**SILÊNCIO: INFINITIVO DAS ESTRELAS E LUA** - Manoel Ferreira


Dedico esta obra à minha amada sobrinha Izabela Ferreira Loredo com amor e carinho.

Razão de sonhos, desejos, calçadas alheias... Faço-me de barro no silêncio brutal da imensidão do céu, na solidão singela do panorama dos pampas. Faço-me de silêncios no infinitivo das estrelas, vastos cometas na entre – sala dos mares. Faço-me de solidões no subjuntivo da lua que emite brilhos na sala de visita dos abismos e vulcões. Faço-me de quimeras, fantasias, ilusões na inspiração de volúveis visões do trans-cendente sob as sombras pálidas do crepúsculo.

O in-verso intenciona o verso e funila o verbo e o amor desejado. Novas emoções nos olhos fortemente castanhos, brilhando intensamente, são a síntese de que nada morreu, antítese de que tudo por vir está no in-fin-itivo nada, tese do verbo tecer, da razão apurar, do espírito do acorde simples da canção da in-finitude. Delito inconsciente, que me impulsiona e faz com que eu pense nos lírios de um amanhã, talvez morto, fuzilado. Razão imperfeita, débil, que não pára de pensar e sonhar, que vive tentando decifrar os muros mitológicos das pirâmides Alfa/eros – ômega/thânatos, curtidos pelo chão contínuo da espécie humana, socializada e auto-destrutiva. 
Faço da arte um verso que grita e ama, da razão um in-verso que sente e deseja, do intelecto um ad-verso de utopias e realidades da alma sedenta de paisagens do horizonte. A minha ausência não será por sempre ausência, a minha presença não será por sempre presença. Meus versos in-versos, minha razão ao revés do tempo a suprirão ao longo da eternidade. Minhas prosas re-versas de tempo e não-ser, apenas desejos e esperanças re-presentando-se, supri-las-ão de sublim-itudes. Fica a impossibilidade temporal de querer ser terra, ser águas límpidas, ser trégua, ser espaço, ser água, ser o ser finito nas sombras do homem mortal que sou!, ser o amor, ser o divino infinito nas luzes do tempo que sou. Talvez não exista a metamorfose da fantasia dentro do sonho, do verso dentro da razão, do in-verso dentro do coração, do ad-verso no eidos do espírito, do re-verso no vazio do abismo. O que faço é criar, ser a fantasia que me habita, ser a fertilidade da imaginação, ser a utopia da con-templação da sede de conhecimento. 
Sou eterno amante do verbo. Sou verbo amante do eterno ser. Sou ser amante do verbo eterno. Não me limito na liberdade dele. Percorro a cidade sem celebridade para outorgar o presente, mas tenho o infinito para alcançá-la. Percorro os templos sem efígies para endossar o futuro, mas tenho o horizonte celeste para orar. Meu passado brinca nos campos silvestres, verdes ramos, vaga-lumes, cigarras, corujas. Que inocência! Que saudade! O rio silenciava-se ao cair da noite cinza, beijando o vale. A lagoa solitária ao amanhecer re-colhia e a-colhia os primeiros raios do sol.
Cores simbólicas na minha razão inversa, na fonte originária de inspiração, no verbo amar de meus sonhos, na minha vertente espiritual de ser o que sou perante a vida, diante de minha imagem re-fletida no espelho, a morte e a eternidade, o nada e a perpetuidade. 
As palavras por si próprias não são poesia. A razão por si mesma versa e in-versa o desejo de ser verso. Moro na elasticidade e confronto delas. A poesia corre, a razão per-corre, a poesia brinca, a razão trabalha, tece idéias, a poesia pula e chora, a razão saltita e ri, contempla o sonho que não é definitivo. Há uma fábula e um chão que se multiplicam. 
O mistério é o próprio mistério de mim. Sou o que sou. Fui o que fui. Sou quem sou. Fui quem fui. Nada mais além, nada mais além. Nada de inanimar a poesia, invertendo no verbo a razão do verso, fazer dela o estático e o esquecido, o mito e o místico, o ritual e a lenda do tempo no tabernáculo do tempo. Meu corpo tem movimento, a perna direita é puxada com tensão, é menor que a esquerda. Meus pés trilham os caminhos do campo. Minhas mãos compõem versos avessos à razão. Meus versos-razão metaforizam as efemeridades da imanência. Minha razão-verso re-presenta o efêmero do eterno, o eterno projetado atrás da superfície lisa do espelho efêmero de perspectivas. 
Navego sem indiferença: o sol e a lua, a dor e o gozo comprazem-se em mim. Poesia, uma simplicidade cheia de segredos, uma complexidade plena de volos do espírito. Prosa, caos na metafísica da ausência de res-postas e certezas. A gota vivenciária do orvalho, vazio na folha em branco, expandindo-se no silêncio contemplativo da razão de versos e in-versos, da sensibilidade de sofrimentos e dores. O universo descansa um segundo.
