#AFORISMO 689/PSICANÁLISE METAFÍSICA DO CHEIRO - ACENO DE ADEUS ÀS ORIGENS, NASCE UM NOVO HOMEM** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO SATÍRICO



Nada mais agradável que o cheiro das rosas, de preferência as brancas, tão agradável que o desejo é de cheirá-las até que cheire a elas; assim, no quotidiano das relações com as pessoas, sintam prazer os mais esplendorosos e inusitados, divinos e inestimáveis, com a minha presença, dizendo-me alegres e saltitantes: “Você, Nilson Serqueira, cheira a rosas brancas. Que perfume gostoso”. Se me faço entendido no sentido de que não tomei banho com sais de rosa, sabonetes importados  lá de França, mas de tanto cheirá-la, desejar tanto o seu perfume, e poder ser, assim, uma pessoa cheirosa intimamente, e nas atitudes com os íntimos, serena, entregue, a solidariedade de mãos que tecem o crochet de outros sonhos e esperanças.

Surgem as curiosidades de saber que perfume ou desodorante estou usando, onde foi que adquiri, na loja da Natura na Praça Benedito Valadares, em que loja fora, se encomendei da capital, se mandei buscar em Portugal ou Inglaterra – da curiosidade à inveja o limite é mínimo, o mesmo da loucura à insanidade, da insanidade ao bom senso. Não há como estabelecer o limite.

Toda pergunta merece a devida e sapiente resposta – muito comum aos professores, sejam de que disciplina forem, dizerem não existirem perguntas imbecis, existirem sim respostas cretinas, e são as que mais sabem dar com educação e finesse, enfim precisam conservar os valores inestimáveis, adquiridos nos estudos universitários,  leituras de obras importantes, experiências docentes.

O problema é responder ao questionamento feito sobre estar cheirando a rosas brancas. Dizer que, em verdade, não estou usando qualquer desodorante ou perfume. Óbvio, a manifestação de espanto, olhos brilhantes, um quê de desconfiança surgem logo. Outra pergunta: “Se não está usando desodorante, perfume, como é que cheira a rosas brancas? E é um perfume tão agradável”.

Faz-se mister preparar o espírito para  mostrar com transparência a seriedade, sinceridade da resposta, caso contrário entende-se como cretina, e isto causar insatisfação, raiva, ódio, mal-estar, até mesmo palavras de baixo calão, os índios veem a mentira da alma e do caráter no brilho dos olhos, por invisíveis que sejam. Dizer à pessoa que... "...embora a resposta possa parecer indelicada, absurda, mas a verdade deve ser dita. Visto as pessoas já me conhecerem, saberem que em determinados momentos rasgo os verbos com todas as letras, não me importando com as reações óbvias, torna-se complicado responder a questionamento tão percuciente, a razão de estar cheirando a rosas brancas." O que poderia alguém res-ponder a esta fala, nada senão silenciar-se pela consumação dos sonos eternos, tantas germinações e gerações do espírito e da espiritualidade. 

O fato de cheirar a rosas brancas se explica por tanto cheirá-las, passei a cheirar a elas, não me custara muito tempo. Pode ser que com outra pessoa isto leve tempo infinito, pode ser que morra sem o conseguir. Com esta prévia explicação, com a resposta dada com finesse, a pessoa não pense, julgue, de antemão às revezes, não haver sido agressivo, sua pergunta fora cretina, a resposta devendo não sê-lo. Então, o que fora apenas curiosidade torna-se inveja, a pessoa passa a cheirar rosas, não podendo ver uma, pulando muros de casas, de terrenos baldios, nas floriculturas comprando e levando para casa, colocando na sala de visitas, cozinha, alcova, para cheirá-las a todo momento, passando a vida a fazê-lo, sem conseguir, dizendo que fui privilegiado por Deus ou pelos deuses.

Aliás, se não for devidamente explicado, já disse com finesse e educação, a pessoa vai logo dizer, perguntar como é que na vida sempre senti o cheiro de coisas velhas e não cheiro a coisas velhas, ao contrário o meu cheiro é de ser humano mesmo, salvo nas ocasiões em que sou obrigado a usar perfume de grife. Deveria estar cheirando a coisa velha, a vida inteira sensível a isto; no entanto, estou cheirando a rosas brancas. E, embora se admita que uma res-posta como essa  jamais tenha acontecido há cincoenta anos, antes pouca estou-me nas tintas, tenha acontecido, ainda será "con-cebível",  "con-sentível" que alguém pudesse ter escapado de seu canto, pudesse ser renegada da in-justiça e do des-respeito, o assassinato livre, não se sai para assaltar e/ou roubar, simplesmente para matar, a vida do outro, o que é Isto, a minha vida, o que é?, todavia, porém, contudo, mas do seu silêncio, , certamente nunca.

Contra a sensação, "em princípio", não "a princípio", re-vés ao avesso de in-versos, re-verso ao in-vés de pó-eiras, de haver triunfado sobre ela, a res-posta, lembre-se e re-corde-se, com sua própria força interna e a consequente exaltação que tudo se dissolve, que tudo esvaece, que tudo derruba antes disso, nenhum poder terreno pode resistir a uma res-posta desta e resistir a um questionamento sobre a vida que no silêncio do adormecer se embrulha da utopia da verdade no sono das utopias e esperanças.

Caso seja destes espíritos percucientes, sedentos de transcendência, mergulham no cheirar o infinito, desejando que cheirem a ele, vindo a decepção, frustração, por mais que tentaram, fizeram das tripas  coração, não conseguiram, a percuciência espiritual que julgaram ser portadores dela jamais existiu, passaram a vida na mentira e aparência. O que todos agora pensam delas? Jamais alcançarão a transcendência, jamais se espiritualizarão, morrerão zero à esquerda, ângulos obtusos, prismas e visões oblíquos. 

