/**AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA**/ - Manoel Ferreira

Subjuntivos... Particípios... Gerúndios...
Folhas secas caídas, húmus para outras, serão concebidas no tempo - flores, exalarão perfumes deliciosos, embelezarão a natureza, êxtases dos olhares. Folhas secas no chão hoje.
Palavra alguma se me re-vela, seco de palavras, nada de vernáculos, inspiração, sensibilidade elaborando, delineando com esmero o que lhes habita nas pré-fundas, os sentidos e luzes, que, trazidos à superfície, são numinâncias para a presença de novos genesis dos sonhos...
Seco de palavras... Para tecer o parágrafo anterior, quê angústia deslavada! Teci para preencher as linhas, nada dizem, valor algum tem. Deixar a pensa sobre a mesa, amparar o queixo com as mãos, ficar olhando, alheio a tudo, para o nada no distante da rua. O melhor seria. Desenhar letras no papel, toda acuidade com a legibilidade, com o gótico que re-presenta a sua beleza, aos linces de meus olhos e sensibilidade. Cumpre apenas passar o tempo. Nada mais. Valores literários esvaeceram-se.
Falta de inspiração é o único modo de isto ser explicado, entendido, compreendido - modo, mas será a verdade sem quaisquer linguagens de negá-la? -, e assim nada se há a fazer, é conviver com o incômodo que manifesta, esperar o retorno. Algo inexplicável: como ter escrito, preenchido estas linhas, sem quaisquer motivações? Amigos, efetivamente, vão dizer: "Você está querendo aparecer. Querendo aplausos. Escreve até mesmo sem inspiração, motivação, incentivo, e vale ressaltar que textos profundos. É muito chato quando quer
aparecer!"

Quem sabe as palavras hajam se re-colhido, mergulharam-se na eidética do silêncio que são e re-presentam, solitárias estão no cantinho, a solidão é-lhes a vida de agora, não consentem com a minha aproximação, querem-me distante delas. Respeite-lhes. Re-tornarão, quando foro o momento. Serão inda mais profundas. Sine qua non o recolhimento para re-nascerem, serem outras.
Elucubração... Fantasia... Imaginação fértil... Nada de falta de
inspiração, nada de palavras haverem-se re-colhido para renascerem outras. Esvaeceram-se. Secaram-se.

Nada há que se possa considerar nestas linhas preenchidas, contudo ficará registrado, testemunho de quê? De nada, em verdade. Não vou jogar fora algo que me custou angústia sem limites para ser produzido. Há coisas que nascem póstumas, tenham ou não valores que endossem, a posteridade que cuide de jogá-las fora ou re-colhê-las.
Deixando de lado palavras secas, falta de inspiração, as palavras se re-colheram para re-nascerem outras, sendo hoje tão alheio, nada me diz quaisquer respeito, tão indiferente, se o abismo se trans-cender, tornando-se paixagem no In-finito, estou-me nas tintas, poquissimo se me dá. Já-já o anoitecer, virá o sono, estarei dormindo.
Aquela velha e eterna coisa: "Amanhã será outro dia..."

Manoel Ferreira Neto.
(08 de fevereiro de 2016).

Comentários