#AFORISMO 685/ E A ÁGUIA QUIS SABER...# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



E a águia quis saber se a esperança a-colhe os sonhos calorosamente em seus braços, tornando-lhes utopias existenciais da liberdade e do amor, real-izando o Ser.


E a águia quis saber o porquê de o sol só olhar a lua, olhar introspectivo, circunspecto, nenhuma cintilância dirigiu-lhe.


E a águia quis saber se a consciência do nada é a semente do verbo do ser eterno.


E a águia quis saber a razão de o coelhinho ser símbolo da páscoa, sendo que coelho não bota ovos, inda mais de chocolate - que imaginação fértil é esta?


E a águia quis saber o motivo de a cobra não ter patinhas, arrastar-se pelo chão - seria que não ter patinhas aguçava-lhe intensamente os instintos?


E a águia quis saber a causa de a madrugada ser o início, nascer do dia, de só nela o orvalho umedecer as folhas, a natureza; a noite ser o fim do dia.


E a águia quis saber como o conhecimento torna-se sabedoria, a sabedoria alimenta os desejos do livre arbítrio, da liberdade, e como semeá-la no mundo, dando o fruto do amor e da paz.


E a águia quis saber o por quê de só as Artes libertarem os homens de suas contingências, abrir-lhes os leques de outras viagens adentro sonhos e esperanças.


E a águia quis saber só a água apagar o fogo, ser-lhe a inimiga congênita.


E a águia quis saber de que modo o machado e o tronco da árvore harmonizarem-se - não seria que para cada ação há uma reação igual e contrária?


E a águia quis saber o porquê de as gotas de chuva deslizarem-se no vidro das janelas, brotando no coração dos homens saudades, melancolias, nostalgias, aguçando-lhes a sensibilidade, criando novos sentimentos e emoções, outros desejos e vontades de liberdade.


E a águia quis saber a razão de o vazio re-colher e a-colher o múltiplo, ser a luz da totalidade, do absoluto, do divino.


E a águia quis saber o homem bom jamais dizer a verdade, ao lado da má consciência crescerem todas as ciências.


E a águia quis saber a história dos dogmas e preceitos haverem eternizado na alma humana, serem frutos apetitosos de ideias e pensamentos, utopias para o novo homem, para novos tempos.


E a águia quis saber que história é esta de a religião ser a salvação dos pecados, dos pecadilhos, ser o eidos da ressurreição, da felicidade eterna no paraíso celestial.


E a águia quis saber se as almas penadas do inferno queimam pela eternidade nas chamas da caldeira.


E a águia quis saber como é isto de a música trans-cender o tempo, sem a música a vida nada ser, tudo ser inútil, fútil.


E a águia quis saber se Deus destinou seu filho à morte na cruz para libertar os homens do pecado.


E a águia quis saber se uma amizade pode ser reconhecida perfeita e eterna se resiste ao fato de ambos os amigos serem escritores, poetas do mesmo gênero - e bons.


Querendo saber, alçou o seu voo milenar, sobrevoando florestas, bosques, mares, rios, abismos, vales, e continuará voando pelos milênios a fora, e só a liberdade do espírito humano será capaz de re-colher e a-colher as res-postas que ela cantará no espaço sem limites e fronteiras.


(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE ABRIL DE 2018)


Comentários