#AFORISMO 863/ NO SILÊNCIO DO CALAR-ME, EMUDEÇO-ME# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Calo-me. Silencio-me. Emudeço-me. No emudecer do silêncio, calo-me. No
calar do emudecer, silencio-me. No silêncio do calar-me, emudeço-me.
Levo um grito sufocado encravado num sentir emudecido. Impossível
“re”-tê-lo, “re”-presá-lo por mais tempo: domá-lo. Estilhaço-me. A palavra, se
em represa, é um murmúrio de arribas, sussurro de confins, cochicho de alhures
e algures; se correnteza, brado, estampido.
Ando para a luz levando o fardo de desejos, esperanças de ver-me “ser”
nas linhas do espírito e eterno, esforço-me para não ruir, seco e falido. Se o
passado me dói no corpo e na alma, é só quando me aproximo dele com a alma de
presente, este é o sentimento latente. Fracas possibilidades de letras reais
nos sentimentos verdadeiros, de vozes imaginárias nas emoções re-criadas,
in-ventadas, esboçam-se e des-aparecem – quase verto lágrimas pujantes! -,
roendo entranhas, re-vezando mordaça, ruminando aparências, e a escuridão em
que tateio o trajeto arrasta correntes, mas sigo na busca des-esperada de me
ver sendo. Cada dia debulho uma letra de minha fala, perco-a nos sonhos, e dou
um passo para a distância. Breve me perderei no horizonte.
Sonhos da vida, degraus do infinito.
(#RIO DE JANEIRO#, 13 DE JUNHO DE 2018)
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