se faz carne, e ainda que o resto do caminho até o ocaso fosse desfigurado, o cerne desta vida é nobre, tem feição e estirpe, gira em torno das estrelas.
Resignado, tomo copo de vinho, olho para as mãos, vejo Moisés subindo ao Monte Sinai, herói adusto numa adusta confusão de enredos, e vejo como Jeová lhe foi transmitindo entre trovões e relâmpagos os dez mandamentos, ao passo que seu indigno povo erigia o bezerro de ouro aos pés da montanha e se entregava a regozijos sobremaneira desnorteados.
Ensinai-me a responder pela vida, com vida e na vida. Amém.



Manoel Ferreira Neto.
(27 de janeiro de 2016)


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