#AFORISMO 851/ É SOBRETUDO NO INFORTÚNIO QUE O SILÊNCIO ABRAÇA OS HOMENS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



"O silêncio é verbo num pro-jeto poético-pensante, des-velando-se para a luz" (Manoel Ferreira Neto)


Post-Scriptum:


Um dos sonhos proeminentes do escritor é definir os caminhos de sua obra, esclarecer-lhes, tornar-lhes transparentes. Tarefa árdua, pois o que sabe e conhece dela é mínimo. O infortúnio é aquele instante em que isto se torna consciente. Mister dizer a obra, mas antes há-de ser consciente de quem se é no mundo, com as verdades em mãos feitas distribuindo-as na tinta da pena. Advém o silêncio: meditar, refletir, pensar, tese, antítese, sín-tese de uma vida, pensamento, atitudes reais.
Lembra-me aquando criei este texto num botequim na cidade de Curvelo(Minas Gerais), instante de muitas dificuldades, problemas, angústias e temores. Cônscio de todas as situações e circunstâncias. Havia de sentir o silêncio nas palavras, na vida já diziam e muito. Após escrito, num passo de mágica tudo se trans-formou. Exatamente o instante em que a vida e a obra se sincronizaram, sintonizaram, harmonizaram-se.
A lição fora primordial: não é suficiente, não basta apenas ter consciência, é preciso a atitude da consciência. Meditei, refleti, pensei.


É sobretudo no infortúnio que o silêncio abraça os homens! Endosso solenemente.


Manoel Ferreira Neto
(11 DE JUNHO DE 2018)


Amplexos do silêncio infeliz...


É, sobretudo, no infortúnio que o silêncio abraça os homens; abraço de compreensão e entendimento, a promessa transparente de libertação, de "humanidade do ser", de busca, de encontro, suficiente a entrega; abraço de carinho, ternura, a certeza nítida de aconchego, de desejos, vontades, sonho de traduzir as emoções, bastante a esperança e o amor pelo sentido da vida; o silêncio é verbo num projeto poético-pensante; abraço de compaixão e solidariedade, firmeza e confiança nos interesses e propósitos reais de conhecimento, sabedoria, cabe-lhe só a entrega absoluta e radical à Vida. Sem escrúpulos. Sem pejo. Sem vergonha.
Uma pequena palavra surgida de súbito, em princípio, sugerindo apenas que fora pensada para que outras viessem à soleira, modifica por inteiro o sentido, o estilo, a linguagem, revelando sua força e sua perspicácia, acompanhada de vivacidade e inteligência, para um mergulho muito mais profundo. A palavra fora “talvez”.


O que é isto de, talvez, os que mais conhecem os amplexos do silêncio conhecem sob que águas caladas e profundas descansa a tênue camada da vida quotidiana, a frágil episteme da sabedoria uni-versal. Disse-o antes, e, de imediato, faz surgir em cena uma dúvida, desconfiança. Talvez é quem conhece, sabe o que eles significam, o valor que possuem, na vida; quanto aos outros homens, a humanidade, não o sabem; a intenção é justamente despertarem para esta certeza da vida, para a convicção de se estar no mundo, sentir-se-ão realizados, felizes, contentes.
Não é que nunca tenha percebido os amplexos do silêncio infeliz em momentos de problemas enormes, insofismáveis, indubitáveis, problemas que, de todo, envelavam qualquer promessa de alegria, de felicidade, qualquer esperança em um futuro o mais próximo possível. Não lhe restou outra alternativa senão a de mergulhar neles, re-pousando a face em suas mãos em concha, e assim pôde constituir esta verdade em sua vida: “É no infortúnio que o silêncio abraça os homens”. Desde então, em horas difíceis e complexas, entrega-se à meditação, à reflexão, nos braços do silêncio, retornando deles apto a seguir a sua jornada, apto a conjugar e regenciar o tempo e os ventos. Sente-se vivo, forte.
Só diante deste pensamento de no infortúnio é que o silêncio abraça os homens pôde perceber que não é o silêncio que se sente infeliz, é o homem que o sente, e os abraços daquele é que o tornam feliz outra vez, pronto para continuar o seu itinerário à busca do sublime e do eterno. Mas não seria verdade também que o silêncio possa se sentir infeliz frente às situações e circunstâncias, às arbitrariedades e gratuidades, aos erros e irresponsabilidades do homem consigo próprio?


Aí, as vozes todas que habitam o silêncio calam-se, sequer um sussurro, cochicho, murmúrio.
Manoel Ferreira Neto
(11 DE JUNHO DE 2017)


(#RIODEJANEIRO#, 11 DE JUNHO DE 2018


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