#AFORISMO 898/ PROSCÊNIO ABSOLUTAMENTE VAZIO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto AFORISMO



Articular os fragmentos e re-integrar a essência na aparência, eis a vida que sobre-ec-siste além da morte.


Na quietude e silêncio de minha alcova, onde me refugio para poder pensar e sentir as experiências espirituais ad-quiridas com a visão do vale de areias brancas, no cume da montanha, percebo que o espírito da alcova não é mais o mesmo. Ninguém pode imitar o particular. Todos podem imitar o uni-versal.


Luz, sentido e palavras... Viver febril. O coração forte, descompassado. Tudo, nada. Vazio, caos, abismo. Luz, sentido e palavra. Sons, inter-dictos e letras.
"Acabemos com isto e
Tudo mais,
Ah, que ânsia de ser rio
Ou cais..."
In-ventemos com isto e
O que mais for,
Ah, que fissura de ser fonte
Ou genesis...
Palavra, sentido e luz. Nada, vazio. Espreguiçam-se em ressacas.Vácuo. Subterrâneo frouxo. Eternidade. Fosso chilro.
"Quem é sensível sabe,
Ou ao menos já soube,
Onde coube o paradoxo".
Pequena passageira que fala, gesticula, monologa, goza. Forças para amar. Além do medo. Disposição para ouvir. Além das resistências, dúvidas. Sensação de sonho. Natureza diferente. Cor-agem para viver. Além das inseguranças, carências. Êxtase. Razão e raciocínio. Segurança para pensar. Além de pensamentos e idéias. O campus cria segunda realidade para habitar. Olhar desviado. A luz rodopia sobre a cabeça. Tudo suspenso. Loucura e insanidade. Sangue no corpo. Conheço o som de caixão. Morte... Morte...
Luz, sentido e palavra.
Palavra aqui, outra ali. Reflexos. Contingência. Especulo, medito e reflito.
"Desço desta solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde..."


O proscênio absolutamente vazio. O tablado nu.
Pequena estiagem que disfarça o olhar fixo numa alegoria ou num pó. Única vela que retoma santos num símbolo nu, num signo despido. O país prende a respiração. Salmos na igreja de Cristo estendem os braços... Desejo recente, forte, definitivo.


Luz, sentidos e palavra... Ruas imersas em sombra progridem da arte a consciência humana.
Solidão. Delito inconsciente. Correntes internas. Tudo. Vento. Mudo vestígio do caos. Silêncio, silêncio, silêncio... Muros mitológicos de sonhos.


Perscrutando folhas e flores primaveris, orvalhadas da alma, pressinto em mim miudezas de sensações que de pers em pers, iríadas em iriadas, éresis em éresis do não-ser nasce o in-verso precedendo o verso, surge o re-verso antecipando a verdade às sara-palhas do vai-e-vem que é concebido de gerúndios, particípios, in-finitivos das ilusões e idílios a-temporais, a perfeita leveza do ser.


Quê sujeiras o vazio deixou - vento-bordas do perpétuo! Inimaginável!... Indescritível!... Inconcebível!!! Vento algum vindo de algures leste digna-se a soprá-las aos confins dos horizontes. É entregar-me solene e solícito nos braços parnasianos das insolências de saber-me desprovido, destituído de essências. Entrega que não tem fin-itude.


Ergo-me para uma nova manhã – o meu caminho é feito de caminhar -, docemente viva. Minha felicidade é pura, transparente, como o reflexo do sol na água do lago. Cada acontecimento vibra em meu corpo, como pequenas agulhas de cristal que se estilhaçassem inteiras. Depois dos instantes curtos e profundos, vivo com serenidade durante largo tempo, compreendendo, recebendo, resignando-me a tudo. Meu rosto é leve e impreciso, meu olhar é sereno e indiferente, a respiração encontra-se lenta e comedida, boiando entre os outros rostos, olhares, respirações entre os outros rostos vazios e opacos, seguros, como se eu ainda não pudesse adquirir amparo e conforto em qualquer expressão. Todo o corpo e alma perdem os limites, perdem as estribeiras, matizes e enredos, misturam-se, fundem-se num só caos, suave e amorfo, lento e de movimentos vagos como matérias simplesmente viva. É a renovação perfeita, a anunciação pura e a criação solene.


Seria que a imperfeição perfeita alucinasse, fascinasse, extasiasse por a perfeição ser mera quimera, imaginação fértil?


(#RIODEJANEIRO**, 24 DE JUNHO DE 2018)


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