**MISTÉRIOS DA MEIA-NOITE** - Manoel Ferreira


Quem é o Zé? Seria o Mané? O famosíssimo Zé Mané?
O Zé Mané que deixa Anthony Quinn babando de tanta inveja. Se ele, Anthony Quinn, houvesse conhecido este tal de Zé Mané teria alcançado a divinidade da representação cinematográfica em seu famoso filme o Corcunda de Notre Dame. Não conheceu Zé Mané, a grande obra cinematográfica ficou devendo e muito à arte. Zé Mané representando o Corcunda teria extasiado todos os homens, de todo o mundo, Anthony seria o Deus das telas cinematográficas, Charles Chaplin teria até lhe pedido algumas dicas de sua representação tão divina e evangélica. Eu próprio iria desejar conhecer este Zé Mané, usufruir suas artes, dons e talentos, satisfazer-me os desejos de celebridade que me habitam o mais profundo de mim, aprender com ele suas estratégias e tramóias de re-presentação, para botar Anthony Quinn dentro de seu sapatinho de donzela é ter muita importância, um perfeito artista, amo encontrar estas personalidades do risível, são os meus preferidos, palhaço então nem me digam, já fico gelado de tanto êxtase e volúpia, desconfio que corra em minhas veias sangue galhofante, inédita esta qualidade de sangue, não se tem notícias na história da medicina que haja alguém nascido com este sangue, é uma qualidade sem precedentes. Deus sabe o que faz! 
Mas este é encontrado por todos os lugares da cidade, está presente em todos os cantos e recantos de eventos políticos, culturais, artísticos, sempre de terno e gravata de grifes, barba muito bem escanhoada, cheirando a perfume francês, extasiando as donzelas livres e encalhadas, com sua finesse sem cancelas, sua educação sem porteiras, sua gentileza sem fronteiras, chamando a atenção das casadas, divorciadas, separadas, amigadas, com suas palavras, idéias, pensamentos elevados e profundos, seduzindo as puras, singelas e virgens. Zé Mané é onipresente e onisciente. Só se não é o Zé Mané, seja Zé Qualquer. Não conheço este, estou curioso por saber de quem se trata, em verdade. Não se é encontrado nalgum lugar, que lugares freqüenta, se tem o hábito de estar presente em eventos políticos, culturais, artísticos, se tem a mania da exclusão social, de viver solitário e andar sozinho, conversando e discutindo consigo mesmo pelas ruas e avenidas da cidade, de ser amante irreversível da solidão de seu escritório ou alcova. Não é onisciente e onipresente.
Enquanto estou aqui garatujando esta página passou um Mané, ouço música e ele saiu rebolando seguindo o ritmo da canção. Muito interessante um Zé Mané rebolando ao ritmo de um puro blues, de Bob Dylan.  Não está de terno e gravata como os famosos, está de roupa jeans, carregando uma sacolinha de plástico, parece que está vindo do mercadinho, há tomates na sacolinha. Sei que trabalhou num velho banco próximo a um posto de gasolina, estando lá as suas reservas para lhe garantir o descanso eterno, parte dela será gasta com o esquife e outras despesas de velório. Conheço-o de antigos e caquéticos carnavais, já foi homem importante, mas já está velho, pé no mundo e outro na sepultura, estas coisas já passaram, não têm mais sentido algum, soube muito recente que não irá poder levar sua fortuna para debaixo da terra, tem de deixar para alguém da família brigar por ela, genros e noras receberem os quinhões tantos, tem lá algumas boas notas, só fala asneiras, só abre a boca para suspirar sandices. Não sei o seu nome, sei que não é Manoel ou José. É apenas mais um Zé Mané.
O tablóide em seu verbete está dizendo a todos os ventos que o Zé não compareceu, não mandou representante nem deu satisfação. Fosse o Zé Mané teria comparecido, não falta a nenhumas, em todas tem o prazer e a satisfação de dar o ar de suas graças, nos eventos políticos sem isso de discursos, ele aprecia mesmo é ouvir as grandes inteligências e sensibilidades, diz que aprende e muito com elas, são lições bem humanitárias e cristãs. Não mandaria representante, este não teria suas graças, sorrisos e olhares de esguelha, não seria capaz de seduzir as donzelas livres e encalhadas, não daria conta de deixar os cavalheiros babando de tanta inveja, despeito e ciúme. Se estivesse com algum compromisso e responsabilidade, com algum problema de saúde, curtindo alguma ressaca brava, daria suas satisfações reais e francas, diria o porquê não pôde comparecer com todas as letras, até pedindo se não seria possível mudar a data do evento para o seu comparecimento. Zé Mané é indivíduo de índole e estirpe.
