"Levando a vida..." é a resposta à delicadeza, generosidade à pergunta: "Tudo bem com você?"
Levar a vida morro a cima, quê penúria! Chega-se ao topo, a vida tranquila, serena, calma, não fez o menor esforço, e a pessoa pondo o bofe pela boca de tão cansada, a vida é muito pesada. Mesmo que a colocando atrás da carroça, a pessoa apenas conduzindo-a, o jegue chega no topo balançando as orelhas de tão fadigado. 
Mas se há de levar a vida. Leva-se-lhe ou ela leva. Pelo menos sabe-se para onde está sendo levada. Se nos leva, não sabemos para onde estamos sendo levado. Levamos a vida para os sete palmos conosco. A vida nos leva para o além, o além é imenso, amplo, a perder de vista. Despede-se e ficamos nós a flanar por todo o sempre, assistindo ao nascer do sol, às cintilâncias das estrelas, aos brilhos da lua, e só sentimos alívio, efêmero, deixamos de flanar, adormecemos suspensos no ar, quando um poeta recita um soneto que fala da eternidade sem a presença do eterno, do eterno sem a presença de etern-itudes. 
E quem responde à delicadeza da pergunta "Tudo bem com você?" com "Levando a vida..." olha para o infinito, para o universo, para todos os horizontes com aqueles olhinhos de pulga amestrada, neles a presença da esperança de a vida um dia levá-la, descansar de tanto peso, sentir o que é a felicidade, a alegria, o contentamento, a plena glória das dimensões sensíveis. Pura utopia! Enquanto no mundo, pisando o solo da terra, sempre levando a vida, e só depois da despedida do mundo e da terra é que a vida leva para o nada absoluto, no nada não há morro, serra, montanha, não há planície, não há campo, não há chapadão, não há pampa. 
E se houver, vindo de não sei onde, uma voz perguntando: "Tudo bem com você?", a resposta não será outra senão "Levando o nada. Leva-se-lhe ou ele leva..."



Manoel Ferreira Neto.
(20 de fevereiro de 2016)

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