Metapoema! Metaprosa! Metalínguística! A minha memória será lembrada em tempos anteriores a quaisquer outros, e esquecida nas imagens de outros outroras melancólicos e nostálgicos, relembrada no vão de um dia solitário ou tumultuado pelo sabor da orgia, libertinagem. Um túnel contempla minha imagem, entreposta na vida e com um sorriso. Gravo a sutileza do possível, enquanto tenho tempo fértil, a inspiração viva e presente. Sou o mesmo sibilo de vento de entre montanhas. Sou a mesma sombra, a mesma ânsia, a mesma busca do verbo no sonho de amar, de amar no sonho do verbo, do sonho no verbo amar. A mesma concepção, a mesma fraude, a mesma insônia, o mesmo antemão de outras gerações conturbadas pelos canhões, metralhadoras. Anticanções. Anti-poemas. Anti-silêncios de sons inauditos.
Não tenho a pretensão nem o mistério de ser o que sou diante da estrela – invariavelmente fixa no céu negro. Retenho as poeiras da última viagem, do rio de águas límpidas fazendo maestria com a hora fatal da enchente... Reflexo e esperança, retalhos de fantasia apenas! Miríades de quimeras, imagens de sorrelfas, canto de forte sinfonia, cântico de óperas presentes na alma, espírito, corpo, veias em que nelas per-correm o sangue, melodia de vasta alegria.
A luz da razão in-versa cria imagens na minha memória e no meu ser; ao menor cochilo da noite e das metáforas, enquanto não vem o teor de sentir a realidade, flutuo dentro da solidão, e só. Sou indecifrável, inaudito, ininteligível. O destino - são meus os infortúnios. Quero esquecer o passado. Quero versar o presente nas veias de minha solidão, no sangue de minhas esperanças, na poesia de meus sentimentos, emoções, sonhos, utopias. Exijo aroma de liberdade, imploro não mais reviver o pó de um vulto, suplico a quebra dessa almusa não possuída, e só. 
Soltem dessa prisão cruel e incapaz. Eu sei, eu conheço, eu sinto, eu vivencio, eu vivo, só o faço e posso falar! De desejar-me assistido pelo horizonte, pelo uni-verso da razão, pela razão in-versa do horizonte, sem o elo do rio de águas cristalinas, do rio sem margens e pressa, no solo réptil, nem a sombra do belo que reina na distância dos meus sonhos: amar pura e simplesmente. 
Quem sou eu no caminho perdido, no meio do destino, no ninho de um pássaro, no húmus do jardim, no fragmento de mim, nas flores do existencialismo, nas orquídeas do simbolismo?
Quem sou eu no felino mistério, nas estradas onduladas, nas curvas sinuosas do tempo e dos instantes, do olhar de antes e pós desejos de con-templar o divino, imortal, eterno, até mesmo do etéreo que o diamante risca na razão in-versa do desejo de sonhos dentro de outros sonhos, dentro de outros sonhos? 
Quem sou eu nas fibras ásperas do mundo-girando-mundo, do filtro e sede da redenção, do tempero e fome do turbilhão rotativo de seres?
Eu sou, quem? Poeta! Quem sou eu no paraíso, no fruto proibido, no castigo, no perdão de Deus, na prisão e massacre aos judeus? Eu sou, quem? Escritor! Quem sou eu nas ondas do mar, no porto onde as gaivotas sobrevoam raso, na heresia, na rebeldia, na revolta, no espetáculo de decapitação de várias pessoas por serem cristãs, católicas? Eu sou, quem? Escritor poeta! Na vertente de estalactites das contingências da razão e da sensibilidade alumbro as a-nunciações do pensar e do existir, elenco as re-velações dos limites, instantes-limites. Poeta escritor! Na imagem dos templos de prata dos desejos, sensibilidade, subjetividade, sentimentos da trans-cendência, sensações do além, metaforizo o espelho do uni-verso onde o numinoso do espírito se re-fletirá.
Quem sou eu para beber a água que já foi cristalina, para comer a fruta que já foi pura, para caminhar o chão que já foi ilha santa, para consolar a multidão que já teve uma padroeira, para sonhar as gregorianas poesias que já foram heresias?
A indagação ameaça espatifar-se. O in-verso da razão multiplica-se. A razão do in-verso abre-se.
O vento de entre montanhas sibila o carrossel dos sentimentos e emoções.
Preciso dormir. Sonhar com o verbo amar. Sonificar as métricas do soneto inaudito da plen-itude.


Manoel Ferreira Neto.
(24 de fevereiro de 2016)



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