**LETRAS CONSPÍCUAS E ILUSTRADAS** - Manoel Ferreira


Bom dias!

Começo por fazer uma das perguntas mais simples, quiçá ingênua, mas o interesse e intenção imediatos são desde este intróito iniciar a destilar os ácidos críticos: como se é possível saber que quem nunca comeu melado se lambuza todo, se não comeu uma colherzinha de chá? Só porque outros disseram, para eles trata-se de uma verdade inconteste? Isto mostra que a pessoa não tem côdea mínima de opinião própria, é simplesmente uma “maria-vai-com-as-outras”, isto prova e comprova a sua mais íntima capachidade, isto é, a qualidade do que é capacho, isto identifica que as suas verdades são as dos outros, por simplesmente não ter a mínima capacidade de encontrar as suas, é uma pessoa sem caráter, sem personalidade, nada de ângulo obtuso. São merecedoras de dó. São também covardes e mesquinhas, não têm coragem de provar o melado para se lambuzarem.
Se existe uma pessoa das mais mesquinhas e medíocres ela se chama, sem devaneios, sem meios-termos, sem meias-palavras, capacho, noutras palavras inteligíveis, é o puxa-saco. O puxa-saco jamais vai compreender que o problema de puxar o saco é que os bagos vão juntos, falta-lhe inteligência para ver esta verdade, está chafurdado demais na sua atitude. Se se descasca os pepinos, destila os ácidos, manda a pua, racha o pau, desce o sarrafo em alguém, identificando-lhe as verdades públicas e notórias, as suas suciedades mais íntimas, logo os asseclas, cúmplices, álibis, capachos começam a tagarelar, ruminar, zurrar e relinchar os maiores absurdos, as mais solenes asnices, sem qualquer documento comprobatório de seus relinchos e zurrações. Dizem que isto se chama amizade, dizem que isto se denomina solidariedade, dizem que isto é expressão de amor e carinho por aquele que está sendo injustiçado com palavras de não, não é merecedor delas, ao contrário do que foi dito trata-se o defendido de pessoa de lídimas condutas e posturas morais e éticas, trata-se de pessoa das mais dignas na face deste velho mundo sem porteiras e cancelas, o feitiço volta-se contra o feiticeiro. Se é assim, o que há-de se fazer é também dizer as verdades nuas e cruas do feiticeiro, tendo com que provar e comprovar o que está dizendo. O característico do puxa-saco é enfiar o bedelho onde não é chamado, do capacho é pegar o bonde andando sem saber de onde veio, para onde vai.
Outra pergunta que faço, pergunta ainda mais simples, quiçá das mais inocentes, contudo o interesse e intenção são de identificar vez por todas por onde andam as imbecilidades, idiotices, como se pode ser ridículo e pascácio: como se pode dizer que as letras de alguém são ridículas, são conspícuas, são nada, o autor simplesmente um “babaca”, um “Zé ninguém”, um “Mané”, pernóstico, metido a ser o que não é? Se jamais leu uma linha sequer, se nem pegou na brochura da obra, qualquer palavra a respeito trata-se de verdadeira imbecilidade, de cretinice das mais solenes, prova que a pessoa que assim o diz não tem qualquer senso. Para isto dizer, é preciso que a obra seja lida com percuciência, que as suas entre-linhas e além-linhas sejam in-vestigadas dentro dos princípios das teorias literárias, da beleza, do belo. Crítica literária não são subjetividades tolas e bobas, arbitrárias e gratuitas, frutos de opiniões e pontos de vista medíocres, tiradas dos instintos às portas da aposentadoria eterna, crítica literária exige conhecimentos os mais percucientes, literários, filosóficos, crítica literária exige objetividade, exige seriedade e responsabilidade com as estruturas, as idéias, o conteúdo, linguagem, forma, estilo, nada lhes adulterando, exige inteligência, intuição, percepção aguçadas. Como se pode dizer que as letras de alguém, o autor são babacas, ridículos, se letra alguma de única obra foi lida, mesmo que en passant?
