/**CORAÇÃO DE SORRELFAS COMPACTAS**/ - Manoel Ferreira


Volúpias, sentimentos presentes pres-ent-ificando tristezas, alvorecer do dia. Trans-literalizar, trans-prosear. A alma silenciosa ouve as vozes da tristeza, ouve-lhes os lamentos, ouve-lhes as lamúrias, sussurros de ressentimentos, murmúrios de mágoas. Ouve, ouve, ouve... Não tem poder de trans-formar tristeza em alegria - pudesse ao menos afagá-las!
Êxtases, emoções vivas, o coração pulsando lento, não são lembranças, não são recordações, não são saudades de tempos idos, é o aqui-e-agora da vida. Pudesse ele, o coração, dizer: "É o nada que me habita agora". Nada, vazio, efêmeros estão distantes. Sentir-lhes nem mesmo por intermédio da fertilidade da imaginação, criação, fantasia, quimera. Coração de sorrelfas compactas, pulsa para sustentar a vida, siga ela a sua trajetória, não é responsável pelas con-ting-ências. Há-de se separar vida e con-ting-ências, caso contrário não se alça qualquer voo nas asas do nada, não se desfruta das luzes do In-finito, não se degusta das miríades de sons dos uni-versos. A vida abre seus leques todos para o existir com todas as dores e sofrimentos.
Guimarães Rosa diz que a vida é muito perigosa. Nas suas dimensões de sentimentos e espírito, é a verdade. Acredite a vida seja perigosa, nada me restará, este instante de aqui-e-agora trans-cendido todos os limites das forças, já estaria como vim ao mundo correndo pelas ruas e avenidas, gritando, uivando, coaxando de desespero. Acredito a vida tenha superar as con-tingências.
Triste, desconsolado, desolado, sou quem acorda neste alvorecer de outro dia. E lá vem a vida, após tantos minutos, para não mergulhar fundo, bem fundo no abismo, tecendo palavras, transliteralizando - falar verdadeiramente desta tristeza é mostrar as situações e circunstâncias desde tempos imemoriais -, vem a vida dizendo-me: "Filosofe, filosofe, filosofe..." Fácil, não é mesmo? Encher a tristeza, o desconsolo, desolação dos interstícios do espírito, é de lá que vem a Filosofia, foi lá a sua concepção. Encho a tristeza de filosofia de meu espírito, e daí? Também se recusar esta benevolência da vida, aconselhando-me a filosofar, arrancando-me dos recônditos do espírito, condenado estarei a passar o dia inteiro com esta tristeza imensa em mim dentro. A vida é pura benevolência e não um perigo inestimável. Enchendo-me da filosofia de meu espírito, trago de volta o nada, o vazio, alço voo profundo aos auspícios do In-finito.



Manoel Ferreira Neto.
(10 de fevereiro de 2016)


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