Quem é este Zé, meu Deus? Não compareceu? Onde é que não compareceu? O que estaria acontecendo que a sua presença era necessária? O tablóide faz uma pergunta livre, não há ponto de interrogação no final do verbete: “não foi essa mesma academia que, depois de ser humilhada pelo prefeito (...)” Bem descobri que deveria o Zé estar presente na academia, não compareceu, não mandou representante nem deu satisfação. Mas que academia? Seria academia de malhação? Ele deveria ter estado presente para fazer seus exercícios físicos, conservar o corpinho sempre esbelto, com todas as formas estéticas em dia? Seria a academia de letras? Dissera antes que Zé Mané está presente em todos os lugares, dá seus ares de graça em todos os eventos, ele é onisciente e onipresente, esqueceu-me dizer que o único lugar que Zé Mané não vai nem sob intimação judicial é à academia de letras, diz ele que não vai porque seria um Zé Mané qualquer, só tem Zé Mané importante na academia, são Zés de grande cultura, de intelectualidade sem precedente na história da humanidade, só escrevem obras-primas, são mesmo merecedores de todos os méritos, da imortalidade.
Este Zé de quem se trata não estou sabendo deveria estar na academia de letras? Que ele faria lá? Faria algum grande discurso para engrandecer a cultura, as artes, para parabenizar os Zés Mané de lá, grandes homens, grandes artistas, grandes escritores. Até prometer que lhes concederia uma medalha de honra ao mérito? Estas medalhas de honra ao mérito são concedidas por prefeitos. Ou simplesmente deveria estar lá para um bate-papo sobre as artes, troca de dedos de prosa a respeito da importância das idéias de algum livro lançado recentemente, uma discussão sobre os valores estéticos, filosóficos e literários da obra, e suas opiniões são em demasia importantes, tem muito a acrescentar nas discussões. Diz o verbete do tablóide que a academia foi humilhada pelo prefeito. Se foi humilhada mesmo, se esta informação é idônea, pelo senhor prefeito, seria muita cara-de-pau dele comparecer, discursar com todas as oratórias do bom elogio e encômio, muita descaratice prometer medalhas. Não se trata do prefeito, pelo menos no que consigo ler do verbete, de péssima qualidade, sem qualquer pinguinho de linguagem e estilo. Informa ainda o verbete que faltou pouco, por um triz o Zé, que não é o Mané, que não é o prefeito, beijar a mão da academia. Sinceramente, eu não sabia que academia tem mãos, que podem ser beijadas e apertadas como o são as dos homens normais. Não seria que ao Zé faltou pouco beijar a mão dos membros? Se for mesmo da academia de letras, beijar sessenta, setenta e tantas mãos seria muito cansativo, uma gastação de saliva sem precedente, porque beijo seco não tem qualquer valor. O máximo de membros numa academia são quarenta membros, dizem que a de nossa comunidade passa dos setenta, eu não posso afirmar com todas as cartas na mão. Vai ter escritores numa simples comunidade do interior, isto é que importância. Eu não me lembro de haver aprendido que na Grécia de Sócrates havia tantos filósofos. Por que o Zé não chegou a beijar a mão dos membros da academia? Seria que estivesse suja de tinta de caneta tinteiro? Suja por alguma outra razão? E como não há torneira de água na academia, impossível lavá-las para serem beijadas. Zé não iria querer beijar mãos sujas, só as muitíssimo limpas, de preferência até cheirando a perfume paraguaio.
Dizer o tablóide o beijo provocaria o afastamento de alguns membros estou achando, pensando, dizendo que é muito engraçado. Entrou na academia de letras só saí para ir residir na cidade dos pés juntos, e ser lembrado por todo o sempre, por toda a eternidade. Ninguém é mandado embora, ninguém é despedido, a ninguém é mostrada a porta de saída, e ninguém vai querer sair da academia, renunciar à imortalidade, é a única garantia que têm de ser lembrados, de todos os tempos falar deles, mesmo que não tenham escrito única palavra de bilhete.