Muitíssimo me ad-mira, deixa-me estupidificado, de queixo caído, olhos esbugalhados, orelhas arreadas, respiração ofegante, que algumas pessoas que se dizem importantes, de caráter e personalidade idôneos, personalidades de porte nos cenários sociais, políticos, culturais, artísticos, que se dizem personalidades das letras, escritores de renome, inteligências privilegiadas, suas letras são de grandes importâncias para a cultura, as artes, para a humanidade, suas obras são patrimônios inestimáveis, todas as gerações futuras até a consumação dos tempos irão se alimentar delas para encontrarem seus horizontes e uni-versos, capazes de dizer a respeito da babaquice das letras de alguém, da maneíce do autor, sem terem lido qualquer linha ou palavra. Bem, como hoje ninguém tem qualquer noção ou senso do que seja escrever, ser escritor, pode-se colocar a mão direita sobre o Livro Sagrado, bater no peito com a esquerda, relinchar a todos os ventos e aos quatro cantos do mundo: “Sou escritor”. Os capachos tecem seus tributos, os asseclas batem palmas eufóricas, os puxa-sacos vangloriam, os cúmplices escrevem suas considerações lindas e maravilhosas, só de elogios, endeusamentos, falam das virtudes e valores do autor, contam as estoriazinhas íntimas e privadas do autor, e nem tocam na obra, não comprovam os valores das obras com idéias percucientes. Dizem ser crítica literária, são os supra-sumos do conhecimento literário. Isto jamais foi crítica, isto se chama puxa-saquismo. Escrevem um livretozinho e cantam de grandes escritores, rebolam, estufam o peito, andam de cabeça alta, andam de saltinhos altos pelas ruas, sorriem de orelha a orelha na roda de amigos, e todos se sentem orgulhosos e lisonjeados de terem amigos tão importantes, tão deuses. Ser escritor jamais foi escrever livros, ser escritor é dom divino, é talento contingenciário e contingencial, noutras palavras é nascer, e mesmo assim se não houver a experiência e vivência da escrita, não podem assim ser chamados. As academias estão entupigaitadas de indivíduos que escreveram uns livrinhos sem sal e tempero, os sinos ridículos da glória soando em seus ouvidos, aquelas batidas mais que chinfrins, não servem nem para tocar para anúncio do óbito de alguém, sem dizer os que não escrevem nem bilhete em mesa de botequim em guardanapo sujo ou papel higiênico, são os famosos “oportunistas da imortalidade”.
Por mais medíocre e mesquinha que seja a obra, por mais pascácio que seja o escritor, dizer que a obra de alguém é babaquice de pavio a fio, que o autor é um Zé Ninguém, sem haver lido, sem conhecer o autor, sem andar nos seus sapatos, deveria pelo menos honrar as calças, as saias, os vestidos, as calcinhas e os soutiens, deveria valorizar as importâncias que ostenta por todos os cantos e a todos os ventos, deveria ter vergonha de dizer as mais divinas jeguices, ladrar a caravana que não passou e jamais passará, relinchar aos sibilos de ventos que nem passaram entre as montanhas. Que importância é esta que se atribui a si, que renome é esse que ostenta, que celebridade é esta que canta e recanta? É simplesmente um(uma) vira-latas, um caspácio de charuto Havana no canto da boca.
E tudo isto porque tomou as dores do amigo, sentiu na pele o sofrimento do outro, precisava de mostrar a sua capachidade íntegra, de revelar ao mundo e aos homens o puxa-saco que é. E ainda mais, além dessa importância insofismável nas letras, diz ser de lídimos valores humanos, de grandes virtudes como homem/mulher, possuidor(a) de grandes amigos, respeitadíssimo(a) por todos, pai/mãe de família dos mais honestos(as) e dignos(as), de moral e ética ilibados. A quem estão desejando convencer ou persuadir? Quem possui estes valores todos, todas estas virtudes, não mete o bedelho onde não é chamado, não pega bonde sem saber de onde veio, para onde vai, não enfia a mão na cumbuca, não entra em barco furado, fazê-lo é dar testemunho que tudo o que se atribui não passa de farsa, aparência, falsidade, vive de mentiras, simulações e dissimulações, precisa de se mostrar grande para esconder as hipocrisias.
