**MODÉSTIA DE ORGULHOS INGÊNUOS**


Quem sabe possa, inspirando-me na luz incidindo na tela do computador, vinda de por trás e acima de mim, acendo esta ao invés da outra que me ilumina a cabeça, fazer surgir à luz todos os segredos, enigmas, não por estar desejando decifra-los, deixar-lhes para trás, belo sorriso esboçado no rosto, serpentear a modéstia de orgulhos ingênuos. Surjam do interior.
Se é que posso descrever o centro, de onde pende a lâmpada acesa, círculo de amarelo escuro, dizendo que a minha palavra busca iluminar o reflexo do branco no papel. Não é estranho que assim o diga, se busco me justificar de algumas ignorâncias me surgem no íntimo, e nada posso fazer senão deixa-las inscritas como uma repugnância por serem responsáveis por tantos segundos sem uma única palavra na mente, vazio, puramente vazio, e, no tempo, tornar-se-ão sabedorias das mais estúpidas que se possa encontrar nalguma agenda escondida, dentro de cofres a sete e mais chaves, que não se sabe quantas.
Sou homem demasiado limpo, então nos últimos tempos não suporto vestir roupas escuras, sinto um nó de amargar as profundezas do espírito e da alma, e, portanto, nos últimos tempos visto cores alegres, amarelo forte, azul, cinza, vermelha... sou indivíduo demasiado limpo para a mácula das palavras mentira, fantasia, imaginação. Fica a mentira isolada da verdade.
Quanta repugnância quando me sai da boca a palavra mentira! E quando alguém teimoso feito uma mula insiste que as palavras definem o homem, conceituam seus impossíveis, fracassos, melancolias, e não sei mais o que a dizer, sem cair numa repetição sem limites e fronteiras? Olho-o de soslaio de imediato e o que me resta na retina é um branco esquisito e estranho.
Na realidade, isto me diverte muito, de ouvir as pessoas tagarelem por todos os becos, alamedas, avenidas, ruas o sentido de viver, da vida, de não sei mais o quê sobre os dramas e faltas incólumes que habitam ingenuamente o íntimo da alma humana. Só mesmo caindo na gargalhada com estas palavras, pois dramas e faltas habitarem ingenuamente o intimo da alma humana é um absurdo, por esta razão, pensando enfatizar bem a idéia que me perpassa o espírito, e de soslaio, a olho e com ela me identifico bastante, a ponto e natureza de a perseguir no ritmo da música que toca no computador, enquanto registro no diário que há algum tempo venho tentando fazer, para passar o tempo, enquanto o sono me vem convidar aos sonhos diferentes e iluminados.
Ai! muitas vezes chega a enfastiar-me as letras que a língua vai tecendo com os seus movimentos, quem sabe gestos, não o sei, sei que as letras unidas dizem-me de tédio, angústia, náusea, não sei mais o que poderá fechar com chave de ouro, a verdade, enfim, fora pronunciada, não espera que algum dia o fosse, perdera a esperança nalgum recanto ou canto, não interessa saber.
A mentira, sobre o que garatujo nesse espaço pequeno de entre linhas, as letras quase exprimidas de todo, até fazendo com que comece a bordar as letras, encontrar as minhas próprias, as que ninguém será capaz de imitar, só poderá con-templar, nenhum artista seja capaz de re-criar mantendo a perspectiva... Enfastia-me o talento de com elas ir tecendo a rede em cujas espaços não há saída plausível, se houver é que algum mistério está sendo vivido agora, e como estou preocupado em registrar o que se me apresenta de imediato, sem pensar que nada tem sentido em tudo isto, não passam de palavras inúteis, muito difíceis de serem pensadas, chegando a assumir como próprias ou dar-lhes as costas.
Por onde andam as lágrimas dos meus olhos, nalgum tempo vertiam-se tão fáceis com estas letras? Aonde fora o ornamento do meu coração, antes não sedento de saciar as carícias anteriores a quaisquer outras, de saciar a fome que poeticamente me habita, se rasgo a folha deste dia, e nada mais existirá disto que deixo inscrito em letras, agora estou buscando um estilo barroco de cada uma, como as conheço de alguém íntimo?
Oh silêncio dos que brilham no leite balsâmico dos úberes da luz! Por que hei de ser luz? E avidez das imagens e sentimentos revelados em sentidos que fogem à capacidade de entender e compreender o que mesmo estão a dizer, se o que digo não tem sentido tanto melhor para mim.
É noite. Eleva-se mais intensa a voz das fontes; a minha alma é uma fonte. A minha luz dirige-se a tudo o que é obscuro. Se por todos estes anos, vinte e cinco agendas, correspondendo aos anos em que venho registrando algumas coisas, quem sabe desejando inclinar-me para a sabedoria, e freqüentemente sem medir limites e fronteiras, é porque me recordou a vida, haver algo desconhecido ao meu derredor, que me olha de soslaio, esboçando sorrisos muito ensaiados para o meu paladar refinado; de esguelha, quando me olho ao espelho, a imagem refletida, sou o único responsável por ela, mesmo que não aceitem, ninguém poderá muda-la, nem eu mesmo.
Se houvesse alguém quem, com insistência, nada podendo fazer para me desvencilhar dele, questionando-me: “Quem é você? Se não quiser gastar seu tempo com futilidades, responda-me com uma palavra apenas. Dar-me-ei por satisfeito?"
De modo algum não me furtaria ao prazer de lhe responder, não gastaria meu precioso tempo com banalidades, para não repetir a palavra tão próxima da outra, o que bate contra o estilo. Teria de passar, quem sabe, toda a vida procurando entende-las com a contundência e pujança do desejo de as ouvir, de caírem bem no peito, suscitando quem sabe esperanças outras que não as tão já conhecida da humanidade, dos homens em qualquer buraco deste mundo sem fronteiras.
Responder-lhe que sou de entre essa gente quem, com modéstia, raiando a imbecilidade, esquisitice, canta de galo nos galinheiros de grandes sombras, onde as galinhas refestelam-se na poeira.
Admito que exagerei na tinta que imprime a letra, não seriam necessárias tais palavras, nada acrescenta ou lega-lhes um sentido profundo. Contudo, não houve outras que melhor dissessem o que perpassa a alma, quando me estremeço inteiro, fatigado de mim mesmo. Não houve outras.
Orgulha-me confessar que, apesar de viver ser o in-verso de exprimir, pudera-me haver dito algo que mereça a atenção de alguém, estas palavras são poucas para o mistério anterior às horas outras, quem sabe no crepúsculo, aonde o vento emudece, até à sombra divulgado de minhas modéstias. Há-de chegar o minuto de as transformar em línguas ingênuas, voluptuosidades, despertando-me a gratidão do muito apreço que nutro por elas, sempre zelosas do vento.
Falaria, ao invés de todas as palavras, coisa alguma, ficaria em silêncio, olhando a luz de por trás de mim que se reflete na tela co computador. Falaria de sabedoria diurna, alegre e desperta que, se olvida o que perpassa a alma, o espírito, desdenha de todos os orgulhos ingênuos que poeticamente deixa-me-ser à luz de por trás.



Manoel Ferreira Neto.
(28 de janeiro de 2016)


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