**IRMÃO DO TEMPO, AMIGO ÍNTIMO DO SER** - Manoel Ferreira


Vejo, sinto o porto visto das águas, é bom tomar distâncias, elas aumentam o olhar, a alma voa mais livremente.
Posso viver, hoje, os caminhos, como se meu sorriso não fosse forçado. Posso falar com o coração sem o medo de silenciar a boca. Posso fazer gestos, como se meus braços fossem velas ao mar, prontas a envolver luas e estrelas, universos e horizontes. Posso soltar a voz e olhar de frente para o futuro, para o afluir-a-ser, como um irmão do tempo, amigo íntimo do ser. Ainda que calejada pelo remo, minhas mãos trazem a textura de pétalas finas das rosas, pois, se se deram aos motivos do coração, pode haver algo mais sensível, mais suave de se sentir íntimo, de afagar no peito? Posso olhar o futuro sem as costas amarradas a nada. Posso viver sem ter que provar nada a quem quer que seja, de explicar isto ou aquilo, o perdão que a vida me concedeu. Sem justificar meu silêncio ou meu canto quando alguém apontar seu dedo em direção ao meu olhar, dar-lhe-ei minhas mãos, pois sei que os infelizes são os mais dignos de compaixão.
Mas o que mais dói é ouvir daqui que a maioria fez da vida uma canção, cuja estrofe possui apenas uma palavra: hipocrisia!



Manoel Ferreira Neto.

(18 de dezembro de 2016)

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