São mistérios mesmo? Quem é o Zé? Que academia é esta? Da meia-noite? Que estranho? Sendo a academia de letras, a reunião, o encontro, sei lá o quê, deveria acontecer à meia-noite? Romântico demais! Escritores se reúnem à meia-noite para um sarau literário na academia. Seria até manchete de tablóide, jornal. Não deixaria de ser manchete bem interessante, o autor deveria ser condecorado, o título mostra o seu bom gosto e seu tino jornalístico. Incomum. Inusitado mesmo. A comunidade que não é chegada a estar presente em lançamentos de obras, reuniões literárias, devido à manchete, todos os homens iriam estar presentes a fim de saber como é isto a reunião de escritores à meia-noite. A partir deste encontro inusitado entre escritores e da comunidade, o famoso e irresistível oportunismo: haveria sempre saraus literários à meia-noite, seriam mais lembrados no futuro. Eu sinceramente jamais ouvi dizer que houve na história da literatura, de academia, que escritores se reuniram à meia-noite. Então, se o Zé não compareceu à academia à meia-noite, só há uma razão, das mais inalienáveis, ele estava muitíssimo cansado, estafado, com todos os seus afazeres, compromissos, responsabilidades, precisava era dormir para descansar, recuperar as energias para o outro dia, não iria comparecer a uma academia para sarau literário à meia-noite. Nem que o diabo fizesse milagres ele compareceria. Se isto é horário de sarau literário! Se quisessem a sua presença, se ela era mesmo imprescindível, marcassem outro horário digno e real. Ainda mais que Zé não é romântico, todas as suas condutas, posturas, comportamentos primam pela realidade nua e crua.
Que verbete mais estranho este. Continuo curioso por saber quem é o Zé. O editor deste tablóide não tem qualquer noção do que seja escrever em jornal, as informações devem ser ao máximo transparentes e límpidas, porque o leitor não é nenhum adivinho, não é obrigado a estar em dia com tudo o que acontece neste velho e surrado mundo. Poderia eu até ligar para a redação do tablóide com a intenção ecs-clusiva de saber do diretor quem é o Zé, a que academia ele deveria estar presente, no entanto não compareceu, não mandou representante, não dera satisfação qualquer. Se eu fizesse isto, estas páginas perderiam todo o brilho, todo o resplendor, todas as estrelas. Felizmente que o imbecilóide do diretor não dera as informações diretas e reais, para qualquer analfabeto ser capaz de interpretar e entender. Não me seria possível a partir deste verbete estranho, esquisito, dos mais analfas que já li em minha vida, garatujar estas linhas sinuosas, re-versas de princípios éticos, in-versas de valores individuais, sociais.  
Há ainda algumas outras coisas que eu gostaria muito de discutir, gastar palavras e idéias. Mas para isso é necessário que eu transcreva o verbete do tablóide inteiro: “É, o Zé não compareceu, não mandou representante nem deu satisfação. Mas uma pergunta fica no ar: não foi essa mesma academia que, depois de ser humilhada pelo prefeito Zé Maria, faltou pouco lhe beijar a mão, provocando o afastamento de alguns de seus membros mais expressivos. Mistérios da meia-noite...”
Fico aqui pensando com os meus botões de uma camisa velha e desbotada que talvez o editor-chefe deste tablóide não tenha identificado quem é o Zé por medo de processo judicial, de seu tablóide ser recolhido das bancas, já houve vez que este prefeito de quem ele fala no verbete mandou recolher das bancas, devido a matéria acintosa, mentirosa, sensacionalista, especialidade do diretor. E identificar este Zé seria pior que ser processado, o tablóide ser recolhido, poderia apanhar feio do tal do Zé, aliás já acontecera de este editor-chefe levar murro nas fuças, talvez ser cravado de balas, o Zé não é flor que se cheira, o homem é verdadeiramente terrível. Então, o verbete saiu mais que misterioso, enigmático, mistérios ou enigmas da meia-noite são fichinhas perto desta matéria.  Não sei se diga que tenho razões suficientes e transparentes para acreditar o motivo deste mistério da identidade do Zé seja medo do editor de as conseqüências serem mais que terríveis e difíceis. Faltou-lhe coragem. Mas ele é um frouxo, fraco. Não deveria escrever artigos sensacionalistas, in-verdadeiros, e se não houvessem coisas reais para escrever não deveria ser proprietário de tablóides. Estará sempre com os olhos esbugalhados para prestar bem atenção nas coisas, fica correndo o risco sem limites de as conseqüências serem drásticas, sempre tenso. Não vale a pena viver dessa forma por mais que ser editor-chefe de tablóide seja muitíssimo gostoso, delicioso. 