Quem não conhece o métier dos intelectuais, dos artistas, dos escritores não tem a mínima noção da hipocrisia e farsa que é, nele rola tudo de mais mesquinho e medíocre. Na música Positively 4th  Street, de Bob Dylan, o músico escreve: “Por que você me cumprimenta na rua, dizendo: “Como vai? Boa sorte”, se em verdade não sente nada disso?”.
E o que é a cretinice, a imbecilidade de uma pessoa? Antes deste disparate todo, destes despautérios que um varrido da silva não seria capaz de dizer, tal pessoa toda sorrisos, toda orgulhosa, teceu elogios na minha cara, só lhe faltou arranjar-me a cadeira no Olimpo, dissera de minhas importâncias, de meus valores e virtudes. Olhei-a de esguelha, sorri, mas não entrei de gaiato no métier das celebridades, não sou nenhum otário para não  ter percebido de imediato o grau elevadíssimo de sua hipocrisia, de sua ostentação de valores que não tem, jamais terá, mesmo que reencarne sem-número de vezes, de se meter a critico(a) literária sem ter qualquer conhecimento, de sua cabeça ser simplesmente um abismo, nenhuma côdea de miolo nele existe. Da mesma forma que não se é aconselhável destilar o ácido crítico das letras de alguém, sem as ter lido percucientemente, também não é aconselhável tecer elogios os mais eufóricos à obra, ao autor, se não a leu, se não o conhece? Mandar a pua ou elogiar são necessários conhecimentos de causa. E esta pessoa estava simplesmente me conhecendo, eram as nossas primeiras palavras? Na verdade, ela estava querendo, desejando de mim que a reconhecesse, que a considerasse, que a valorizasse como grande escritora, como celebridade das letras. Em primeira instância, nem sabia que ela escrevia, que tinha publicado um livretozinho, que era membro da academia. No métier das letras, não reconheço ou valorizo ninguém, se não houver lido percucientemente a obra. Antes de ser escritor é mister seja crítico, não existe escritor sem ser crítico, que é o resultado de suas milhares e milhares de leituras. A obra precisa ser excelente, de conteúdo e idéias de grande valor para que eu reconheça, estilo e linguagem autênticos, caso contrário não leio única página. Não puxo o saco de ninguém, jamais levei os bagos de alguém para minha casa. Desde o primeiro encontro, depois dele o conhecimento de ser ela escritora, dissera a mim mesmo que jamais leria única letra, hipócritas só escrevem hipocrisias deslavadas, capachos só escrevem capachidades notórias, não tenho tempo para ler tudo o que necessito, não vou ler mediocridades de ninguém, sou muito exigente. Não serei capaz jamais de explicar com propriedade e categoria como é que fui sentir bem no íntimo que esta digníssima senhora se julgava e ostentava ser uma Cora Coralina das letras? Só digo que foi daquelas intuições divinas que tive. De Cora, ela não tem nada, se houvesse nascido na carne de Cora, ainda assim não teria o talento e dom dela. Trata-se esta digníssima senhora de uma pernóstica, de mulher sem qualquer dignidade, a dignidade jamais foi fotografada.
