**SETE SABEDORIAS DO SUBLIME** - Manoel Ferreira


I



Sete luzes iluminaram o beco sem saída,
Sete diamantes riscaram o éter do tempo,
Sete ovelhas pastaram no campo de trigos e milhos,
Sete desejos re-nasceram das cinzas, vivos tecem as linhas da realização,
Sete velas queimaram-se nos castiçais em louvor às glórias da esperança,
Sete achas na lareira fizeram as chamas para esquentar o frio do inverno,
Sete estrelas guiaram o carneirinho até encontrar o seu rebanho, léguas.



II



Sete vezes me olhei no espelho antes de con-templar a luz que nele incidia,
Sete pedidos fiz à lua para inscrever as seis letras de meu nome ao seu redor,
Sete palavras escrevi para nadificarem as dores trazidas no peito,
Sete amores vivenciei, antes de colocar a mochila nas costas, partir para
O Verbo da Verdade de sentir os Sonhos seduzirem o Tempo do Ser.
Sete versos compus, ensejando mergulhar no In-finito, para re-viver
O "nous" do sublime, enamorado da sabedoria, seduzido pelo conhecimento,
Sete olhares lancei à distância, esperando a benção de vislumbrar
As arribas dos êxtases e volúpias de sentir as divin-itudes da fé
Nas travessias das nonadas às ampl-itudes do universo
Sete vazios perpassaram-me a alma, enquanto, à beira do abismo,
Recitei a oração poética do logos da vida, querendo a razão de ser.



III



Sete suspiros emiti aos pés da cruz, sentindo os ventos de minh´alma
Perpassarem os pretéritos vividos, seduzindo o tempo a entregar-me
A chave para abrir as portas do Templo do Ser,
Sete silêncios a-nunciaram-se-me no deserto,
Sete felicidades re-velaram-se-me no peito,
Sete estrofes mostraram-se no seio da inspiração,
Sete intuições foram as sendas para versificar o amor,
Sete pétalas de rosas brancas e vermelhas exalaram perfume inebriante
Que me elevou às antípodas de todos os horizontes
Sete séculos ou até mais levarei para alcançar a cintilância da verdade.



IV



Sete selos selavam as cartas recebidas, dizendo a vida ser re-fazer
A cada instante o que foi vivido, sonhado, desejado,
Sete pretéritos enunciaram nas bordas do In-finito, voltadas para o além
De todas as dimensões da alma e do espírito, o que vem atrás dos ventos,
Raios de sol, relâmpagos, chuvas e tempestades,
Sete verdades, do amor, sonho, esperança, fé, con-templação do ser e do verbo,
solidariedade, cáritas, escreveram nas tábuas do eterno as etern-itudes de amar
Sete glórias nasceram no silêncio do deserto, anunciaram às luzes dos campos
e florestas a sabedoria plena do Uno ao entregar-se ao verso.
Sete cânticos executados nas liras, harpas, cítaras, musicalizados, ritmados,
melodiados à luz dos ecos da solidão, sussurro dos ventos, sibilos do silêncio,
compuseram os sons do espírito no seu instante de meditação da luz divina.
Sete êxtases do belo e da estética conceberam a genesis do pleno e absoluto
e as genesis do pleno e absoluto deram vida aos sete êxtases do belo e da estética.
Sete sinos nos domus do tempo de esperanças badalaram sete vezes os sons do silêncio e da palavra.



V



Sete tempos cobriram os horizontes na exaustão de fundirem a eternidade num punhado de instantes.
Sete cantos embalam os sonhos pelo tempo, sete sonhos embalam o tempo de
cantos, sete tempos embalam cantos nos sonhos.
Sete invernos e desertos hão de arrebatar o eterno e a luz, e será a hora de doar os segredos.
Sete mãos modelam o infinito e a simplicidade das coisas, trans-cendem as formas e os acenos, saboreiam a vida e a morte.
Sete flores abertas, repletas ainda de segredos, revelarão o sonho dos amantes,
Sete poesias me cumprem como a águia cumpre o risco, o bico, cumpre o traço que verseja, versifica.
Sete pedaços de esperanças recolhendo as lágrimas, estabelecendo o limite do bem e do mal.



VI



Sete fontes, em cujas águas o sol, estrelas e lua incidem raios e brilhos, esplendem o há-de vir do itinerário dos rios, da trajetória até o encontro do mar, onde serão a limpidez e cristalino do eterno e absoluto.
Sete taças de cristais, contendo o vinho de todas as dimensões sensíveis, contingentes e transcendentais, no banquete às bem-aventuranças das querências e fé, embriagam a alma de desejos do Ser e do Verbo.
Sete homens hão-de decifrar enigmas, conhecer segredos (não degredos), amar como nunca o olho que vê além-contingências o espírito do eterno.
Sete veredas tapetadas de flores silvestres serão os sonhos da travessia para o inaudito do silêncio, ininteligível da solidão, e na floresta branca o amor será o néctar que saciará os desejos perenes do prazer e felicidade.
Sete metáforas do ser e não-ser, do nada e do tudo, do eterno e do efêmero, do inolvidável, versejarão a estética da razão/vida, dialética da iluminação.
Sete abismos, ao longo das montanhas e serras, serão o palco e o cenário do banquete lunar, dançarinas as estrelas, deuses e deusas amando-se livremente ao toque suave dos ventinhos advindos da profundeza.
Sete rosas de prata acolhem o universo, no seio da ninfa nasce uma roseira.



VII



Sete sou nos versos e re-versos do tempo, sete me re-crio nas estrofes e inversos do verbo, sete me projeto no arco-íris de cores cintilantes, e sete sigo as linhas do horizonte.
Sete corujas cantam na madrugada a noite da sabedoria à espreita do alvorecer absoluto do espírito de ser.
Sete aclives e declives por onde trilhar, apascentando as ovelhas, levando-as a saciar a sede na Córrego dos Cócitos do Eterno.
Sete genesis de sendo-em-sendo iluminando os caminhos para o louvor e júblos do tempo.
Sete desejos de ver na sa que se move sob o céu a força que a move.
Sete braços que se erguem para o adeus a dor que o eleva.
Sete sabedorias do sublime que elenco no espírito para a vida ser o verbo das esperanças e sonhos.



Manoel Ferreira Neto.
(30 de janeiro de 2017)


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