Mas ainda há alternativa para pensar este mistério da matéria. O nome do editor é Zé. Ele tem outro nome, é José..., mas tenho certo medo de um escritor, dos mais famosos em nossas terras brasileiras, vir até mim, perguntando se lhe estou fazendo alguma crítica, destilando os seus ácidos. Não o conheço, li algumas obras de sua autoria, até escrevi umas considerações sobre um livro seu, de sua vida particular e artística não tenho a menor informação, nada sei dele. Esqueceu-me qualquer titulo seu. Não é Zé. Mas ele é Adonias. Acabei dizendo, mas ele não me procurará, caso venha ler estas garatujas, sabe não se tratar dele. Quem sabe tenha sido ele quem não compareceu, não mandou representante, não deu satisfação de sua ausência na determinada academia. Mas por que ele, Zé do Tablóide, não comparecera? Quais os motivos e razões que justificariam ou explicariam a sua ausência? Seria que fora convidado para ser membro da academia e ele não se julgou com méritos e valores para sê-lo, um simples editor-chefe de jornal, o que escreve é quase a absolutidade do vulgar, o que há de mais imbecil e idiota, os membros estariam equivocados, não tem capacidade para se tornar membro de uma academia de tantos gênios e sábios das letras. Não compareceu, não mandou representante, não deu satisfações, enfiou a cabeça de por baixo da terra, de vergonha e timidez, e ainda se perguntando se o convite para ser membro não passara de uma piada, queriam tirar sarro de sua cara, rir de suas vaidades e orgulhos. Fica uma pergunta: por que, então, quando recebeu o convite para a membridade na academia, não tenha dito não ter competência, não ter dons e talentos de escritor, escreve apenas o trivial em suas páginas de tablóides, faz seus indecentes e imorais sensacionalismos, é perfeitamente língua de trapo, sendo real e com palavra inteligível, um fofoqueiro deslavado, apenas para garantir um certo renome junto à comunidade, comer uma porção de torresmo num botequim copo-sujo, mas é homem sem quaisquer valores, virtudes, um Zé Mané. Agradeceria o convite, sentia-se orgulhoso e vaidoso, mas não tinha mesmo condições disto.
Já que nada dissera, deveria pelo menos pegar do celular, ligar para a academia, dar uma explicação chinfrim ou uma justificativa vulgar para o seu não comparecimento, mesmo que fosse estar com uma tremenda dor de cabeça, resultado de umas cachaças a mais que tomou no botequim do Haroldo, em verdade metanol puro, não estava passando bem. Os membros adiassem o evento da posse, com efeito estaria presente, daria o ar de todas as suas graças de editor-chefe de um tablóide tornado escritor de renome e imortalidade. Se não dera todas as informações suficientes para a compreensão e entendimento de nós os leitores, é que se sentiu muitíssimo tímido, tivera medo de os leitores tirarem sarro de sua cara, rirem de suas vulgaridades e orgulhos ridículos, um editor-chefe de tablóide vulgar e sensacionalista ser tornado em membro de academia, usufruir glórias de artista, escritor.
Não é ele o Zé – o nome é o mesmo -, Zé é outro, mas de quem se trata não o sei eu. A academia de letras, visto que os seus membros são verdadeiros sábios e gênios, reconhecidos mundialmente pelas obras literárias de grande porte, Guimarães Rosa perto de qualquer um deles seria um Zé Ninguém, não iria convidar o Zé do Tablóide para ser membro. A comunidade até diria que os membros perderam o juízo completo, deveriam ser internados nalgum manicômio de renome, na Casa Verde de Itaguaí. 
Quem sabe à meia-noite, horário da reunião dos sábios na academia, ele não tenha comparecido porque estava bem ajoelhadinho à beira da cama de sua alcova fazendo a sua oração a Deus:

“Acaso és, mesmo, meu?
Procuro-te!
Não te encontro!
Em que galáxia
De mim te escondes?
Por que não escutais os meus ais?
Por que não te vejo, jamais?...”