Simplesmente porque destilei os ácidos críticos de seu amigo, de seu companheiro de academia, tomou-lhe as dores, mandou-me a pua em “cartinha” enviada à redação do tablóide local.  O que eu tenho a dizer, além destas palavras todas que estão aqui registradas a sangue e fogo, é que sua opinião, seu ponto de vista não me diz qualquer respeito, são nada verdadeiro, tenho bem nítida e transparente uma coisa que ela jamais conheceu em sua vida, que se chama auto-critica, conheço os meus valores, não porque trepo nas minhas vaidades, tenho que me justificar com elas, tenho que mentir a mim mesmo com elas, necessito delas para esconder as minhas hipocrisias, o meu caráter espúrio, tenho que tripudiar e engabelar os meus complexos de inferioridade, de incapacidade. Digo de meus valores, ostento-os com muitas alegrias e felicidades, porque sou reconhecido por personalidades, advogados, empresários, economistas, contabilistas, professores, doutores em letras, filósofos, secretários de cultura, prefeitos, delegados, escritores, atores, pessoas de lídima idoneidade, pessoas que não leram apenas umas palavrinhas de alguma obra escrita por mim, pessoas que lêem a minha obra, que têm as quarenta edições de meu suplemento-caderno literário-filosófico Razão Inversa, que saí todos os meses, com duzentas, duzentas e cinqüenta páginas, sou reconhecido escritor de renome na minha querida Curvelo. Só porque o rebanho de capachos, puxa-sacos, asseclas, como esta digníssima senhora, chamaram-me “babaca”, “Zé Mané”, “imbecil”, “metido a escritor”, devo acreditar e ir catar coquinhos no asfalto, devo pegar de uma enxada e ir capinar terrenos baldios? Opiniões e pontos de vista de ninguém me convencem, quanto mais de um rebanho de capachos e puxa-sacos, de caspácios de raça e estirpe. O que realmente me convence é a consciência nascida da honestidade e integridade. Eu necessito do reconhecimento e consideração de meu povo curvelano, eu preciso de meus leitores, não escrevo para dignificar outras culturas e manifestações literárias, escrevo para o meu povo. De ninguém mais necessito. Não sou daqueles que dão pérolas aos porcos. E o engraçado, engraçadíssimo mesmo é que outras pessoas, que não os capachos do ignaríssimo senhor de quem descasquei os pepinos publica e notoriamente, dissera-me que esta comunidade precisa muito de minha cultura, intelectualidade, de minhas obras, até pediu-me que não fizesse o mesmo que um amigo nosso em comum quem morrera precocentemente, pediu-me que as obras minhas fossem divulgadas na cidade, escolhesse as pessoas de índole e idoneidade – foi o que fiz com única edição de Razão In-versa, isto porque foi um tributo póstumo a um dos maiores intelectuais que já conheci, a um grande amigo, porque na verdade está em Testamento Público a proibição de minhas obras serem divulgadas, veiculadas na cidade de Diamantina tanto em vida quanto em morte.  Ouço reconhecimentos e verborréias, continuo a minha trajetória de escritor, a minha responsabilidade, a minha missão é escrever. Não faço parte de academias, não ando em rebanhos. As minhas universidades em Letras, Filosofia, Mestrado em Filosofia ensinaram-me e muito bem a saber que importâncias na cultura e nas artes são feitas de obras e não de vaidades, pernosticidades.
Sugiro a esta digníssima senhora, a todos que me chamaram de “babaca”, “Zé Mané” e outras cositas, que se olhem no espelho e vejam com sobremodo nitidez e transparência o que realmente são: um nada de ângulo obtuso. E, terminando, reconstruo alguns versos de Bob Dylan na música Masters of War: “A senhora  acha que as importâncias que ostenta a todos os ventos vai lhe devolver a alma quando já estiver a sete palmos de fundura? A senhora acha que Deus vai lhe dar o perdão de suas hipocrisias só porque escreveu um livretozinho?”.
No mais, continuo produzindo obras e fazendo a cultura e as artes de minha querida Curvelo, sendo reconhecido e considerado um dos grandes escritores da História e da atualidade.       
   
Manoel Ferrreira Neto.

(28 de janeiro de 2016)

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