Degraus do infinito.


O desejar liberta: esta a verdadeira doutrina com que me id-ent-ifico. Assim deseja a minha vontade criadora, o meu destino. No meu conhecimento, sinto apenas o prazer da minha vontade de procriar e evolver; e, se há ingenuidade no meu conhecimento, é devido haver nele vontade de procriação. Que haveria para criar - se houvesse deuses. Más e anti-humanas chamo as doutrinas do uno e perfeito e imóvel e sácio e imperecível. É apenas uma imagem poética. Os poetas falseiam, mentem a si mesmos: são uns imbecilóides! O homem nobre impõe a si próprio o dever de não envergonhar os outros com os seus versos mesquinhos. Os meus pretéritos romperam seus túmulos, alguma dor sepultada viva acordou: tinha apenas dormido, oculta em funérea mortalha. É chegado o tempo! O meu abismo move-se e o meu pensamento me morde, comem-me as idéias.


O tempo que desejo são ramos e folhas verdes, viçosos, sem distância, sem long-itude numa estrada cristalina, numa trilha de solo íngreme, rachado pelos raios de sol, senão quando é mister atravessar os campos.


Liberdade é uma esperança traçada no peito de uma coruja e seu eterno canto na madrugada à luz da eternidade projetada de imagens límpidas de perspectivas. E fazê-la cantar é recriar silêncios e outros silêncios conceber, gerar, dar a luz a in-audictos, inter-dictos. A liberdade chega-me tão dentro de minh´alma que as palavras a dizê-la sabem ser ilusão medíocre aproximar-se dela, estarem perto dela.


Águas límpidas na íris - minha prosa é a alma ardendo nas chamas do desejo da verdade, entrelaçado à face oculta da palavra sendo universo de cores, tonalidades, formas colossais, na face oculta dos símbolos e signos a luz da liberdade habita silêncios e cumplicidades, solidão e correspondências.


Sorrio à esguelha, mergulho profundo nos recônditos do além, rasgo solene as páginas pretéritas das ilusões, fantasias, peregrino no campo de gerânios lívidos, acompanhado das cintilâncias do perpétuo, a leste de minha visão a caliência da liberdade que me perpassa a sensibilidade da vida, o sensível transcendente do espírito, o cognoscível contingente da alma...


Por que não me sentir sozinho nesta jornada, se o eu de mim recria as sorrelfas do pleno, se o mim do sou poetiza a prosa da contingência nos passos, passos a passos, vazios de alamedas que perscrutam o pretérito presente do infinitivo, degraus do verbo auspiciando a esperança-vazio da sublim-itude metafísica do tempo que entre-laça almas gêmeas, que as inscreve nas pontas das estrelas, e o ponto-instante revelando os cinco taos do sou-ser de meus sertões de veredas e sonhos, vida seca no útero do ad-vir, porvir, vir-a-ser da magia?


Amanhã serei quem sou, a vida que as letras me reservaram, a liberdade que o tempo consumou na minha alma.


(#RIODEJANEIRO#, 15 DE JUNHO DE 2018)


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