#AFORISMO 879/ A LIBERDADE COMPÕE A SOLIDÃO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



"A liberdade do ser-livre se de-monstra a partir do que se pensa e sente, com dignidade, honra, caráter, personalidade, embora as dores que criam nos corações" (Manoel Ferreira Neto)


Espero a chuva miúda cair na minha cabeça, no meu corpo, enquanto à distância as pretéritas imagens do tempo que a-nunciaram este instante-limite de volúpias, êxtases do amor, ponto-limite de esperanças, ipsis da utopia do belo, litteris da quimera do eterno - imagino a cor roxa profunda se sintetizando, harmonia, sin-cronia e sintonia, com o branco leve, suave e o verde viçoso, respingado de orvalho sob as perspectivas do sensível -, que, inda incompreensíveis, ininteligíveis à luz dos sentimentos ad-jacentes aos verbos do sublime, trans-cendem, trans-elevam a mim ao in-fin-itivo cristalino do ser, nada de vazios esvoaçando livres por entre as cores vivas do arco-íris, nonadas de solidão perpassando solenes a imensidão do horizonte.


Acordei, acendi a luz do casebre, abri a porta, sentei-me à soleira, fiquei contemplando a madrugada. No frigir do tempo, a morte à míngua? O que senti era, quiçá, carência humana. O medo da morte ingente! Fome e procura de um eu imaginário e que, sendo outro, aplacasse todo aquele ser em-ser. Que esperava ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas campinas do etéreo?


Na travessia dos momentos de alegria, teço de lágrimas pujantes o que fora possível compor de versos a felicidade da real-ização. Vim do nada, venci as contingências, vivi a plen-itude; as cinzas, de mãos dadas com o vento, sobrevoarão rios, lagos, florestas, abismos, e cada molécula será testemunho de vivenciários e vivenciais desejos do amor pela verdade, pelo ser.


Há homens que nascem póstumos e morrem eternos, perpétuos, inda que num tempo ad-verso aos seus ideais poéticos e prosaicos, inda que num momento re-verso à razão e intelecto, num instante in-verso às ciências e religiões. Comigo aconteceu o contrário: nasci eterno, o póstumo tive que criar, inventar nas situações e circunstâncias do quotidiano de buscas e querências, inda vou postumar no além as efemérides do espírito da vida.


Eterno... Póstumo... Dimensões trans-pretéritas que ins-crevem nos solstícios do efêmero as sagradas letras do que é cumprir uma missão, mesmo sob as intempéries do não-ser.


Surrealismo linguístico... Simbolismo estilístico... Expressionismo metafísico... O que isto importa? Que importa esta leitura, análise na passagem do póstumo ao eterno? O que mesmo diz respeito, incólume e insofismável, são o amor ao ser amado, a poesia nascida dos sonhos, o espírito da vida, a liberdade de expressar o "ser-livre"... haverem composto a verdade dos idílios e sorrelfas.


(#RIODEJANEIRO#, 15 DE JUNHO DE 2018)


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