ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA TECE "MANIFESTO" ACERCA DO AFORISMO 698 /#AFORISMO 698/CADÁVER DA LITERATURA#/ CONTEMPORÂNEA#



Infelizmente, é o caminho que está a levar a literatura hodierna...o bom é encostado, fica refém e defunto é o que faz furor pelo lado negativo--- é que sai para as bancas. Para os ignotos, lógico que é positivo e os que pensam em ganhar dinheiro, que é a literatura do sensacionalismo…


Na rusticidade da comunicação e da globalização, estamos assistindo ao enxovalho das instituições culturais e da desagregação dos preceitos de autenticação de um trabalho de arte. Tudo é tão aligeirado que acaba no dia seguinte, os artistas vão sendo trocados com o passar da moda, ficam os empresários culturais e sua equipe. Uma tourada encolerizada atrás de uma “bisbilhotice”, que não há tempo para se arquitectar uma linguagem. O chamado “diferente” é a experiência descartável que não chega a traçar uma linguagem preparada, mesmo assim, é solenizado por uma apreciação que tem como norma de decisão conveniências pessoais e institucionais. A arte pode ser qualquer coisa, mas não são todas as raridades sugeridas científicas, particularmente os que são paridos à sombra de uma inexistência de erudição.


Vive-se um momento em que qualquer prática cultural: religiosa, sociológica, psicológica, etc. é agregada ao campo da arte pela inspecção de um outro profissional que detém algum domínio sobre a cultura, (tudo que não se sabe direito o que é, é arte contemporânea). Como tudo de “recente” na arte já foi consumado, o irresponsável hodierno existente na arte contemporânea suplica um “novo” e nesta indagação sôfrega do “novo”, práticas de outros campos culturais são incluídos no meio de arte como uma novidade. Deixando a arte de ser um saber particular para ser um entretenimento ou um ocasional cultural.


E assim, vai o mundo da literatura…mal se sabe escrever, mas escreve-se…e como diz o grande escritor Manoel Ferreira Neto, em mais um sublime escrito; Do tecido enroupando a peça
Sobeja o enfado do defunto
Ao termo dessa farsa
Hodierna, atual...


Ana Júlia Machado


Após haver publicado este Aforismo, conferi alguns "status-card" dizendo sobre a "humildade", "respeito", "vaidade": aquele hábito intelectualóide de alguns de mandar indiretas, a coragem de ser explícito jamais é tomada. Este métier de escritores, intelectuais está a cada passo decaindo mais, daqui a pouco a tão famosa catinga da França no século XVIII será "fichinha" perto da catinga deste métier de artistas, escritores, intelectuais, cientistas.


Não importa a mim se há quem diga estou a achar-me, sou o rei da cocada baiana, fiz do cano de minha botina cadeira do Olimpo, sentei-me nele. Tais considerações são vulgares, visto que são tentativas de envelar serem ovelhas do rebanho que está levando a Literatura abismo a baixo. Estou-me nas tintas, dizendo junto com os franceses.


Ser não é mostrar-se. A partir do final do século passado, século XX, as redes sociais e editores decidiram empreender nas vulgaridades da Literatura, enxovalhou-se a Arte das Letras de uma leva que pensa serem escritores, poetas, e nem sabem por onde anda a Arte das Letras, de conhecimentos algum são portadores, e sentem que abafam, aí sim sentam-se no cano da botina sentindo-se um imortal. Há poucos dias atrás numa entrevista Bial perguntou ao cantor e compositor Milton Nascimento o que ele achava da Música hoje. Milton Nascimento: "Não acho nada." Se me perguntassem o que acho da Literatura hoje, daria a seguinte resposta: "Há alguma coisa para achar? Acho que não."


E a Literatura assim vai se afundando no "bayou", na areia movediça, na lama, no lixão.


É de minha responsabilidade como re-presentante da Arte Literária e Crítica denunciar estes despautérios, levantar um porta-estandarte contra esta prática hodienda de enlamaçar a Literatura Brasileira com tantas vulgaridades, já é regra insofismável, os editores estão na linha de frente disto que denigre a Arte das Letras. E como você, caríssima escritora e amiga, enfatiza com categoria: "Tudo que é novidade é Arte e tem de entrar no domínio da Arte." A história conferiu às Artes o seu próprio Eidos, há características para algo ser considerado Arte, quanto mais as Artes Universais.


Amo de paixão o pensamento de Virgílio: "O que é a opinião diante da consciência." É minha consciência da responsabilidade que tenho com a Literatura. Sou contra o vulgarismo que está levando a Literatura a bancarrota.


De excelência, Aninha Júlia, o seu MANIFESTO em resposta ao meu Aforismo.


Beijos nossos.


Manoel Ferreira Neto


#AFORISMO 698/


CADÁVER DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


O cadáver sobre a mesa
Esse macabro cardápio
Recheado de mistério,
Ornamentado de enigmas,
Requintado de segredos,
Silêncios,
Congelado em pergunta,
Choro, rezas e velas,
sussurros ao pé do ouvido.


Compulsória serenidade
Ímpar figura na sala
O cadáver sobre a mesa
Foi de todos boa amiga,
Tolerante, compreensiva,
Humana, prestativa,
Justa,
Mãe exemplar, esposa,
Amantíssima fiel,
Boa pagadora, religiosa,
Excelente contadora de causos,
Egrégia declamadora de poemas,
Lugar garantido no Olimpo
mas por hora é cadáver
em postura circunspecta
frias mãos entrelaçadas
Blusa verde, saia branca,
rigor do traje completo
talvez use calcinha azul de renda.


É como um violoncelo
afinado para a festa
nos amplos salões da terra.


Em volta o tempo trabalha
A fisionomia das almas
Dos comensais taciturnos
Que à força de algumas lágrimas,
Apertos de mãos, palavras,
Tapinhas mudos nas costas,
Se conforma com a perda:
“A coitada descansou”
“pois é, parou de sofrer”
“pior é a gente que fica”
"estará sempre na memória de todos",
“pra morrer bastar estar vivo”,
"a vida é tão curta, tão passageira."


Alguns instantes depois
Dos passos lentos do féretro
Dos panos quentes dos pêsames
Do pano cobrindo a peça
Resta o tédio do cadáver
Ao término dessa comédia
Moderna, contemporânea...


(**RIO DE JANEIRO**, 22 DE ABRIL DE 2018)


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