#AFORISMO 857/ AUTO-RETRATO DE UM PALHAÇO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Recordações, sempre recordações, como se não fossem mesmo recordações. O
evocá-las é mágico. E ausência. Recordações e seus in-finitos elos
des-re-cordados. Re-volve o coração, prosa reta e inter-dita, poesia in-direta
e in-audita, traz de lá o que não tenho qualquer noção, o que não sinto
presente, o que não sabe a mente enovelada em si mesma, en-velada em seus
interstícios de mistérios, empanzinando de idéias, pensamentos, memórias,
planos, projetos - revolve o coração, prosa reta e inter-dita, dá-me o prazer,
legue-me a volúpia e êxtase, dá-me o que em mim é verdadeiramente, é
plenamente, é eternamente, é completamente! E tudo re-torna, como re-torno do
meu pretérito sono em cujo des-conhecido deslizava imagens, do nome que um dia
tive, re-criei-o com os fonemas sonoros das ondas do mar tocando as docas, do
que fui no tempo ignorado, do que não fui no instante-limite sabido - como
re-torna in-forme des-facelado, círculo mágico, chamas ardentes na lareira.
"Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição."
Em mim, outro homem nasceu e este homem agora sou eu, novos horizontes
me habitam, sonhos e esperanças outros perpassam-me os abissais recônditos da
alma. Onde estão aqueles mitos daquele homem passado? Onde estão aquelas idéias
e ideais daquele homem que desejava a verdade perfeita? Onde estão aqueles
mestres e sábios que ensinavam àquele homem a poética do espaço?
A solidão me cerca, fico em silêncio como um poeta que mora ao lado de
minha casa que na madrugada se senta à soleira da porta de sua casa, ouve o
latido dos cães, o canto dos galos, pensa na namorada distante. Só,
autopalhaço, faço tamanha alacridade que nem ouço as palmas que não batem para
mim. Espectador de mim mesmo, cerro as cortinas e com um toque (mágico),
(inaudito) de dedos faço surgir milhares de espectadores a ovacionar-me. Apago
a luz. Fecho os olhos. Conto carneirinhos para dormir o sono idílico da
esperança.
O que vejo não é real e o que sinto apenas circunstâncias. As verdades
amoldam-se às variações climáticas - agora é inverno, estou sensível, a
sensibilidade é a verdade, os pensamentos con-vergem num só ponto, mas
atravessam coordenadas diferentes. A consciência é um trapézio tripudiando o
equilibrista.
A prosa me cumpre e eu com ela me redimo das solidões e amplos apelos.
Não há verdades nos meus olhos nem destino nos meus passos. Só o passado, inda
que mais-que-perfeito, tão perto na distância, tão distante no espelho.
(#RIODEJANEIRO#, 13 DE JUNHO DE 2018)
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