Seus ais seriam sua convicção e sabedoria de ser um Zé, não um qualquer, mas de alguma índole, um verdadeiro Mané, e todos querem tirar sarro disso, todos querem mesmo gozar, escarnecer de sua condição e natureza, convidar-lhe para a reunião da academia, seria empossado como membro, sendo que só escreve asnices, não tem nenhum pedigree para as letras, para estar ocupando uma cadeira importante à mesa. O que diriam os leitores? Que ele é muito vaidoso, aceitou ocupar uma cadeira acadêmica, não sendo escritor, nada sendo nas artes. Que falta de respeito, de consideração, têm as pessoas por ele! Deus deveria ouvir-lhe as súplicas, não mais permitir que ele seja tão humilhado na sua vida, está bem cansado de tanto sofrimento, dores atrozes que perpassam sua coluna vertebral. Não compareceu na academia no horário marcado porque estava rezando, pedindo a Deus livrar-lhe de tantos ridículos e gafes.
O verbete é mesmo misterioso, um enigma sem quaisquer condições de ser interpretado, analisado, compreendido e entendido, mesmo por grandes sábios e gênios. Contudo, dera-me inspiração para estas letras garatujadas à luz de meus pepinos críticos. Quem sabe ligue para o tablóide e peça ao Zé do Tablóide jamais se esquecer de escrever estas matérias misteriosas, ele não sabe o quanto me tem inspirado, o quanto tem contribuído para as minhas risadas e gargalhadas. Pode ser que o faça! Ainda não decidi. Creio que vou esperar o próximo mês, quando, passando pela banca de revista, compre outro exemplar, lendo e procurando se há mais despautérios, mistérios, ridículos, sensacionalismos, que são as especialidades do Zé do Tablóide, e assim possa garatujar outras letras neste teor e nível.
Há um verbete anterior nesta coluna do tablóide que o editor diz que fora o prefeito quem não comparecera à academia, aliás vem brilhando suas estrelas e luas pela ausência nos eventos cívicos, sociais e culturais da cidade. Diz também este verbete que acadêmico dos mais atuantes procurou a redação do tablóide, dizendo que o prefeito e o presidente da Câmara fizeram pouco-caso da solenidade em que a academia homenageou escritora. O Zé teria saído da reunião cuspindo marimbondo e teria dito que o troco seria dado. E mais: que todo mundo ficou decepcionado com a falta de elegância do chefe do Executivo.
Mais mistérios ainda. Fora o prefeito ou o presidente da Câmara que fez pouco-caso da homenagem à escritora? Não tenho quaisquer informações. Vou dizer que concordo com a decepção que sofrera o chefe do Executivo, mas por quê? E qual troco ele, um deles, daria a  quem? À academia, aos seus membros? Que matéria estranha e esquisita esta. Nem com o verbete anterior é possível saber da coisa bem esmiuçada, clara, transparente, evidente.
Tem mato atrás deste coelho? Não é só atrás do Zé? Não é só atrás do Zé Mané? Não é só atrás do Zé do Trablóide? É atrás de tudo que se possa imaginar plausível ou sem plausibilidade alguma. Simplesmente um despautério. Escrever despautério dá não só ibope, mas condição suficiente para ser membro de academia. Os Zés Mané que todos nós conhecemos pelas ruas e avenidas da cidade não seriam capazes de tamanha façanha, os pedigrees exigidos para a membridade na academia não preenchem nem pedaço de papel higiênico de banheiro qualquer da cidade. Escrever despautério dá fama e sucesso jamais imaginados pela humanidade em todos os tempos de sua existência.
Mas, ao final deste verbete anterior, diz o editor-chefe que talvez estivesse mesmo com medo de ser vaiado. Vaiado por quê? Qual o motivo ou razão que desembocaria em vaiação, em tiração de sarro, em mofa sem limites? Estranho, esquisito. Quem estaria com esta estirpe de atitude? O prefeito? O chefe do Executivo? Quem?
Não vou mais esticar os mistérios, não vou mais esmiuçar este verbete estranho e esquisito em busca de saber quem é mesmo o Zé que não compareceu, não mandou representante, não dera satisfações. A lugar algum vou chegar, estarei, se esticar mais um pouco, correndo o risco de me tornar outro Zé Mané, daqueles metidos a sábios e mestres. Não, paro por aqui, nada mais há a ser dito acerca dos mistérios da meia-noite. Se o leitor tiver quaisquer informações que me possam esclarecer ficarei imensamente grato, mas não irei escrever sobre elas, guardá-la-ei bem fundo na minha memória, para rir e gargalhar nalgum momento ou instante de minha vida. Gargalhar, gargalhar, gargalhar...  

Manoel Ferreira Neto.

(28 de janeiro de 2016)

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