/**E A NEBLINA FLANA NO NADA**/ - Manoel Ferreira


Intros de pecções sublimes vislumbrando o nada que fala livre e solto na neve, nada mais esplendoroso e mágico por todo o inverno não será trapézio, trampolim, ponte para o In-finito, a neve cobre toda a trajetória, itinerário até lá. Quem sonha, cria e re-cria todas as utopias da liberdade em atingir este pampa santo do uni-verso, onde degustar as divin-idades do verbo e do ser, terá de esperar a primavera, à mercê das chamas da lareira, às voltas com a memória eivada de lembranças, saudações.
Encolheram-se até os instintos mais primevos. A chuva cai forte neste instante, de repente um raio seguido de trovão, um bêbado dá de fuça com o chão. Encolhi-me, o que nunca fiz na vida diante de raios, trovões, relâmpagos. E eu escrevendo sobre o nada que flana livre e solto na neve, tempo de refestelar-se, está exausto de tanto con-duzir as almas ao In-finito.
Estou tão estupidificado com o raio seguido de trovão, as palavras tremelicando escafederam-se, só a pena desliza no papel, a mão segue-lhe solícita e compassiva.
Não mais qualquer trovão, relâmpago, a chuva apenas caindo, aliás diminuiu bastante. Por que o raio seguido de trovão justamente quando escrevia sobre o nada flanando na neve, livre e solto? Sei a resposta: as con-tingências da vida ainda mais pujantes e eu com a minha poesia. Deus me castigando pela falta de solidariedade. Não foi somente eu quem se assustou com o fenômeno, o b~ebado deu com as fuças na calçada.
Perdi o rumo das coisas. A pena segue delineando caracteres nas linhas da página, nada sei do que é registrado.
Raio seguido de trovão: que estardalhaço! Se Mefistófeles ouviu, com certeza enchafurdou-se nalgum cubículo do inferno. Os meus instintos se encolheram.
Sentia-me em estado de êxtase com o nada flanando livre e solto na neve, escreveria algo além de todas as inspirações, e vem o raio seguido de torvão, tirando-me a iluminação. Por mais talentos e dons habitem-me, por mais a inspiração transcenda todos os limites, inda assim não serei capaz de recuperar, resgatar a idéia do nada flanando na neve. Tudo o que a pena registrou desde o fenômeno sentido algum tem, nonsense deslavado.
Longe de mim ser profeta de minha vida. Início de Quaresma e um fen^meno natural deste acontece, desvirtuando minhas idéias, encolhendo os meus instintos! "Deus, oh Deus, perdoai-me as sátiras, ironias, cinismos, sarcasmos. Prometo que de agora em diante serei adepto e fiel a todos os dogmas e preceitos da Igreja."
Só com um fenômeno assim no início de Quaresma para me fazer prometer fidelidade aos dogmas e preceitos da Igreja. Melhor isto que dividido ao meio por um raio, ainda sob as pornéias dos presentes: "Vivia dividindo as palavras na contramão das regras gramaticais. Está ai dividido ao meio por um raio, a alma fazendo companhia aos insurrectos e hereges da linguística no abismo do inferno". O que é a criatividade das pessoas: "abismo do inferno", e tais criatividade só no momento de trágicos acontecimentos.
A chuva passou. A tarde está agradável. Resta-me ir embora para casa, deitar-me, dormir. Quem sabe amanhã a iluminação seja inda mais divina: a neblina falne no nada e este se sinta mais regozijado, o friozinho perpassando-lhe as pers dos "stícios-inter", quê sensações deliciosas, Só Deus sabe o calor e suor que provocam levar as alma ao In-finito.



Manoel Ferreira Neto.
(13 de fevereiro de 2016)


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