MARIA ISABEL CUNHA ESCRITORA PINTORA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O AFORISMO 852 /**VENENO QUE NÃO MATA CONCEBE MAIS VIDA**/ - PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL#



Logo na introdução do texto, o seu autor apela para a noção de convexo, o que nos leva à incompletude do mesmo. Este necessita do côncavo. Os dois formarão um todo. Este prelúdio para nos levar à noção do amor verdadeiro ou pleno, o qual necessita de um companheiro ou complemento, sem o qual seria incompleto. Assim sendo, seria egoísta pensar no amor sem ser eterno, ter esse companheiro para a eternidade e na eternidade. Esta é a ânsia de todo o bom amante, aquele que ama de verdade. Com esta declaração o autor declara-se um bom e sábio amante. No entanto, o autor declara que mesmo o amor eterno seria entediante se nada mais houvesse para além. Acrescenta que para além do amar existe o verbo do ser e elege estes dois sentimentos como os fundamentais para o Homem. Não obstante há ainda conceitos que não consegue definir, as denominadas "convexas pinturas, góticas imagens" que sente mas não consegue ainda definir em letras ou palavras, as tais "meninas veneno" que o incitam a mergulhar, a pesquisar mais profundamente. São difíceis, por isso veneno, mas meninas porque o aliciam a prosseguir, eis a justificação lógica que encontrei para o título. " veneno que não mata concebe mais vida" ou como o adágio português: " o que não mata engorda". O autor determinado a prosseguir na sua pesquisa, através dos aforismos. Brilhante. Parabéns.


Maria Isabel Cunha
(11 DE JUNHO DE 2018


#VENENO QUE NÃO MATA CONCEBE MAIS VIDA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Con-vexas pinturas ornamentam as nuvens azuis celestiais - digam, estou-me nas tintas, que "nuvens celestiais" é pleonasmo vicioso, pois só no céu existem nuvens azuis; dizem que lá em cima tudo é ilusão de ótica, não existem nuvens, um vazio sem limites -, quem dera houvesse alguma possibilidade de re-presentá-las em si mesmas nas letras.
Góticas imagens anunciam-se-me nos interstícios da alma, sin-estesiando-me de ternura, afeto, afeição, e digo com toda a pompa, envaidecido: "Amar é in-fin-itivar os verbos dos sentimentos que perpassam os abissais bálsamos do ser..." Ainda pensando e sentindo que não abordo o amor que em mim mora, habita-me a "casa do ser", digo: "Amar é sin-estesiar os sonhos do por vir, ad-vir-, vir-a-ser, de modo que o "eu" e o "outro" se pres-ent-ifiquem, o nós se humanize, sonhe a etern-idade".


Nada mais egoísta que ser eterno sozinho, nada mais solipsista que a etern-idade sem amar, chato passear pelo in-finito, universo, horizonte sem uma companheira, "companheiros até na etern-idade". Sou eterno no mundo, sozinho não sou, o amor que aqui descrevo é a minha verdade. Vivo-o plenamente com a companheira, mas ainda não é completo, quero com ela a eternidade - tranquilos e serenos, longe das con-tingências da vida, vamos viver de piqueniques pelos elísios campos da eternidade, passeios de mãos dadas, elo silvestre in-fin-itivo do além. Assim penso e sinto: o amor que alcança, atinge a eternidade as portas e janelas do além se abrem insofisticamente - também é óbvio: um casal de amados ficar só pela eternidade acaba em tédio, o além, a diversão que sin-estesia inda mais o amor.


Trocar de oxigênio. Amar não é o único supremo sentimento do homem. Há outro: o verbo do ser. Amar e verbo do ser são os supremos sentimentos. Mas só se conhece o verbo do ser, vive-o em absoluto, se se amar com o amor do sonho da eternidade.


Con-vexas pinturas, góticas imagens. O mundo é pequeno demais para mergulhar profundo nelas, mas sinto-as no mais abissal de mim, são as minhas "meninas veneno".


Veneno que não mata, concebe mais vida.


(**RIO DE JANEIRO**, 11 DE JUNHO DE 2018)


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