/**O HOMEM EM MIM: ESTRELA VÉSPER**// - Manoel Ferreira


Ser-tao de nada volátil, ser-tao de vazio volúvel, ser-tao de naúseas veladas de veludosas con-tingências do tempo, vacuidades in-fin-itivas verbalizadas de maresias, as verdades do ser custam o nada do tempo e a verdade do nada custa a cor-agem dos sonhos e esperanças.
Sentimentos ultrapassaram a capacidade, foram em demasia.Voz ausente, falhada, resta apontar o coração com empáfia e oratória, por que não com insolência e eloqüência? Por que não com percuciência e rebeldia? Olhar de viés o que é re-verso às fantasias, de soslaio o que é in-verso às quimeras, de esguelha o que é avesso aos sentimentos de esperança e fé, por que não com meiguice e arrogância? Por que não com humildade e orgulho?
Sin-estesias de ventos soprando poeiras que perpassam luzes - minhas vistas nublam-se - que perpassam luzes, quê magia dos mistérios do além!, ensimesmadas as perspectivas de visualização. Míticos rituais do efêmero, mistícas lendas do pleno, metáforas do nada reversando verdades do vir-a-ser, inversando origens do verbo, raízes do ser, espectros do não-ser incidindo sob o domus do templo, suspensos os ideais eternos das genoses do espírito. Reversos abismos inversando chapadões sob o velar vésper do não-ser que não é o nada e o nada que não é o não-ser.
Prolongo-me eu, hesitante e cheio de dúvidas, incertezas, angústia sem limites, entre o céu e o inferno com as forças dinâmicas e vivas, tristeza sem eiras, nada mais consigo ver, [quem sabe não deseje fazê-lo, não tenha vontade de esticar os olhos até o infinito!...abrir o coração até o que trans-cende os confins do sensível!], senão um monstro que devora eternamente todas as coisas, fazendo-as depois re-aparecer, para de novo devorá-las. Já perdi as esperanças, negligenciei sonhos, esparramei as utopias por todos os lugares por onde passei; sei que agora nas mãos feitas concha estão as esperanças, sonhos e utopias, sigo as alamedas solitárias e silenciosas - livre, quero ao mundo inteiro gritar: "Minha liberdade está em questão"
Liberdade. Com o abismo na alma. Profundos os mergulhos nas querências da vida. Pre-fundas in-auditas. Sin-estesias da solidão.
Não foi em busca de volúpia preguiçosa e culpável que comecei de me servir dos acontecimentos da vida, das contingências do ser, não-ser, não apenas me servindo de um Dom que me foi dado. Não foi à procura de êxtase efêmero que comecei de me servir das idéias do belo, dos sentimentos ávidos de beleza que me habitam, não apenas me servindo dos sonhos que em mim trago dentro. Foi para con-templar o outro de mim que mergulhei fundo no desconhecido, no in-audito, no in-inteligível, no in-compreensível, à busca de quem sou que me entreguei ao in-finito de versos e re-versos, in-versos e prosas.
Vertigem de me perder, de tudo negar, de não me assemelhar a nada, de quebrar para sempre o que me define, de oferecer ao presente a solidão e o nada, ao futuro as utopias e a esperança de encontrar a única plataforma da “Estação Liberdade”, onde os destinos se podem re-iniciar, ascender. A tentação é perpétua.
Lâminas simbolizam sentidos que se foram, machados metaforizam sentimentos que hão de vir, emoções a serem vividas, não pinto em nenhuma tela uma figura sem rosto, não escrevo em nenhuma página um “eu” sem imagem ou perspectiva, alcanço a mente quotidiana, trazendo à beira de um sítio qualquer do rio de águas límpidas sem mar-gen-tende ausência de pressa, porque rosas ou lilás com-binam sonho e espírito em mãos que se estendem à descoberta da comunhão... da síntese... Porque ventos ou sibilos aderem esperanças e utopias à margem das dores e sofrimentos.
Sonho, con-templação, comunhão, rosas, lilás ao norte: absoluto frescor que emana do próprio solo a cada passo que damos na embalada por silêncio combina o bambu que o vento quebrou (com) um galho seco de outono.
Sonhos que não passam de ilusões, [antes, e de maneira mais pura do que o poderia eu fazer, delineio esboços, o sentido e a imagem de um olhar, a miríade de uma perspectiva de horizonte longínquo, de uni-verso distante das estrelas e da lua cheia], entregar-me de corpo e alma aos desejos iluminados em seus valores eternos como imagem e como visão fugaz da própria divindade.
Quem sou, que me esqueço de dizer o nosso amor que anda calado, anda em passos lentos na areia fria, de por baixo dos pés? Quem sou, que me lembro de enfiar as mãos em bolsos de calças, busco o nada que neles se encontra? Quem sou, que me não re-corda ouvir os sussurros de vozes distantes em mim, a voz melodiosa do silêncio a rimar as esperanças de hoje e a fé de amanhã serem outros sentimentos, emoções? Quem sou, que me esqueço que o silêncio é que é o silêncio vivo? No silêncio, ergue-se a voz firme, deixo que no edifício que se ergue embata vento de re-novação. Na poeira, o milagre da existência humana. No silêncio da ordem universal, uma luta de vida precede todas as mudanças. Se a minha mão alguma vez misturou o mais antigo com o mais recente, a água com o trabalho, o caos e o cosmos, o fogo com a arte, como não hei de estar ansioso pela liberdade, sôfrego pelo brilho de sentir correr águas calmas e serenas por mim, como um rio por seu leito, e lá fora um grande silêncio como um deus que faz a sua sesta.
Luzes não são suficientes para iluminar a longa área de mato e capim que se estende adentro mistério entre árvores, galhos, esquecimentos, de alguém que, sentado no meio-feio, a noite segue seu caminho, se há outra significação para o pouco ou demais de olhos que desejam com que gestos ou modos de revelar o erro abstrato da criação, o engano metafísico do desejo do novo, e o silêncio perpassa momento difuso, profuso, completo de viver tudo de todos os lados.
Caminho para a ingenuidade - pouco importa se o relógio ocupa toda a noite, se o pêndulo bate as horas certas; para a inocência – a minha alma é simples e não pensa; para o in-criado - na eternidade, não há tempo; a eternidade não é mais que um instante, cuja duração não vai além de um sorriso muito mal esboçado no rosto; para Deus - uma porta que se abre e entra a vida para mim.



Manoel Ferreira Neto.
(22 de fevereiro de 2016)


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