**TESTEMUNHO DE UM ESCRITOR POETA** - Manoel Ferreira


Nuvens que conheço, sombras que me perpassam. horizontes e uni-versos que me pervagam, rios de águas cristalinas que em mim per-correm, correm, de-correm, escuridões que me perscrutam: antípodas... Antinomias, paradoxos, hipérboles do sentimentos - não seja, quiça, modo e estilo de envelar algo íntimo?, requer tranquilidade para refletir, não é o instante, desejava saber o que é isto de tripudiar com o con-ting-ente, sentimentos dispersos para tripudiar com o pensar circunstâncias que estão arrancando do mais íntimo dores e sofrimentos, angústias. Reflexos de imagens pairando lívidos, transparentes, trans-extasiados, trans-excitados, seduzindo desejos, vontades, conúbio de luzes, madrigal de sons ritmando emoções, espectros a tornarem-se inspiração de linguagens e estilos, sons, ritmos, acordes, melodias, interditos da esperança da beleza, nas palavras versáteis do lúdico, verbos outros do in-verso sonho do pleno, re-versa sorrelfa do sublime, ad-versa quimera do puro, do verbo em sinfonia com a lírica do In-finito.
Talvez, suspenso no limite do inaudito e mistérios, não haja com-templado na metáfora dos pretéritos latentes as perspectivas de élans que incidem no além, na querença da verdade que se multiplica ao longo da composição das éresis do espírito aberto às cintilâncias do ser, aceno de soslaio para lua minguante, não me esquecesse do brilho, apenas a-nunciação que acende o pisca-pisca da alma que anseia o alvorecer do ser à bessa do a-temporal que ludica de miríades da harmonia, sintonia, sincronia os anti-verbos do poema, anti-poema do além-verbos.
Na lousa do imperfeito pretérito os sentimentos encalacrados aos ideais.
Manhã ensimesmada, nublada, nalgum sítio de mim a melancolia do infinitivo.



Confio a vós o meu paradoxo, o meu re-verso, o meu in-verso, o avesso de mim, o íntimo uni-verso de mim, os interstícios de meu horizonte, o meu excesso, o meu absurdo de dialéticas do sensível, do espírito e da razão que me empresto a imagem vária, as perspectivas inúmeras, a linguagem sem precedentes, o estilo sem igual, os hífens do intelecto e da sensibilidade que me dei, que inventei, que criei, que re-criei, que literalizei.
Diziam-me de imaginação fértil para as esperanças, sonhos, verbos da existência. Ser reprovado em Literatura, porque me não era possível assimilar os ensinamentos, afiguravam-se falsos, porque a Hora e Vez de Augusto Matraga era o tempo, sim era, mas o que era o tempo estava errado conforme os ensinamentos. Que gafe! De imaginação fértil e não poder saber o tempo de Augusto Matraga. Só podia dizer: “Não, não serei reprovado. A senhora pode escrever no seu caderninho, todos sabemos que o tem, alunos a quem persegue, que serei aprovado com distinção”. A promessa, os estudos. Precisava engolir todos os despautérios para não ser reprovado, objeto de chacota dos colegas. Chegaria o instante de saber o tempo de Augusto Matraga. Aprovado fui com distinção. Segui outros rumos, Matraga ficou para trás. Trouxe comigo o tempo, nele aproveitei seguindo as sendas, veredas dos verbos das experiências, vivências, da imaginação fértil, da capacidade de re-fletir, pensar.



Viajo terras distantes de mim, peregrino por florestas e mares, campos de flores silvestres, caminho bem longe de mim, do que sou, do que re-presento, além de meus sustos, espantos, surpresas, surpreenalém de meus questionamentos, buscas, além de meus desejos, vontades, além de meus sonhos, utopias, aquém de meus idílios e sorrelfas, confins de minhas fantasias e imaginações. O porto onde repouso é de vista para o Pórtico para o Impossível, além das águas do mar, bem além, ilusão de ótica dizer que no infinito as águas se unem com as nuvens, sim águas e nuvens se unem além do universo e horizonte, as veredas que sigo é esta. Longo caminho, a esperança do encontro, tão agradável quanto a brisa das manhãs no cume de uma serra.



Levo o meu rosto, a minha face, levo as minhas rugas, a minha seteira japonesa, Os meus olhos inquietos. Deixo o espelho e seu re-flexo. Deixo as perspectivas e suas cintilâncias alçarem voos nas asas dos verbos.



Em vosso rosto, oh poiésis de veredas e sendas, deposito o assombro de minha alma, de meu ser.



Manoel Ferreira Neto.

(26 de fevereiro de 2016)

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