#AFORISMO 914/ PALAVRAS OBLÍQUAS E OBTUSAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto:



O que você espera...


Aplausos por suas letras de não, por suas poesias de nada?
Louvores por sua cegueira, por sua alienação?
Encômios por sua hipocrisia, por sua falsidade?
Busto de mármore em praça pública por sua falta de
inteligência, visão de mundo?
Três tapinhas nas costas por suas idéias retrógradas, por
seus ideais chinfrins?
O meu sorriso de orelha a orelha por suas trafulhices, por
suas viperinidades?
Compaixão e comiseração por não ouvir as vozes da
carência, da desolação?
Faça-lhe uma dedicatória manuscrita por sua negação e
refutação aos princípios éticos e morais?
Teça-lhe um tributo por sua insensibilidade e indiferença
ao sentido da vida e do ser homem?
Glorifique-o por abraçar as seitas mefistofélicas vestidas
de verdades eternas, moral e ética lídimas e probas?
Reverencie-lhe com diplomacia e humanidade do ser por
se haver feito, por ser ovelhinha de rebanho, o rebanho é
o porta-voz da dignidade, honra?


Eis-me equivocado... são palavras oblíquas e obtusas:


Não espera de mim qualquer atitude ou ação neste
âmbito, conhece-me as antemãos e revezes, seria
despautério irrepreensível que realizasse isto na íntegra e
inteireza, e perda de tempo rogar-me, ruminar-me,
clamar-me.
Não espera de mim dizer-lhe única palavra no que tange
a estas questões, refutar-me-ia respondê-las por
haverem sido feitas de modo errôneo. Por que não
espremi os miolos poucochito mais e elaborasse o que
mesmo desejava que respondesse.
Não espera de mim dar-lhe inda que meio voto de
confiança, enfim os homens somos imperfeitos, porque
não é você quem atribui, professa, confessa todas estas
características que habitam a minha alma, sou quem as
digo. O dever de seguir outros rumos é meu, sou
obrigado a fazê-lo, se quero ser chamado de homem, não
é seu dever o juízo, o julgamento.
Poderia não haver se manifestado, dizendo-lhe tudo isso,
silenciar-me teria sido mais inteligente e de bom senso, o
que digo é de responsabilidade minha, não lhe pedi
qualquer explicação.
Nada disso esperava de mim. Seria que esperasse de
mim todas as virtudes, valores, dignidade, honra, caráter,
personalidade, assim se manifestando, parabenizando,
louvando, reverenciando, tributando, encomiando,
puxando o saco? Estou sendo ingênuo, inocente, tolo por
fazer este questionamento, sabendo que, se me atribuo
todos os valores, virtudes, honrarias, a responsabilidade
é de todo a mim exclusiva, Por que você teria de
endossar?


Eis que estais com toda a razão em responder-me, pois que é a verdade absoluta, não apenas sua. Não tenho o dever e o direito do juízo, do julgamento. Quais forem os juízos, julgamentos, são do indivíduo mesmo. Olho do alto para mim mesmo e para as minhas estrelas. Preciso descer o mais fundo do que algum dia já desci. Preciso con-templar com mais percuciência o meu destino.


(#RIODEJANEIRO#, 29 DE JUNHO DE 2018)


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