#AFORISMO 901/ SARAPALHAS MEIGUICES DO INFERNO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Amar-me é ter comiseração de mim, aquele dó pungente e radical. Quiçá um dia, lá para a consumação das etern-idades e etern-itudes, alguém in-vestigará os anais de minha história, escreverá as re-fazendas inteligentes e profundas para me esquivar dos juízos e censuras, tirar-me-á todos os véus das prepotências, arrogâncias, orgulhos, fugas e viperinidades, inda de sacanagem corroborando a ilusão de estar contribuindo para o novo homem, re-construindo os preceitos morais, dogmas éticos. Estou-me nas tintas para isto, não porque já serei cinzas, e cinzas não são eivadas de sensibilidade, são desprovidas de sentimentos e superego, sim porque começarei a reinar no meu próprio reino, serei o deus de meu além. Nunca pensei no que há para além dos dons e talentos de engabelar as imperfeições que me habitam, desejei sempre curtir os prazeres e volúpias do instante-limite da angústia, vazio, náusea, o nada ser a pedra angular da liberdade. Eu que nunca perdoei, desculpei, justifiquei atitudes e ações, tergi-versei o olhar para a criação e invenção do eu-nada. O nada de meu "eu" não me faz pensar nas dimensões da fortuna do outro.


E aqui escrevo sem querer pensar, cogitar, fria perfeição de engenharia sintática, gélida arquitetura verbalística, a sintaxe e o verbo são perspectivas do tempo na produção do sonho de palavras que se eterizam e re-nascem no des-vendar do caráter enigmático e melancólico do silêncio. O segredo desta linguagem habita e reside no auscultar os sons da voz da incerta vida. Assim desperto em mim emoção e empatia com o aqui-e-agora, o outro que me multiplica em id-ent-idades diferentes para me compreender, para decifrar o mundo e, também, provavelmente, para me ocultar. Um homem inquieto, como todo aquele que busca entender o ser humano.


Re-conheço que tudo isto é cômico, criam esperanças falsas, afeições fingidas, e que a parte mais cômica e risível disto tudo sou eu. Eu-próprio acho graça, mas, digamos assim, é o palhaço que me habita. Quem me tirará este prazer do picadeiro das contradições e despautérios? Já até disseram ser eu implacável, tenho sempre argumentos para as situações e circunstâncias, mas o coração é de pura manteiga.


Sentimentos afluem livres, tranquilos, à mercê das dimensões sensíveis, sarapalhas meiguices do inferno, ode aos valores que eternizam, sátiras às in-verdades e mentiras que glorificam as exegéticas heresias da con-tingência e das facticidades dos verbos, tributos às hipocrisias e falsidades que saciam a fome e sede da solidão, cristalizando o não-ser, o que é a eternidade senão ilusões e paixões desvairadas, alucinadas e alucinógenas.


Obtusas sorrelfas de compactas glórias, volúveis quimeras de ínfimos poderes, voláteis fantasias de pequenos conúbios entre sonhos e desejâncias, egrégias efígies ornamentam templos de falácias e verborréias, atrás das constelações a imagem suprema de infinitivo resplendor re-fletida, às ad-jacências do crepúsculo, mistério do outro lado do perpétuo.


Bertas turpa clara rila
Bone mora sen dasfera
Nacli suna, sora culo


In-auditas idéias re-criam de in-versas mentiras das in-verdades as miríades de luzes resplendendo lâminas de verbos defectivos que conjugam com excelência as pectivas do etéreo, e as corujas no silêncio da madrugada de sereno de inverno harmonizam o canto circunspecto e introspectivo das melancolias do que aos poucochitos e cavalitas se perdeu no tempo, das nostalgias de éden que a-colhe em si dentro as dimensões futuras das conquistas e realizações por intermédio da liberdade de sentir e pensar, de se lançar à busca da vida, na querença do sublime, as cintilâncias das estrelas velam as poeiras da estrada sobre as folhas das pequenas plantações, as poeiras da metafísica da razão.


Furtiva falácia do credo in-verso versando "ipsis caliptus" do absoluto sob a contra-luz de obtusos éritos do infinitivo, a fênix re-nasce das cinzas, as sereias desfrutam o movimento das ondas do mar tocando as docas, felizes e alegres, con-templando os oásis do deserto com a doçura do lince dos olhares, gaivota sobrevoa o vale, enquanto o saci-pererê baila à beira da lagoa, Mefistófeles é crucificado atrás do montículo de terra, roda-viva de lendas e mitos.


Nissu poli rela sana
Dola yara pera vola
Sisla matra kina tora


Verbos prosaicos de interditos significados e sentidos per-fazendo dimensões sensíveis do silêncio e solidão que performa vestes dos retalhos e vestígios da imagem das veredas que con-duzem à paixagem do universal contemplado dos auspícios da colina sob a chuvinha fina e lenta que cai e o vale das orquídeas se re-veste de lâminas de águas. Brindar para re-cordar as meiguices insolentes do inferno que desejam as volúpias do prazer da entrega ao querer a sublimidade das flores da liberdade.


Koru lala lesse tana
Fuli gras mardi es gale
Lota pen ela luga sus imo
Rena pala rele tala.


(#RIODEJANEIRO#, 25 DE JUNHO DE 2018)


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