Se for “analfa de pai, mãe e betos”, desejoso de cultura e intelectualidade, ouvindo isso de tanto cheirar a "coisa", o "o Ó", ele passe a cheirar a ela, enchafurda-se no cheirar a cultura e intelectualidade através das obras de autores imortais e eternos na história universal, ler a Bíblia de trás para frente, de frente para diante, do meio para as bordas e das bordas para o princípio, e das fronteiras o fim, o apocalipse. Pode até ser que consigam. Não me lembra mais quem dissera: “O melhor mestre é um bom livro”. Possível intelectualizar-se, sabendo que isto leva tempo infinito, mas a esperança é a última que morre. Cheirar à cultura e à intelectualidade nunca será possível. Sente-se-lhe o cheiro, o odor, o perfume, mas o cheirar é sempre uma ilusão, quimera, mas é mov-ente para o eterno.  

Risível mesmo é alguém começar a cheira uma flor, de cujo nome não me lembra – conheci-a na infância, no pasto da fazenda de meus saudosos pais -, mas o odor é mesmo de merda, por sempre ouvir as pessoas dizerem ser homem de merda, caráter e personalidade espúrios, comportamento e hábitos indecorosos, viperinos, até concordando com um artigo escrito no tablóide O Corvo, Viver é muito perigoso, por ele cheirar a merda, tirado da obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas,– precisa provar a si mesmo, certificar-se desta realidade, já que de outro modo não lhe é possível, passando a cheirar  a flor, e, quase sem esforço árduo, o cheiro de merda impregna-lhe por inteiro – pelo menos, serviu-lhe para se conscientizar do homem que sempre fora; o problema é transitar no quotidiano: enquanto merda de caráter e personalidade, mesmo que discriminado por alguns que conheçam o que é isto ter caráter e personalidade, mas com o cheiro de merda que adquiriu por desejar mostrar-se ser o que diziam, difícil transitar, a rejeição não é psicológica, é real. Só lhe resta enchafurdar-se em casa, esperando a morte com o cheiro de merda, até que o cheiro seja outro bem diferente, de carniça.

Agora, fico pensando nos historiadores, intelectuais, doutores, especialistas, ficcionados na cultura francesa do século XVIII; claro, é preciso muito estudo, espremer dos miolos para compreender e entender, para registrá-la com dignidade, sem entrar nas mediocridades da ideologia chinfrim, sendo real com os acontecimentos. Sendo Paris, neste século, a cidade mais fedorenta do mundo – meu Deus!... Dizem que a fedentina era séria, os parisienses andavam com os dedos da mão no nariz, tornou-se moda, estilo de vida.

Há aqueles historiadores, intelectuais, escritores, capazes de tudo para fundamentarem a história com primor, serem os que mais dignamente mostraram, homens que serão respeitados por todos os séculos, amém, e por toda a eternidade serem estudados. Para que isto seja possível, faz-se mister mergulhar na fedentina parisiense, explicando as razões políticas, sociais, individuais que culminaram nisto, não lhes restar alternativa senão se entregarem a cheirarem Paris até que eles cheirem a Paris. Fica sutil sugestão: leiam Paris de Balzac, quem sabe a obra possa ajudar a realizar os tão desejosos sonhos. Bem, deixemos Paris: leiam Corvello, de Bernardo Mendes, quem sabe possam com-preender a fedentina de coisas velhas em nossa comunidade.
 
Bem... Fica complexo, dificílimo, complicado saber o que os homens, indivíduos de nossa contemporaneidade irão pensar deles, mas, com certeza, dirão, com espontaneidade e liberdade, que o “habitat” deles não é o de hoje, são intelectuais que se esqueceram de cair duro e fedendo, prolongaram a dureza e fedentina até os dias presentes; e eles, ressentidos, magoados, humilhados, ofendidos, respondem com propriedade e categoria que a “fedentina” do século XVIII francês dera origem aos perfumes requintados e esplendorosos de nossa modernidade, dias atuais, custando fortunas inestimáveis, dependendo das empresas responsáveis pela qualidade do perfume que comercializam no mundo inteiro.

Assim, a ficcionalização dos historiadores em mostrar o século XVIII francês encontra justificativa, são justificados por mostrarem que as merdas da história podem ser transformadas a partir da determinação de transformá-las radicalmente.

Conforme esta lengalenga que venho escrevendo neste artigo para Razão Inversa, venho pensando em nossa história corvellana, no desejo de alguns – só conheço dois escritores um cronista capazes, portadores de inteligência e sensibilidade, de avaliar estas questões – de serem responsáveis e dignos com suas escritas em mostrarem as nossas realidades nuas e cruas, um deles espiritualista, o outro memorialista, dizem ter havido um metafísico, filósofo, mas não temos a sua obra, proibiu de sê-lo, a obra dele não podia ser comercializada, na própria terra, imagine só, dizem até que fizera o mesmo noutra cidade, mas ele criticava a escravidão ao destino pre-determinado, à cultura e conhecimento pré-impigido pelas movências de situações e circunstâncias.

De tanto cheirar os desejos e vontades de Corvello ser algum dia autêntico com os seus princípios, éticas e morais, povo que realmente honre e identifique sua vida, espero, ansiosamente, que passe a cheirar a isto, e a partir de então assista às transformações e mudanças reais em nossa sociedade – óbvio, no âmbito da política isto já está em andamento, resta intelectuais vestirem a camisa, mas apreciam mais ficar sem ela...

... mostrando o peito nu e cru, que não chama a atenção nem de prostitutas vulgares.
 
Ih, ih, ih…

(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE ABRIL DE 2017)🏑

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